terça-feira, 21 de dezembro de 2010

“A Europa não seria já a Europa se o casamento desaparecesse ou se transformasse de modo substancial”,

As tribulações do matrimônio

Novos informes revelam tendências preocupantes

Por padre John Flynn, L.C.

ROMA, terça-feira, 21 de dezembro de 2010 (ZENIT.org) – Um relatório recém-publicado mostra que a classe média está sofrendo um aumento no número de divórcios e mães solteiras, e que os problemas matrimoniais não se limitam às pessoas com níveis mais baixos de educação e renda.

A edição 2010 de The State of Our Unions, “When Marriage Disappears: The Retreat from Marriage in Middle America” (A situação de nossos casamentos, “quando desaparece o matrimônio: o afastamento do matrimônio por parte da América do Norte média”) foi publicada a 29 de novembro.

O documento trata-se de um esforço conjunto do National Marriage Project da Universidade de Virginia e do Center for Marriage and Families del Institute for American Values.

O informe revela que o matrimônio só é estável entre as pessoas de uma alta educação e alta renda e, de fato, o casamento parece ter-se fortalecido entre os mais ricos.

No informe se definia o norte-americano médio como alguém que terminou o estudo regular mas carece de título universitário. Este grupo constitui 58% da população adulta. Aqueles com formação universitária somam 30%. Os restantes 12% constituem os que não terminaram o ensino regular.

Entre as mudanças destacadas, o relatório apresenta:

– No início dos anos 80, apenas 2% das crianças nascidas fora do casamento eram de mães com uma educação alta, em comparação com 13% de crianças de mães com uma educação média e 33% de crianças nascidas de mães com pouco estudo. Neste final de década, a porcentagem de crianças nascidas fora do matrimônio para as mães com estudos universitários era de 6%. Os outros dois grupos experimentaram um aumento, até 44% para as mães com uma educação média, e até 54% para as com pouco estudo.

– A porcentagem de adultos em idade de trabalhar com uma educação média que permaneciam casados em seu primeiro matrimônio caiu de 73% os anos 70 para 45% nesta década. Isso se deve comparar com a queda de 17 pontos no mesmo período entre os adultos com estudos universitários e, de 28 pontos, entre os adultos com pouco estudo. O que chama fortemente a atenção – observa o informe – é que os norte-americanos com estudo médio e com estudo universitário dos anos 70 muito provavelmente estavam casados; agora, quando se trata das probabilidades de estar em um matrimônio unido, é mais provável que o norte-americano com estudo médio se aproxime do que não tem estudo.

– É cada vez mais provável que os norte-americanos com estudo médio convivam em uma união de fato em vez de se casar. De 1988 até agora, a porcentagem de mulheres entre 25 e 44 anos que tinham vivido nessas uniões subiu 29 pontos para as que tinham estudo médio – ligeiramente acima dos 24 pontos daquelas com ponto estudo. Durante o mesmo período, as uniões de fato subiram 15 pontos entre as mulheres que tinham estudos universitários. Quando se trata de uniões de fato, de novo, o norte-americano com estudo médio se comporta de modo mais parecido ao norte-americano com pouco estudo.

– O aumento de divórcios e da educação dos filhos fora do casamento, nas comunidades de classe baixa e classe média por toda América do Norte, deu como resultado que cada vez mais crianças em tais situações vivam em lares onde não estão seus pais biológicos ou acabem vivendo em lares de adoção, sobretudo se forem comparadas com as crianças de lares com mais renda e educação.



Mudanças culturais

Segundo o informe, três mudanças culturais tiveram um papel chave no enfraquecimento do matrimônio entre os norte-americanos da classe média. A primeira é uma mudança sobre este tema, ao passar de ser socialmente conservadores, quanto ao matrimônio, para mais permissivos.

A segunda é que é mais provável que estes note-americanos adotem comportamentos que coloquem em perigo suas perspectivas matrimoniais futuras. Isso inclui práticas como um maior número de parceiros sexuais e mais infidelidade matrimonial.

