sábado, 3 de outubro de 2009

Notas sobre o debate da RUM - III

Quando coloca a sua criatividade ao serviço da cidade, Miguel Brito consegue sempre tirar ideias interessantes. A jogar nesse campeonato, achei-o melhor do que nunca. Mas eu sou suspeito porque acho que pouca gente pensa a cidade como o Miguel. Percebe-se, aliás que a cidade é o alfa e o ómega do programa do MPT. É um programa urbano, dirigido a um eleitorado jovem e urbano que ama o centro histórico de Braga mas que conhece mundo suficiente para entender que não chega para Património Mundial da UNESCO.

Não posso, até porque sempre o achei capaz disso, dizer que o Miguel me surpreendeu ao apresentar tantas pequenas ideias interessantes. Mas o facto é que só por nos conhecermos tão bem é que posso dizer que ele não me surpreendeu: a ideia de que é preciso coser a cidade, unir eixos fundamentais que as vias rápidas cortaram, quebrar os Muros de Berlim e fazer corredores para as pessoas; a ideia de que com meia dúzia de pequenas intervenções cirúrgicas a cidade muda substancialmente em quatro anos; a ideia de que a Câmara não pode servir para fazer tudo, mais alguma coisa e ainda as grandes obras; a prioridade absoluta à história, ao património e à vida no coração da cidade; todas essas ideias são património que o Miguel Brito trouxe dos nossos tempos do CDS e é com algum orgulho que noto que ele o burilou e aperfeiçoou nos meses de travessia do deserto.

Está, portanto, em grande forma quando se fala da cidade (embora sem um discurso sólido para as freguesias, o que, aliás, já era uma pecha nossa nos tempos do CDS).

No entanto - e há sempre um senão - não gostei de o ouvir falar sobre o CDS,como se alguém fosse votar nele por causa do que lhe fizeram no partido; não achei que tivesse explicado suficientemente bem o que inviabilizou a sua integração na Coligação (embora aí o Ricardo lhe tivesse feito o favor de o explicar por ele, mas já lá iremos); e, sobretudo, não gostei de não o ter ouvido afirmar claramente que a denúncia pública do ambiente político e de negócios que é apanágio do mesquitismo (denuncia essa que é património seu e de muitos dos que o rodeiam) é, ainda hoje, um combate cívico e político - sublinho político - actual e fundamental.

Em suma, Miguel Brito mostrou que não será por falta de vivacidade e de ideias que esta eleição lhe correrá mal. Ele está aí para ir buscar os indecisos, os descontentes, os mais novos e até, pelos vistos, alguns bloquistas. Mas continua a precisar de explicar e justificar melhor o seu novo posicionamento neste contexto político e, sobretudo, precisa de tomar consciência de que estas eleições não servem para repôr a justiça que lhe foi negada no CDS bracarense. Se o conseguir fazer daqui até dia onze, pode ser que conquiste o seu espaço.

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