quarta-feira, 15 de julho de 2009

Ricardo Rio: chegou a hora de mostrar que é diferente

(Agora sim, o tema quente do momento)

Tenho acompanhado com a atenção possível a polémica em torno da notícia do Diário do Minho e resposta de Ricardo Rio (disponível aqui) e, ao contrário de muitos, parece-me que está aqui uma oportunidade de ouro que Ricardo Rio não pode dar-se ao luxo de desperdiçar, se quer mesmo mostrar que é diferente, para melhor, do que quem (ainda) nos governa.

Antes de mais, conheço o Ricardo Rio, tive o prazer de conviver com ele durante alguns anos e acho que ele é um homem sério, honesto, trabalhador e inteligente. Mas isso não me basta nem interessa nada aos bracarenses, pelo que devo também sublinhar que, muito para além disso, as explicações que ele deu sobre o parecer encomendado pela Câmara Municiapl de Vila Nova de Famalicão são absolutamente claras e coerentes, quer no que diz respeito à alteração dos timings para a apresentação do parecer, quer quanto ao modo de pagamento (absolutamente comum), quer ainda quanto ao quadro legal decorrente da lei que regula a contratação pública.

Mas, ao contrário de muita opinião que sobre este assunto tenho lido, também devo frisar o seguinte: não me parece que esta notícia tenha qualquer semelhança com a pulhice (e acreditem que estou a usar uma palavra suave) que o Costa Guimarães lhe fez, há quatro anos, no Correio do Minho. Peço desculpa, mas as situações em causa são completamente diferentes.

Assim:

Há quatro anos o Correio do Minho imputou a Ricardo Rio a prática de um crime de peculato de uso, em virtude da circunstância de aparecer o nome Casa da Música no campo "Autor" das "Propriedades" de um ficheiro Word enviado em anexo a um e-mail, do qual constava um comunicado da Coligação. Alegadamente, segundo o "jornalista", tal provava que o referido e-mail tinha sido enviado da Casa da Música, pelo que havia peculato de uso, com direito a transcrição do Código Penal e tudo. Ora, para além da total irrelevância da questão, sucede que a circunstância de aparecer o nome "Casa da Música" como autor de um documento Word nas "Propriedades" deste não significa absloutamente nada. No meu portátil aparece "cliente", e eu nem me chamo "cliente", nem trabalho para uma empresa chamada "cliente", nem tão pouco sou "cliente" de mim próprio. E garanto-vos que sou dono do meu portátil, mas para o Microsoft Word - esse programa genial só comparável em genialidade ao genial Costa Guimarães - quem manda é o "cliente". Ou seja, o que Costa Guimarães fez há quatro anos, além de uma pulhice (que simpático que eu estou hoje) foi pura e simplesmente uma cagada em três actos.

Muito diferente é o que se passa agora.

Em primeiro lugar, não há qualquer razão para suspeitar do jornalista que escreveu a notícia. Salvo erro, é o mesmo que nos informou sobre o que se passou no Colégio dos Órfãos, facto que muito lhe devo agradecer, como cidadão, e que deveria ser suficiente para motivar algum tento na língua aos que agora querem, sem provas, colá-lo a um qualquer cargo de "vice-director do departamento de comunicação da CMB" ou algo do género. O jornalista em questão tem um estilo próprio, gosta de polémicas e não se exime de fornecer ao leitor a sua interpretação do factos de forma clara. Pode gostar-se mais ou gostar-se menos do estilo (eu gosto, sobretudo porque não é de meias-tintas), mas a verdade é que não colhe a desculpa de que ele possa ter feito um frete.

Em segundo lugar, e muito mais importante, aqui podemos estar perante uma verdadeira notícia. É que o Ricardo Rio provavelmente sabe - e, se não sabe, tinha obrigação de saber - que em Braga não se contam apenas histórias sobre o património de Mesquita Machado ou sobre os almoços no Expositor do Miguel Brito. Sim, também se dizem coisas sobre o Ricardo Rio!

