quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A bizarria de se chamar Seguro

António José Seguro, o novo líder do PS, dificilmente podia ter gerido pior a decisão sobre como votar o Orçamento do Estado mais odiado das últimas décadas.

Inseguro no partido, Seguro deixou-se empurrar para um estado de hesitação insuportável. Também aqui estamos com azar: uma oposição à altura faz sempre falta.

Foram os socialistas que pediram ajuda externa, foram eles que negociaram com a “troika” os 70 mil milhões que nos livraram da insolvência. E foram eles que geriram o país nos anos que mais directamente nos conduziram aqui. Não foram eles, é certo, que fizeram o Orçamento que aí vem e ao qual não quererão ficar amarrados. Mas a saída airosa não exigia ser genial.

Bastava António José Seguro dizer: este é um mau Orçamento, não posso aprová-lo por discordar do seu conteúdo, mas a situação do país exige conjugação de esforços e, por isso, o PS abstém-se. E, quanto mais cedo o dissesse, mais ganhava com isso: descolava do conteúdo do pacote de horror que aí está, mas mostrava o sentido de Estado exigido ao segundo maior partido. E deixava-se de dúvidas existenciais.

Não foi capaz. Pressionado internamente pelas várias correntes à solta no PS – uns a pedir sangue, outros nem por isso – António José Seguro começou por dizer que só havia 0,0001% de hipóteses de chumbar o Orçamento. Mas foi a reboque do desastrado tiro de Cavaco Silva – que, se queria promover a concórdia, acabou a incendiar os ânimos. E, a poucos dias de ter que votar o Orçamento do Estado, o PS continua dividido e a alimentar um tabu que só fragiliza o seu líder.

Passos Coelho aproveita a fragilidade alheia e já avisou que se o PS tiver uma fórmula fantástica de fazer diferente do Governo, sem deixar de cumprir o que a “troika” lhe exige, ele pára para ouvir. Mas, até agora, do lado da barricada socialista, o silêncio é total. Alguém conseguirá explicar aos socialistas que não há eleições no horizonte?


por Ângela Silva,
http://rr.sapo.pt/opiniao, 27-10-2011

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