sexta-feira, 9 de setembro de 2011

E depois do "adoro-vos", adeus. Sócrates sai de cena

"Eu adoro-vos". Com o seu quê de dramatismo, José Sócrates despediu-se dos socialistas na reunião da comissão nacional do PS que marcou a data para a eleição do novo líder. A partir daí não apareceu mais e é à distância que vai manter-se. A justificação é semelhante à que António Guterres deu em 2002 quando disse que não iria estar no congresso do Coliseu dos Recreios, em Lisboa, porque o partido precisava de "libertar-se".

Na noite em que perdeu as legislativas e se afastou da liderança do partido, Sócrates avisou que o PS devia "iniciar um novo ciclo", por isso ficará no estrangeiro, onde tem estado, enquanto em Braga o seu rival de sempre, António José Seguro, inaugura a sua era ao comando do PS. "Sócrates quis mesmo marcar a saída", frisa fonte próxima do ex-secretário-geral ao i, confirmando que o
afastamento é para cumprir.

E a decisão não é invulgar entre os ex--líderes socialistas no momento em que passam o testemunho. Veja-se o caso de Mário Soares, que não voltou a estar num congresso do partido que fundou desde que saiu da liderança, em 1986. O ex-Presidente da República regressa agora, com Seguro, para participar num debate sobre a Europa e ficará na abertura dos trabalhos. Além deste ex do PS, só Ferro Rodrigues estará no congresso de Braga. Jorge Sampaio, António Guterres e Vítor Constâncio estão fora do país e não vão comparecer.

No congresso de 2004, em Guimarães, quando Sócrates tomou oficialmente o poder socialista, Ferro era o líder de saída, mas marcou a diferença e apareceu para discursar. O objectivo da intervenção foi duplo: defender Sócrates como o líder capaz de conseguir uma maioria absoluta para ao PS, o que aconteceu poucos meses depois; defender a candidatura presidencial de Guterres, nas eleições de 2006, o que não aconteceu nesse ano nem nas presidenciais que se seguiram.

O que é certo é que, além do fundador Soares, são Guterres e Sócrates os ex- -líderes que maior marca deixaram no partido, com períodos longos de governação. E no caso de Sócrates com a conquista da primeira maioria absoluta para o PS. Num congresso de transição de poder, não é que o sucessor não os queira ver, mas ainda não tem armas para rivalizar com o frisson que ex como estes ainda causarão entre os socialistas que vão estar na sala.

por Rita Tavares,
Publicado no "i" a 9 de Setembro de 2011

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