"Marcelo Rebelo de Sousa ofereceu antúrios a Maria Flor Pedroso, pela 'parceria' dos domingos à noite.
"Muita gente questionava o aparato montado junto ao Teatro Municipal Baltazar Dias, na Avenida Arriaga, no Funchal. Perguntava- -se a razão. O que teria acontecido? Anda toda a gente demasiado susceptível devido aos acontecimentos dos últimos dias. Mas logo se passava de boca em boca a novidade. Às nove da noite, o professor Marcelo Rebelo de Sousa ia aparecer na RTP em directo da ilha. A maioria, para não dizer quase todos, desconhecia que este era o último programa das Escolhas de Marcelo. Mas foi.
"E agora para onde vai?", perguntam. Uma pergunta óbvia que horas antes tínhamos feito ao professor. "Vou para casa", disse ao DN. Sempre sorrindo, não disfarçava uma certa nostalgia vivida por antecipação. Afinal, Marcelo Rebelo de Sousa é um homem da comunicação. E viu-se nesta vinda à Madeira. O nosso encontro com o professor dá-se no final da tarde e no final da missa em homenagem às vítimas do temporal, na Sé Catedral. Apesar de Alberto João Jardim o chamar por várias vezes, o presidente do Governo Regional acabou por desistir e deixar o desabafo.
"Quer falar com os jornalistas, é isso? Bem, fique e fale e depois venha ter connosco." Marcelo era um homem visivelmente emocionado, um pouco nervoso, mas é difícil saber quando é que Marcelo está realmente nervoso. Mas tudo se congregava à sua volta para que os sentimentos saltassem à flor da pele.
"Ainda no adro da Sé Catedral, o eterno professor era abordado não só pelas autoridades regionais mas por muita gente anónima que o acarinhava. Ele transmitia palavras de consolo, motivação e até parabéns pela recuperação rápida do centro do Funchal, por onde andou a ver os locais mais fustigados pelas chuvas do dia 20.
"É simbólico fazer o último programa a partir do Funchal. Não é por acaso. Quisemos fazê-lo em solidariedade com os madeirenses. Mas é, também, uma forma de explicar a todos os portugueses o que realmente está a fazer-se. Eu vi as imagens desta cidade durante a semana e agora quase não reconheço", disse. Mas o que todos queriam saber era em que canal de televisão poderiam ver e ouvi-lo aos domingos à noite. Nesse capítulo, para além da ironia "vou para casa", nem um deslize, nem um palavra menos pensada, apesar da tensão e da pressão das perguntas. No fundo, todos estão acostumados desde os tempos a tê-lo por companhia. A hora do professor Marcelo chegou quase a ser "sagrada", vem dos tempos da TVI, seguindo-se quatro anos na RTP. Foi um homem concentrado, com o olhar um pouco triste, aquele que se sentou frente a Flor Pedroso e que no final lhe ofereceu flores da ilha. Mas, logo que as luzes das câmaras o focam, tal como o verdadeiro actor, e recebe o sinal "vamos entrar", é um novo Marcelo que atravessa o ecrã. Aquele que todos conhecem. Já no decorrer do programa, o professor, um dos políticos nacionais que conhecem bem a Madeira, assumia o seu novo estatuto de "cidadão comum", sendo que, a partir de agora, só poderia ser entrevistado nessa qualidade. A brincar, deixou ainda outra hipótese: a de consultor da biblioteca de Celorico de Basto."
por LÍLIA BERNARDES, Funchal
DN, 1.3.2010
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