segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Outro Ponto de Vista


Acácio de Brito
 “A Liberdade não é gratuita”

Já um ano passou e novo surto de contestação social emerge com uma radicalidade inusitada. Greve geral! Que sentido? Reconheço validade intrínseca nesta forma de protesto. Mas se, emocionalmente, a adesão a esta forma de luta pode parecer lógica, a racionalidade que deve imperar nas nossas escolhas impede-me de fazer parte dos inúmeros portugueses, muitos forçados e impedidos de se deslocarem ao seu local de trabalho, que optaram por esta forma de dizer basta. Não obstante, a situação que hoje vivemos tem a sua origem, o seu “pecado original”, no desvario, na irresponsabilidade e na mentira institucionalizada de quem teve a responsabilidade de governo. No anterior, e mesmo em alguns anteriores, de forma assumida e descarada. Quanto ao protesto, concordo com alguns dos seus pressupostos, mas ele deveria ser consequente. Nomeadamente, quando ainda não passaram seis meses, em que tantos deram, democraticamente, aos actuais detentores do poder uma nova oportunidade para fazer melhor fazendo bem, tentando resolver o verdadeiro problema que se situa, sobretudo, na competência ou, de outra forma, no sentido da responsabilidade de bem-fazer. Estes senhores que têm a responsabilidade democrática de fazer um bom governo, têm-no feito, nos últimos tempos, como prova o abono de confiança, cada vez maior, constatável nos nossos credores. Até porque existem soluções, que não passam pela gente que nos conduziu aos braços musculados do triunvirato, mas, sim, por quem propõe a verdade, competência, transparência e autoridade democrática, sem promessas vãs de coisa nenhuma.
E o caminho a trilhar deve ser de esforço, muito trabalho e equilíbrio. É possível e, sobretudo, desejável. Agora não devemos ouvir sequer os mesmos que ontem diziam uma coisa e hoje, com a mesma convicção, dizem o seu contrário. Não!
O tempo nem sequer deve ser para diagnósticos que já estão devidamente feitos. O momento deve ser de escolha, de exigência e intransigência com os que, prometendo o paraíso celestial na terra, nos oferecem o inferno terreno quotidiano.
E este desafio deve ser tratado em nome dos que hoje não têm emprego, não têm coisa alguma! Hoje temos pobres, nossos irmãos e constatamos a insensibilidade dos vários poderes em tratá-los não como um de nós, mas como um número, como um valor estatístico. NÃO! SÃO PESSOAS que choram, riem e sofrem como todos nós! Afinal, o Portugal moderno, com estradas e obras sem fim, é uma tragédia para tantos!
A resposta deve ser encontrada em três dimensões: (i) com uma educação que proponha uma escola exigente, competente e disciplinada; (ii) com uma justiça que não se embrulhe em jogos sindicais e mais ou menos palacianos; (iii) com uma classe política que seja expurgada dos seus piores, os corruptores de toda a nossa sociedade! Educando bem, com exigência e sem malabarismos “novo-oportunísticos”, com sentido de justiça e deixando o mercado funcionar com regras, a crise actual é potenciadora de um amanhã menos sombrio. Vereda com muitos escolhos, seguramente, mas sem trabalho, sem suor e algumas lágrimas não se chega a lado algum. Façamos uma greve geral a tudo o que temos,  indevidamente, utilizado! Os vindouros, que já estão aí, agradecem.

In DM 25/11

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