E, nomeadamente (para não virem dizer que não fui clarinho como água) um dos boatos que circulam sobre o Ricardo Rio pretende sustentar que a imensa disponibilidade e as inúmeras horas dispendidas na construção de uma alternativa ao mesquitismo teriam um suporte financeiro que seria fruto do contributo de todos nós, e que chegaria aos bolsos do Ricardo Rio por intermédio de avenças e adjudicações (por ajuste directo, com não podia deixar de ser) de serviços de consultadoria económico-financeira e pareceres sobre as mais diversas matérias em Cãmaras Municipais governadas por autarcas do PSD. Já ouvi falar da Póvoa de Lanhoso, de Famalicão e do Fundão, apenas para dar três exemplos. Estes rumores têm um significado muito claro - o trabalho de Ricardo Rio na Coligação estara a ser financiado por "tachos" arranjados via PSD - pelo que quaisquer factos (verdadeiros, claro) que o possam indiciar têm interesse público inegável, devem ser notícia e o candidato deve ser confrontado com eles. Ponto final.

Ora, eu sempre gostei de ter mais do que uns rumores para apontar um dedo acusador, e continuo a acreditar firmemente que, ao mesmo tempo que conseguiu tornar-se o melhor líder da oposição que Braga teve nos últimos trinta anos, o Ricardo Rio também trabalhou, como todos nós, e sustentou-se a si e aos seus com os frutos do seu labor e da sua competência técnica. Mas não é por eu acreditar nisto que o assunto deixa de ser uma questão política.

Aliás, por o assunto constituir uma questão política muitíssimo relevante é que eu acho que o Ricardo Rio tem aqui uma oportunidade de ouro para mostrar que é diferente de Mesquita Machado e que, sendo sério (como é), não quer deixar que fique nas pessoas qualquer dúvida sobre a sua seriedade: por isso, o desafio que Ricardo Rio deveria abraçar de imediato era o de divulgar a lista de todos as avenças e de todos os demais contratos de prestação de serviços celebrados com Câmaras Municipais, Institutos Públicos e Empresas Públicas entre 2004 e 2009, mostrando assim que o discurso sobre a ética e a transparência se concretiza, antes de mais limitações e incompatibilidades, em atitudes de ética e de transparência.

Tal atitude corajosa seria uma bofetada de luva branca aos que agora se rebolam a rir com as notícias.

Mais do que isso, seria uma oportunidade única de mostar que é de facto diferente, para melhor.

Oxalá ele tenha esse rasgo, ao invés de cair - como parece que já caiu - na tentação fácil de culpar o jornalista. O que não deixa de ser - apesar da validade de todas as explicações dadas quanto ao caso concreto - uma forma de assobiar para o lado.

19 comentários:

Nuno disse...

Grande Rui,

parece que o Sol dos trópicos não te anda a queimar a moleirinha!
O texto está bem alinhavado.

Na minha modesta opinião de leigo na matéria, acho que o tal jornalista deitou uma casca de banana ao RR e ele espetou-se!... Mas, nada de grave! Quem é que nunca se espalhou ao comprido?

Lembro-me duma vez em que ía na rua, em Lisboa, e o passeio era estreito. Cruzei-me com uma senhora já com uma certa idade e, para lhe dar passagem, ao chegar-me para o lado, passei para o lado em que o passeio subia um pouco (talvez por causa da raiz duma árvore). Ora, a calçada à portuguesa estáva muito polida...

Eu escorreguei e cai!... espalhei-me ao comprido. O mais engraçado é que a senhora ficou-se a rir!...
...E eu, o que é que podia fazer? Estáva lixado por ter malhado e fazer aquela figura, mas,..., não pude deixar de sorrir. E fui à minha vida.

O RR não devia deixar-se picar! A malta daqui do Norte não percebe de touros? Isto é como nas touradas: o touro ataca e às vezes é preciso pegá-lo pelos cornos, mas, outras vezes, basta desviar-nos um pouco e deixar a besta passar...

