terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"Novos modos de vida"

Deixo aqui uma parte do discurso do Papa Bento XVI ao Corpo Diplomático, de 11.1.2010. Um discurso rico e útil, no sentido de criar uma sociedade europeia mais justa e acolhedora.

"Senhoras e Senhores Embaixadores, até agora limitei-me a evocar alguns aspectos ligados com a problemática do ambiente. Contudo as raízes da situação, que está à vista de todos, são de ordem moral e a questão deve ser enfrentada no quadro de um grande esforço de educação, para promover uma real mudança das mentalidades e estabelecer novos modos de vida. A comunidade dos crentes pode e quer participar nisso, mas, para o fazer, precisa que o seu papel público seja reconhecido.

"Infelizmente em certos países, sobretudo ocidentais, difundiu-se nos meios políticos e culturais, bem como nos mass media, um sentimento de pouca consideração e por vezes de hostilidade, para não dizer menosprezo, para com a religião, particularmente a religião cristã. É claro que, se se considera o relativismo como um elemento constitutivo essencial da democracia, corre-se o risco de conceber a laicidade apenas em termos de exclusão ou, mais exactamente, de recusa da importância social do facto religioso. Mas uma tal perspectiva gera confronto e divisão, prejudica a paz, perturba a ecologia humana e, rejeitando por princípio atitudes diversas da sua, torna-se uma estrada sem saída.

"Por isso, é urgente definir uma laicidade positiva, aberta, que, fundada sobre uma justa autonomia da ordem temporal e da ordem espiritual, favoreça uma sã cooperação e um espírito de responsabilidade compartilhada. Nesta perspectiva, penso na Europa, que, com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, abriu uma nova fase do seu processo de integração, que a Santa Sé continuará a seguir com respeito e benévola atenção. Notando com satisfação que o Tratado prevê que a União Europeia mantenha com as Igrejas um diálogo «aberto, transparente e regular» (art. 17), faço votos de que a Europa, na construção do seu futuro, saiba sempre beber nas fontes da sua própria identidade cristã. Como afirmei no passado mês de Setembro durante a minha viagem apostólica pela República Checa, tal identidade tem um papel insubstituível «na formação da consciência de cada geração e na promoção de um consenso ético de base que é útil para todas as pessoas que chamam a este continente “minha casa”» (Encontro com as Autoridades Políticas e Civis e com o Corpo Diplomático, 26 de Setembro de 2009)."

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