segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Outro ponto de vista


por Acácio de Brito

 “A Liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro. Uma vez que se reconheça isto, tudo o mais virá por acréscimo”(George Orwell)

Alguém que pretenda governar deve ter, pelo menos, duas características, entre muitas outras: a capacidade de previsão e de escolha. Prever, porque o que se exige a um governante é o anúncio de uma realidade diferente. É perscrutar uma ambiência a que se tende a ascender. Escolher, porque se deve optar entre várias propostas de caminho a seguir. Em Portugal o que tem acontecido, de facto e de direito, é o contrário! Não obstante, fomos país de marinheiros que, de mundos nunca antes alcançados, tornaram as viagens intercontinentais coisa de somenos! Contudo, hoje, governados por marinheiros de lago virtual, atentos às vicissitudes do mero dia-a-dia, perdemos a audácia de apontar para o sem-lugar. Impõe-se-nos a necessidade de eliminar feriados e, sem pensar em coisa nenhuma, julgo que por deficiência de formação, os detentores de um poder efémero por natureza, decidem pelo fim da comemoração do 1.o de Dezembro, que é só e apenas o dia da Restauração da nossa Independência. De lamentar, nomeadamente, a negação e a ausência de referências. Nesta actualidade “pantanosa”, não se prevê, constata-se, verifica-se. Não se faz coisa nenhuma! Limitamo-nos a fazer de conta! Logo, não se escolhe.
O caminho a trilhar é-nos imposto por entidades tecnocráticas, das quais nada se sabe. Com um ponto em comum, foram ou virão a ser quadros da Goldman Sachs. Parafraseando o banqueiro Fernando Ulrich, estamos na mão de homens de 5.a ou 7.a categoria, que se permitem, ou melhor dizendo, a quem permitimos que, do alto da sua falsa importância, debitem opiniões e condicionem os poderes democraticamente eleitos e escolhidos. Mundo pequeno, este nosso, reduzido que está ao que nos é imposto! Mas será que não existe uma alternativa a esta letargia? Temos a certeza que sim. Se a aposta for em quem defenda as virtualidades da pessoa, da realização autêntica do humano e da valoração humanizadora das dimensões económicas, sociais e políticas, conjugadas, sempre, com uma atitude próactiva, podemos prever um mundo melhor e um Portugal mais justo. Prever um Portugal mais competitivo e solidário implica a escolha de um outro caminho. A vereda, ou atalho, com que nos têm presenteado, já provou que nos conduz a nenhures!
O tempo é de chegar, a porto seguro. Mas atenção que, com os mesmos que nos vêm dizendo, de há muito, coisas diversas, análises abstractas de coisa nenhuma, projecções do óbvio e do nenhures, enfim, os mesmos que vão propalando e dizendo o que conseguem vislumbrar da margem do rio, os chamados navegadores de águas pouco profundas, não vamos lá! Os momentos que passamos, difíceis para quem tem de viver do seu suor, sempre foram complicados. O problema reside em algo mais profundo, civilizacional, direi mesmo.
O busílis pode ser encontrado na recente intervenção de Sócrates, “o parisiense”, quando, ainda hoje, nos querem falsamente habituar à ideia que tudo são rosas. Contudo, obstinadamente, elas, por sua mesma natureza, têm espinhos.

in D.M. 9 Dez. 2011

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