"Enquanto os três candidatos presidenciais - Cavaco, Alegre e Nobre - se afastam de qualquer contágio partidário; enquanto a oposição resolve unânime e oficialmente investigar o papel de Sócrates no caso TVI-PT e, de caminho, se ele mentiu ou não ao Parlamento; enquanto Aguiar-Branco fala em público de uma moção de censura, se no fim se entender que ele mentiu (coisa que não sucede desde 1889), enquanto isto se passa, começam a aparecer vozes, com algum prestígio, que pedem muito a sério o Bloco Central. Porquê? Porque é preciso um governo de maioria, para haver estabilidade e (uma nova ideia) para o PS e o PSD se vigiarem um ao outro. O "buraco negro" da política portuguesa, como lhe chamou Pacheco Pereira, leva ao desespero e o desespero ao absurdo.
"O Bloco Central (sob a presidência de Sócrates?) seria, como é óbvio, uma solução expedita para liquidar o regime. Como a crise não acaba com certeza tão cedo (2012? 2014? muito mais tarde?), um governo do Bloco depressa perderia a popularidade e, com ela, a "legitimidade de exercício" que uma coligação não pode dispensar. Ainda por cima, nada nos garante que o PS e o PSD fizessem juntos tudo aquilo que não conseguiram fazer sozinhos. Pelo contrário, o Bloco instalaria no principal centro de decisão os conflitos que normalmente se dispersam pela Assembleia, pela administração do Estado, pela própria sociedade (pelos media, por exemplo). O Bloco é a receita para a balbúrdia, a paralisia e o imparável crescimento da corrupção. É uma admirável receita para o desastre.
"Com uma agravante, se a experiência acabasse mal (como fatalmente acabaria), o que ficava? Nem o PS, nem o PSD, sendo ambos cúmplices do fracasso, ganhariam a maioria absoluta. A Assembleia continuava tão impotente e dividida como hoje. E o regime ficava com um único recurso, o Presidente, e com uma única aspiração, a autoridade. Devo admitir que este caminho me parece provável. O parlamentarismo, até o de Cavaco e o de Sócrates, faliu. Resta o presidencialismo. O Bloco Central seria um meio de o apressar, mas com certeza não mudava os dados básicos do problema e talvez mesmo o complicasse. É melhor deixar as coisas seguirem o seu curso, de preferência na legalidade. Como explicava o general, a Constituição é envelope, cabe lá o que for conveniente. E necessário."
Por Vasco Pulido Valente,
Público, 28.2.2010
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