quarta-feira, 11 de maio de 2011

«Aviso aos independentes que restam»

(...) «Admitindo tudo isso, recuso aceitar, porém, que a vida democrática portuguesa se tenha tão profundamente degradado desde os tempos já distantes – e já tão frustrantes – que vivi no Parlamento. Apesar das raras e equívocas excepções das listas PSD que confirmam a regra geral, aquilo a que assistimos hoje é a um enclausuramento dos partidos políticos dentro das suas próprias muralhas.

«As candidaturas independentes não constituem, em si mesmas, uma garantia de abertura e diálogo com a sociedade (no meu tempo de deputado já não era assim, como tristemente concluí). Podem até resultar num aproveitamento oportunista de disponibilidades suspeitas e de clientelismos enviesados. Mas a independência e a liberdade de espírito são o único penhor de uma vida democrática mais sadia, introduzindo ar fresco na atmosfera bafienta das instituições paralisadas pelo servilismo da mediocridade.

«A perspectiva de um Parlamento onde tenderão a prevalecer, mais do que nunca, os alinhamentos tribais e acríticos dos partidos é o pior panorama que nos pode ser oferecido na mais negra conjuntura de sempre do nosso regime democrático.

«Restringindo-me ao campo político que me foi mais próximo, é chocante ver pessoas como Ferro Rodrigues a passarem um atestado de credibilidade política a quem conduziu o PS a um deserto de unanimismo e culto da personalidade, ao mesmo tempo que mistificava grosseiramente a realidade da situação nacional. Foram, aliás, homens outrora próximos de Ferro, como Vieira da Silva ou Augusto Santos Silva, que abdicaram, por mero apetite do poder, da sua autonomia de pensamento para se transformarem em autómatos da propaganda e do cinismo socráticos.

«A perda da independência económica que nos ameaça não pode ser separada da perda da independência dos valores éticos e das convicções políticas.»

Vicente Jorge Silva
http://sol.sapo.pt/ 9.5.2011

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