(PS: continuo à espera do teu regresso para irmos tomar uma bica! Claro que se o Paulo nos quiser aturar, é bem vindo!).

Rui Moreira disse...

Ahahaha, grande Nuno! É isso mesmo! Também estou convencido que, com calma, boa disposição e uma atitude diferente do comum o Ricardo espetava um belo par de bandarilhas aos que o querem denegrir. Até porque, como digo, se é verdade que as explicações dele estão correctíssimas sob o ponto de vista jurídico (no caso concreto noticiado), não deixa de ser verdade que ele não pode ignorar que o rumor existe. E os rumores são cobardes, mas nós devemos enfrentá-los com coragem.

Conheço uma pessoa a quem ouvi dizer um dia que um boato é como uma almofada de penas: se o forro se desfaz, podemos andar a vida toda a tentar apanhar uma pena aqui, uma pena ali, mas nunca as apanhamos todas: mas se qusermos refazer o colchão temos que tentar apanhar o máximo.

O homem que disse isto há quase 10 anos chama-se Miguel Brito. Disse-o no dia em que abandonou o pelouro na vereação, dando origem à investigação sobre a fortuna pessoal de Mesquita Machado, de que agora tanto se fala.

Um abraço, está combinada essa bica!

Ah, e eu continuo a querer-te como bloguista do Rua do Souto :)

Nuno disse...

Antes bloguista do que bloquista!...

Ainda assim..., fico na dúvida se aceitam "emplastros deconhecidos"...

Paulo Novais disse...

Concordo que o Ricardo Rio tem aqui a "tal oportunidade de ouro" para e, parafraseando o Nuno, desta vez pegar a besta pelos cornos. Senão veja-se as noticias de hoje sobre o "Caso MM".
Ainda mexe e promete fazê-lo por mais tempo ainda.
Ricardo Rio, tem aqui a oportunidade, quem sabe, de definitivamente provar e captar os ainda algo titubeantes para a sua candidatura.
A ver vamos se esta achega lhe vai bater à porta.

Paulo Novais disse...

E venha lá esse café, caro Nuno.
Será uma boa oportunidade de recordar as segundas-feiras à noite.
Abraços.

Nuno disse...

Paulo, esperamos pelo Rui ou vamos já tomar o café?

Paulo Novais disse...

Vamos já, porque não.
Não perco uma oportunidade para falar contigo um pouco.
Já te ligo.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Paulo Novais disse...

Tenho pena quando sou obrigado a tomar a decisão de apagar qualquer comentário do blogue.
Temos um principio de que todos podem dizer aqui "quase tudo".

Ao anónimo que fez aqui o comentário anterior que foi removido apenas tenho uma coisa a dizer:
- abstenha-se de fazer aqui comentários como os que acabou de fazer. Existem aqui muitos bons post e comentários que dão origem a alguma celeuma e troca de ideias. Se não for muita coisa para a sua "inteligência" leia-os e tente percebe-los.
Pode ser que aprenda algo que lhe permita escrever mais qualquer coisinha do que a "parvoíce" anterior.
Vá lá que não custa nada.

Rui Moreira disse...

Paulo:

Agradeço o zelo, mas gostava mesmo de saber o que é que o comentário tinha de tão grave para ter sido apagado sem que eu tivesse sequer a oportunidade de o ler. Há alguma maneira de, pelo menos, ler o comentário no blogger?

A minha costela pela liberdade de expressão é tramada :)

Abraço

Rui Moreira disse...

Chamou-nos nomes feios, foi? :)

Paulo Novais disse...

Rui:

Não foi uma questão de zelo, foi mesmo uma questão a roçar o insulto.

Nada tem a ver com liberdade de expressão, tem mesmo a ver com "parvoíce", como aliás disse logo no meu comentário.

A minha costela também. Mas tem limites ao que é liberdade de expressão :-)
Como tenho a certeza que também a tua.