A terceira mudança cultural é que os norte-americanos com uma educação média cada vez se parecem menos com quem tem estudo universitário, na hora de abraçar valores tradicionais.

O informe examina depois algumas outras mudanças culturais, como a queda na prática religiosa e o aumento do desejo de uma “alma gêmea”, o que faz que o nível para aceitar se casar esteja mais alto que antes. Resumindo o efeito dessas transformações, os autores concluíam: “Um problema relacionado com este novo modelo é que se quebrou o nexo normativo entre sexo, paternidade e casamento”.

Por que deveríamos estar preocupados com essas mudanças no matrimônio, questiona o informe. “O casamento não é simplesmente um acordo privado entre duas pessoas”. “É uma instituição social básica, que ajuda a assegurar o bem-estar econômico, social e emocional de inumeráveis crianças, mulheres e homens desta nação”.

O afastamento do casamento por parte do norte-americano de estudo médio significa que a vida das mães se tornou mais dura e que os pais têm-se separado de suas famílias. O informe acrescenta que também tem como resultados problemas para os filhos, com um maior número de abandonos na educação secundária e uma perda de seu caminho na sociedade.

Se o matrimônio converte-se em algo ao qual só podem aspirar os que já estão acima na escala sócio-econômica, acontecerá, então, uma divisão social e cultural, adverte o informe. “O casamento corre o risco de se converter em um bem de luxo, acessível só a quem tem os meios materiais e culturais para obtê-lo”, indicam os autores.
“Isso ameaça a experiência democrática norte-americana e deveria preocupar todo líder cívico e social de nossa nação”, advertem.


Proteção do bem comum

Os líderes religiosos também se mostraram preocupados pelo que está ocorrendo com o casamento. No dia 6 de dezembro, foi divulgada a carta aberta The Protection of Marriage: A Shared Commitment (A proteção do matrimônio: um compromisso compartilhado). Uma nota de imprensa da Conferência Episcopal dos EUA explicava que os líderes das comunidades anglicana, batista, católica, evangélica, luterana, mórmon, ortodoxa, pentecostal e sikh nos EUA afirmavam a importância de preservar o significado único do casamento.

“O amplo consenso refletido nesta carta das grandes denominações religiosas está claro: a lei do matrimônio não tenta impor a religião a ninguém, mas proteger o bem comum de todos”, afirmava o arcebispo de Nova York, Timothy Dolan.

“O casamento é uma instituição fundamental para o bem-estar de toda sociedade, não só das comunidades religiosas”, afirma a carta.

A carta é só o último passo de uma série de medidas da Conferência Episcopal norte-americana para defender o matrimônio. Respaldar o casamento é o principal dos cinco objetivos propostos pelos bispos como prioridades pastorais para o próximo ano.

Uma das formas de fazer isso é através do site Marriage: Unique for a Reason (http://www.usccb.og/marriageuniqueforareason/). A página na internet oferece materiais para a educação dos católicos sobre por que o matrimônio deve se promover e proteger como a união de um homem e uma mulher.

Consciência da sociedade

O Papa Bento XVI também expressou sua preocupação com a ruptura da família e da vida matrimonial. “A Igreja vê com preocupação o cada vez maior esforço para eliminar o conceito cristão do matrimônio e da família da consciência da sociedade”, afirmava no dia 13 de setembro, ao receber o novo embaixador da Alemanha na Santa Sé.

Nas semanas posteriores, o Papa repetiu que se deveria defender a família e o casamento, em seus discursos aos embaixadores da Costa Rica, Equador, Colômbia e El Salvador.

No dia 2 de dezembro, ele falou de forma mais taxativa, em seu discurso ao novo embaixador da Hungria.

“A Europa não seria já a Europa se a célula básica da construção social desaparecesse ou se transformasse de modo substancial”, disse, referindo-se ao casamento.

O matrimônio se deteriora devido à facilidade do divórcio, à coabitação antes do casamento e a introdução de novos tipos de união que “não têm fundamento algum na história da cultura e do direito na Europa”, dizia o Papa. Palavras que se poderiam aplicar não só à Europa, mas também a muitas outras partes do mundo.

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