quinta-feira, 9 de junho de 2011

'Passos foi o 1.º político a ganhar eleições dizendo o que pensa'

Quando teve a percepção de que Passos Coelho ia ganhar as eleições?

Estivemos sempre em vantagem. Mas nos últimos dez dias tínhamos mais segurança e os ataques também aumentaram. O debate entre Passos Coelho e Sócrates surpreendeu em todos os sentidos, tanto o eleitor como o adversário. Sócrates estava habituado a dominar e a falar só do que quer e ficou algumas vezes sem reacção. Foi muito importante para conquistar a confiança das pessoas.

Quais as principais diferenças entre esta campanha e as do Brasil?

A lógica de campanha é completamente diferente. No Brasil, temos os tempos de antena com uma regularidade que vai desde 15 de Agosto até 30 de Setembro, dia sim, dia não. E o embate dá-se muito mais nos tempos de antena e nos ‘comerciais’ do que no ‘free media’, como vocês funcionam aqui em Portugal. As televisões, as rádios, os jornais…

Qual foi a maior dificuldade?

Trabalhar o dia-a-dia da ‘free media’. Porque aqui faz-se parte de uma campanha ao vivo, uma campanha em directo. É diferente do Brasil, onde se consegue produzir uma mensagem mais fechada. Não tem essa sobreexposição. E também há os debates, mas com regras muito definidas, tempo para cada um, não há interferência do moderador, ele não faz perguntas. É muito mais rigoroso. Depois, houve o jingle (hinos, como vocês chamam), que foi uma coisa nova e criou muita polémica mas que as pessoas gostaram. Eu apanhei muito por causa deles (risos). Foi o ruído por mudar Passos Coelho e por ser muito alegre. As duas letras são minhas e foi muito divertido fazê-las.

Tentou modelar Passos Coelho?

Não. O que se fez foi potenciar o que ele tinha de bom. O mais interessante desta campanha é que o ‘não-marketing’ foi o grande marketing. Não trabalhámos Passos Coelho e deixámo-lo o mais natural possível. Porque é um candidato consistente, ainda que pouco conhecido. Mas, ao mesmo tempo, tínhamos outros dois candidatos, Sócrates e Portas, que eram excessivamente marketing. Eram sound-_bytes demais. Essa autenticidade de Passos Coelho foi uma mais-valia. É uma circunstância positiva: tínhamos um candidato com conteúdo, com histórico, que sabia como falar com as pessoas, principalmente na rua, com um discurso próprio e formatado. Foi muito mais ele a contribuir para que nós só déssemos forma às coisas do que o marketing a interferir directamente. Se Passos Coelho tivesse um perfil mais artificial não teria avançado tão rapidamente.

Essa foi a característica de Passos Coelho mais fácil de explorar?

Sem dúvida.

E qual foi a mais difícil?

Teve alguns momentos em que nós dissemos ‘ai meu Deus, podia ter sido menos autêntico’ (risos).

Foi difícil convencer Laura a entrar na campanha?

Não houve invasão da nossa parte. A entrada de Laura na campanha foi um consenso entre os dois de que seria uma participação natural e na medida em que ela desejasse.

A primeira aparição foi naquele vídeo da Páscoa, não foi?

(risos) Sim. Mas eu não tive qualquer participação nesse vídeo.

Sentiu que estava a a lutar contra uma máquina de propaganda muito forte como sempre foi conhecida a do PS? Quem é que se notou mais?

Fortíssima. A máquina do PS é muito forte e consolidada, mas as pessoas estavam muito cansadas e isso ajudou bastante.

Daqui a 4 anos, ou na próxima campanha que houver, vai voltar a trabalhar com Passos Coelho?

Gostaria muito. Acho a trajectória dele muito bonita. Eu dizia sempre: ‘queria tanto um candidato que falasse tudo o que quisesse e que ganhasse’ (risos). Foi muito legal.

Uma característica de Sócrates que considere positiva. E uma negativa.

É uma figura muito carismática e tem uma relação com a população de muitos anos e isso é muito forte. Mas tem o problema do excesso de marketing.

E Paulo Portas?

Fortaleceu a questão do apoio aos mais necessitados. O problema era o exagero de frases feitas.

Alessandra Augusta, brasileira, 40 anos, foi a responsável pelo marketing da campanha que levou Passos Coelho até S. Bento. Falou ao SOL antes de regressar a Brasília. sofia.rainho@sol.pt

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