segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

As flores e o caixão

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"Alguém dizia que um cínico é aquele que sente um cheiro a flores e começa logo à procura do caixão. Não pretendo ser cínico. Mas o ‘acordo’ orçamental entre o PS e o PSD tem um cheiro a flores que implica saber onde está o cadáver.

"Aparentemente, em lado algum: o entendimento favorece o PS, que dá mostras de ‘diálogo’ e favorece o PSD, que ressurge como o partido da ‘responsabilidade’. Infelizmente, o cheiro a flores pode converter-se em velório. Um ‘acordo’ implica interesses comuns. Mas que interesses existem entre um governo que não abdica do seu modelo de desenvolvimento (mais obras públicas, despesa, endividamento) e um partido da Oposição que fez do corte da despesa e do endividamento a sua cruzada? Se houver ‘acordo’, alguém vai a enterrar. A menos que o PS mude radicalmente de vida (uma crença infantil), será o PSD a ocupar o caixão. E para quê? Para exibir ‘responsabilidade’? A abstenção no Orçamento chegava e sobrava. Ao comprometer-se com a política económica do governo, o PSD compromete-se também com a comprovada falência dela. Um suicídio exemplar."

João Pereira Coutinho, Colunista (in Correio da Manhã, 10.1.2010)

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