segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Legislativas 2009 - Os mais, os menos e os mais ou menos da noite

MAIS:

Paulo Portas: O grande animal político da actualidade portuguesa teve uma noite memorável. Vinte e um deputados, dois dígitos, PS sem maioria, terceira força política, reforço da implantação nacional do partido, possibilidade de ajudar a viabilizar a governação nos próximos anos. Um prémio que acaba por ser justo pela capacidade política que Portas insiste em mostrar, coroado com uma noite eleitoral de glória. Contudo, o CDS continua a ser um one man party. Aguarda-se com expectativa o posicionamento de Portas, especialmente no pós-autárquicas.

Cavaco Silva: Pode ter saído chamuscado destas eleições, mas tem à sua frente o cenário ideal. Papel determinante na escolha e criação de qualquer alternativa de governo que possa sair destas eleições, governo de minoria PS - e com Sócrates a Primeiro-Ministro - numa condição económica difícil e o poder de dar a última palavra sobre a polémica das escutas, lá mais para a frente. Ao contrário do que muitos dizem, Cavaco garante hoje todas as condições para assegurar a reeleição. Todos sabemos que um partido, uma maioria e uma crise dificultam a eleição de um Presidente.

MENOS:

Manuela Ferreira Leite: Continuo a achar que podia ter sido uma Primeira-Ministra séria, honesta e competente (não brilhante). Tem, ademais, a verdadeira noção sobre o cancro do endividamento que mina o país. Mas foi uma má candidata. E os portugueses confirmaram hoje que preferem bons candidatos a bons governantes. Na campanha, quase tudo lhe saiu mal. No partido, também. O silêncio egoísta de Cavaco deu-lhe a machadada final. Até às autárquicas aguenta-se, depois disso, não se sabe.

PSD: O PSD está muito doente. Já nem sequer é bem um partido, antes uma grande coligação de centro-centro, papel que alterna na vida política portuguesa com o de "saco de gatos". Ou melhor, de ratos. E já hoje se viram muitos a roer cordas. Enquanto o PSD mantiver esta tendência para a destruição de líderes, nunca vai conseguir ganhar. Seja com Manuela, seja com outro qualquer, já que todos parecem tornar-se fracos quando lá chegam. Bem podem os barões e baronetes zurzir na líder, mas o facto é que o PSD, enquanto instituição, é o maior derrotado destas eleições. Bem à frente de Manuela, a quem, na verdade, nunca ninguém augurou grande fortuna.

Manuel Monteiro: O ex-líder do CDS queria ser deputado, mas não conseguia. Fundou o PND - não foi longe. Desta vez, decidiu formar o Movimento Missão Minho, com o objectivo de ser eleito como deputado de uma região, utilizando o PND como "barriga de aluguer". É certo que a conjuntura política era fatal às suas pretensões, mas o tombo de Monteiro ficará para os anais da política portuguesa. O PND acentuou a sua completa irrelevância no país e, pior, o Minho não foi excepção. É o grande derrotado da Liga dos Últimos.

MAIS OU MENOS:

José Sócrates: O PS ganhou, mas perdeu meio milhão de votos, perdeu a maioria absoluta, tem menos eleitos do que o CDS e o PSD juntos, vê a esquerda tornar-se perigosa para ele. Só consegue maioria com o apoio do PSD, do CDS ou da esquerda toda. Tudo isto quando o PSD levou o tombo maior da história da democracia. O PS pode festejar hoje, mas a partir de amanhã são só dores de cabeça. Resta saber durante quanto tempo.

Francisco Louçã: Esta podia ter sido uma noite de glória para o Bloco. Mas não foi, apenas e só por excesso de expectativas. À sua maneira, o Bloco foi, hoje, a grande vítima das sondagens. Louçã consegue muita coisa, mas não conseguiu o que mais queria: não ficou em terceiro, não obteve dois dígitos, não é essencial à governação. Fica, apesar do grande reforço de votação, na galeria dos que, ganhando, perderam.

Jerónimo de Sousa: A CDU teve mais votos, mais deputados, mas acentuou hoje a imagem de decadência que tem vindo a revelar. Graças à fidelidade do seu eleitorado, a CDU segura-se melhor do que o BE ou o CDS em situações de grande bipolarização. Desta vez, os portugueses deram a menor votação de sempre ao Bloco Central. E a CDU ficou com um amargo de boca, por ter passado a ser a quinta força política. Ainda assim, com a crise, o desemprego e as dificuldades, temos PCP para mais uns anos. Jerónimo é o "mais ou menos" mais "mais ou menos" da noite.

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