Não existe forma de recuperar ou ver comentários apagados. :(

Rui Moreira disse...

Agora fiquei curioso :)

Ainda me vais dizer o que é que o anónimo escreveu, ou não?

Esta questão ainda não se tinha colocado neste blogue - já se colocou em muitos e dá lugar a tantas divergências que até já houve cisões em blogues por causa disso. Colocou-se agora no Rua do Souto, por isso temos que encontrar uma forma de lidar com isto: ou criamos regras uniformes e claras, que possam ser conhecidas pelos nossos leitores, ou então deixamos ao critério dos adminsitradores, ou da pessoa que assina o post, ou da pessoa visada pelo comentário (neste caso, e como tu estavas aqui em diálogo com o Nuno, nem sei se o visado era eu ou um de vós).

Abraço

Rui Moreira disse...

Até já tenho saudades de um bom insulto à moda de Braga, aqui em Angola o máximo que me chamam é "pula de merda" :)

Paulo Novais disse...

Claro que te digo. Da próxima vez que falarmos. se fosse repetir aqui estaria a ser hipócrita e incoerente.

Quanto ás regras para o blogue tu e que decides pois o blogue é teu. E também acho que és a pessoa mais ponderada para o fazer.

Embora ache que para já é prematuro pois este incidente não passou de uma areiazinha na engrenagem.

Mas outra vez "you're the boss".

Queres ouvir uns palavrões para matares saudades? Que tal Sócrates, Mesquita Machado, Partido Socialista... bem podia continuar mas acho que já te tirei a água da boca.
Abraço

Rui Moreira disse...

Achas que sim? Nem pensar, o blogue é NOSSO! Decidimos em conjunto, era só o que faltava!

Mas que estou curioso, estou :)

Abraço

Eduardo disse...

15 - 0 (tento anulado) para a equipa da casa.

Paulo Novais disse...

Eduardo. Não foi tento anulado. Foi mesmo "expulso" com direito a uma suspensão.
Como já tive oportunidade de lhe responder (link em baixo) o critério neste blogue é o de deixar qualquer pessoa comentar (dentro dos limites da educação e da boa conduta, claro).
Assim, tudo o que for aqui colocado com linguagem ou intenção ofensiva e malcriada será apagado. A liberdade de cada um de nós acaba onde começa a liberdade do próximo.
Como infelizmente muita gente ainda não sabe viver em democracia e guiar-se por boas condutas, é provável que o "score" aumente mais ainda.
C'ést la vie.

https://www.blogger.com/comment.g?blogID=8793703985264757927&postID=4870965041950423304&isPopup=true

www.braga-agora.blogspot.com disse...

Boa tarde.
Só agora vi este texto no seu blog que considero acima da media de outros congéneres que existem em Braga, a começar pela coragem e franqueza leal de assinar o que escreve.
No que a mim diz respeito, apenas lhe quero lembrar o seguinte:

1. Ricardo Rio apresentou queixa no Tribunal de Braga contra mim e o jornal, acusando-me de um crime de difamação e abuso de liberdade de imprensa.

2. Apesar dos testemunhos arrolados — cerca de dezena e meia de militantes do PSD e ex-colegas de trabalho na Casa da Música — por Ricardo Rio, as provas documentais apresentadas por mim foram suficientes para o Tribunal da Relação me absolver os crimes de que era acusado pelo candidato do PSD à Câmara de Braga. Esta é também uma notícia que nem Ricardo Rio "passou" para os jornalistas da redacção do jornal que frequenta nem estes entenderam que era notícia.

3. Onde vislumbra o senhor a pulhice? Em quem denunciou o (ab)uso de bens públicos para fins partidários ou em que (ab)usou esses bens?

4. Este mundo da poítica não é a tropa —onde a velhice é um posto — mas para onde muitos querem ir, eu já conheci o caminho...

5. Já muitos me julgaram como o sr. mas "é a vida...!" que se há-de encarregar de lhe mostrar que estão enganados.
Costa Guimarães