"O detalhado estudo ontem apresentado pelo ISCTE e pelo DCIAP sobre as investigações de crimes de corrupção em Portugal vem no tempo certo, para mostrar aos poderes públicos o que é, há anos, dito e redito por todos no meio judicial: que mais importante do que uma enorme reforma legislativa é que se dêem meios à justiça para fazer o seu trabalho com sucesso.
"Entre as dezenas de páginas de dados estatísticos agora compilados - finalmente compilados, acrescente-se - sobressai que mais de 60% dos casos de corrupção que chegam ao Ministério Público acabam arquivados e que, nos últimos cinco anos, pouco mais de 3% acabam em condenação. Fosse necessária prova de que o país tem, aqui, um problema, e ontem as dúvidas ficariam desfeitas. Infelizmente não é o caso: os portugueses não só sentem o problema, como lhe atribuem parte da culpa pela degeneração da República. Pelo que cabe a quem deve, os políticos, contribuir para a sua resolução. Urgentemente, sublinhe-se.
"Acresce que o mesmo estudo indica outros dados preocupantes, como sejam os 500 euros de "preço médio" da corrupção que chega a investigação. Aqui, das duas uma: ou este valor aparentemente irrisório é a imagem de um país, também ele, pequeno; ou significa que o Ministério Público só consegue chegar aos mais insignificantes casos de corrupção. O mais provável é que seja, sobretudo, o segundo caso.
"Assim sendo, regressamos à máxima do imperador romano Tácito, ontem recordada no seminário do ISCTE: "Quanto mais corrupta é a República, maior é o número de leis." Tem mais de 1800 anos, mas continua terrivelmente apropriada."
Editorial do DN, 9.4.2010
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