quinta-feira, 7 de julho de 2011

Vinicius dizia: “Viver não é para amadores”.

Música. O Brasil não se faz só de Gal e Caetano

São dois nomes emergentes na música brasileira e estão em Portugal para o Cool Jazz Fest, em Cascais. Pierre Aderne abriu o concerto de Madeleine Peyroux, ontem, e tem um novo disco, o terceiro, "Água doce". O concerto de Céu é amanhã. Falaram os dois da sua história e da próxima geração Brasil

Céu
01. Sempre quis cantar?
Desde menina. Tenho uma família de músicos, o meu pai era maestro. Isso incentivou-me desde criança.

02. Como foi o início da sua carreira?
Trabalhosa. É difícil e é preciso paixão e amor. Aos 15 anos tive aulas de canto lírico e depois de piano. É preciso autodisciplina. Aos 18 pus a mochila às costas e fui para os EUA. Era fã das cantoras de jazz e blues, o processo foi muito bom e estou a gostar do resultado.

03. Como é que classifica a sua música?
Sou cantora de MPB, acho. É muito abrangente e não faço ideia como é que o público me classifica.

04. O que quer trazer de novo para a música brasileira?
A música é um espírito livre, e podemos misturar as nossas raízes com outros géneros. Vivo em São Paulo. Quero fazer uma linguagem mais... ‘metropolitana’?!

05. Viver na época de Chico Buarque ou Caetano Veloso é uma inspiração ou uma barreira?
É sorte. Sou fã. Pode ser um obstáculo, mas a geração que os ouviu começou a fazer algo novo e isso é bom.

06. Que expectativas tem para a sua estadia em Portugal?
Tenho muito carinho por Portugal e gostava de conhecer mais.




07. O que espera da actuação no Cool Jazz Fest 2011?
Adoro tocar em festivais porque divido o palco com outros. É como a minha música: todos juntos.

08. O que a inspira a compor?
Tudo o que acontece, sou ligada às pessoas. Vinicius dizia: “Viver não é para amadores”. A vida inspira.

09. Quais são as suas influências musicais?
Muitas. Jorge Ben, Baden Powell, Clara Nunes, Elza Soares, música jamaicana e jazz.

10. O que se segue?
Fazer a tourné do ‘Vagarosa’ e o próximo disco. Sei o que quero.

Pierre Aderne
01. Sempre quis cantar?
Foi uma necessidade de comunicação que apareceu aos 18 anos. A minha mãe é actriz e o meu pai, português, é professor de literatura e influenciaram-me

02. Como foi o início da sua carreira?
Despretensiosa. Não esperava muito da música. Em Brasília tive uma banda de rock, aos 18, e depois fui para o Rio de Janeiro. Ampliei os horizontes e aproximei-me da MPB. É o caminho natural.

03. Como é que classifica a sua música?
Enquadro-me dentro da Música Popular Brasileira (MPB), embora o termo seja muito abrangente. Se pensarmos que o conceito engloba géneros entre a bossa nova e o samba dançante, já é mais fechado. Há uma tribo de MPB, como Adriana Calcanhoto, Marisa Monte ou Caetano.

04. O que quer trazer de novo para a música brasileira?
Desconstruir quem me construiu. A minha ideia era processar tudo num amplificador – desde João Gilberto, a Chico Buarque e Caetano Veloso – e trazer algo meu, como a minha forma de tocar e de cantar. O meu lugar. Já estou a encontrar esse BI.

05. Viver na época de Chico Buarque ou Caetano Veloso é uma inspiração ou uma barreira?
É uma referência. A minha geração, como Rodrigo Maranhão ou Edur Krieger, está a contar uma história da música. A geração de Caetano é muito activa e põe a minha mais na sombra do que no sol. A nossa história vai ser lida em dez anos.

06. Que expectativas tem para a sua estadia em Portugal?
Portugal é um porto de inspiração. Li José Régio, Espanca ou Pessoa e eles também me construíram como artista. Há uma diversidade na lusofonia que faz de Portugal um lugar de aprendizagem.

07. O que espera da actuação no Cool Jazz Fest 2011?
Sempre quis actuar no CoolJazz. É especial por ser intimista.

08. O que a (o) inspira a compor?
Componho o que vivo. A minha música chega através de imagens e é a extensão do meu estado de espírito.

09. Quais são as suas influências musicais?
Tenho momentos. Em criança ouvia Caetano, Gal Costa, João Gilberto, Bethânia, ou Chico. Depois Milton Nascimento, Elis. E claro, Leonard Cohen, Lou Reed ou Bob Dylan. Têm poesia e isso é essencial.

10. O que se segue?
Estou a compor para o próximo álbum. São canções de amor, sobre temas dolorosos como a separação. Procuro leveza para falar sobre esses temas e deve ser mais pop/festivo. O conceito humor/amor/humor. É isso que quero.

por Maria Catarina Nunes,
Publicado no "i" em 7 de Julho de 2011

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