quinta-feira, 13 de agosto de 2009

No fundo, é isto*

"Vocês não sabem o procurador geral da república que aqui está

Eu também acho que deviam ir todos presos, mas não foi a bandeira Nazi que o 31 da Armada hasteou na Câmara Municipal de Lisboa, foi a bandeira que representa um regime que vigorou em Portugal (correcção por exigencia de João Cardoso) durante 800 anos ou lá o que foi, um regime que, por essa Europa fora, sobrevive em paises quase tão civilizados como o nosso. Se alguém hastear a bandeira Nazi nos Paços do Concelho (não é assim que aquilo se chama?) a "complacência" não se deverá manter, pela mesma razão que um murro dado em outrém porque nos espirrou para cima deve merecer uma complacência que não devemos dispensar a um murro dado porque o receptor é preto. Como é óbvio, em matéria de autoridade de Estado, pode haver "graçolas" sim senhora. E, se formos mesmo civilizados, toda a gente compreenderá que isto foi uma "graçola" e que uma bandeira Nazi a esvoaçar num edificio público nunca deveria ser tratado como uma "graçola". Lá por estarmos todos saturados de simbolismos vazios, não significa que abandonemos por completo a interpretação do significado abstracto das coisas, e que retiremos daí consequências práticas para a maneira como decidimos viver. Eu sei que a rigidez das leis não foi feita para peneirar estas situações, mas, foda-se, nós somos leis ou somos homens? A minha posição talvez seja surpreendentemente próxima da do Daniel Oliveira, embora sem a irritante e previsivel comparação, tendo em vista mais um ponto político obscuro, entre a suposta diferença de tratamento que a Direita daria à propriedade pública e à privada (ninguém à direita ficaria ofendido com uma acção da esquerda que, sei lá, lixasse o símbolo da Sonae lá na sede deles, desde que depois pagassem tudo, como o Rodrigo Moita de Deus vai fazer, com notório benefício para as contas públicas). Mas, no mesmo lado dele e em mais que um sitio, se pôde ver a comparação entre o que os atrasados mentais dos anti-transgénicos liderados pelo Gualter não sei quê fizeram a um campo de milho não sei onde. O 31 da Armada não destruiu património, não utilizou a violência, não atacou sequer o mais fraco. Escrever no vidro de um carro que aquilo liberta muito CO2 não é a mesma coisa que dobrar o tudo-de-escape e obrigar os donos das viaturas a gastar 250 euros para voltar a poluir a gosto. São coisas diferentes e a aplicação da lei deve dobrar-se, mesmo recorrendo a contradição, ao que o nosso subjectivismo apreende. Instaure-se um processo ou lá o que é essa merda e depois deixe-se cair tudo em águas de bacalhau, silenciosamente. Ao Gualter e aos amigos do Gualter espero, pelo contrário, que o agricultor prejudicado tenha dinheiro para gastar num bom advogado para lhes foder a puta da vida durante dez anos."

* Título e conteúdo do post gentilmente roubados ao grande Maradona

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