quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

"Jaime Gama preocupado com a credibilidade do primeiro-ministro"

"Depois da dramatização e da ameaça de uma crise política, o PS teme agora um problema chamado José Sócrates. O incómodo provocado pela divulgação das escutas do processo Face Oculta (as já noticiadas pelo Sol e as que o semanário promete revelar na sexta-feira), e que atingem a credibilidade do primeiro-ministro, já se faz sentir ao mais alto nível do Estado. Ao que o PÚBLICO apurou, o presidente da Assembleia da República (AR), Jaime Gama, já manifestou a sua profunda preocupação com os efeitos que as notícias podem vir a ter no Governo, no PS e na liderança do partido.

"Na reunião do Conselho de Estado, na passada semana, Gama concordou com o Presidente da República sobre a necessidade de todos os partidos convergirem para a criação de uma sólida estabilidade política. Um dia depois, no Parlamento, reiterou o apelo, apontando que as instituições devem concentrar-se na "resolução dos problemas" do país. Agora, após a publicação de excertos do despacho do juiz de Aveiro, Gama ganhou novas preocupações. Que se estendem à bancada parlamentar e ao partido: em surdina, vários dirigentes do PS começam a olhar Sócrates como um problema que está a ganhar proporções cada vez maiores, sobretudo porque aguardam a divulgação de mais escutas comprometedoras para o primeiro-ministro.

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A oposição em bloco votou a favor das audições a personalidades, jornalistas e entidades propostas pelo PSD. O PS ainda pediu (depois de um compasso de espera para decidirem sobre o seu sentido de voto) para o PSD alterar o texto do requerimento, mas, perante a recusa dos sociais-democratas, optou pelo voto contra.

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Sócrates critica PS

"A ausência de vozes solidárias com Sócrates, entre os socialistas, foi ontem criticada pelo próprio primeiro-ministro. Que, em Cantanhede, afirmou que todos os partidos, "sem excepção", "aproveitaram o cometimento de um crime para com esse crime atacarem os adversários políticos e atacarem-me a mim, em particular" (ver texto ao lado). No entanto, horas antes, o líder parlamentar, Francisco Assis, condenara a divulgação das escutas, considerando-a como um crime de "violação do segredo de justiça e divulgação indevida de escutas".

As declarações de Sócrates não satisfizeram a oposição. PSD, CDS, BE e PCP exigem esclarecimentos sobre a compra de uma participação da TVI pela PT. E colocam a questão no campo político e não no judicial.

"Houve ou não promiscuidade entre empresas de capital público e grupos de comunicação social para compra de uma estação de televisão e mudança da respectiva linha editorial?", questionou o líder parlamentar do BE, José Manuel Pureza. O líder da bancada do PSD, Aguiar Branco, acusou o primeiro-ministro de ensaiar "mais uma vez uma imagem de vitimização" ao "atacar o PSD para desviar a atenção do essencial" - "o condicionamento do exercício da liberdade de expressão".

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O líder parlamentar do CDS apontou contradições a Sócrates. "Quando questionado na AR, disse que não tinha conhecimento [do negócio], num segundo momento, depois das eleições, disse que não tinha conhecimento oficial", notou Mota Soares(...)"

Por Maria José Oliveira, Nuno Simas e Sofia Rodrigues,
in "Público", 10.2.2010

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