terça-feira, 21 de junho de 2011

Vitor Gaspar

Vítor Gaspar é o principal ministro do governo PSD/CDS – e aquele sobre o qual os portugueses menos sabem. É um economista e académico puro, cuja carreira de duas décadas teve um objectivo central: o euro. Ohomem que tem por missão cumprir a mais dura consolidação orçamental para evitar o risco de uma saída forçada de Portugal da moeda única é um defensor radical da mesma – é, na Europa, dos economistas mais comprometidos com o projecto.

“Com uma carreira à volta da integração monetária europeia eu não reclamo um ponto de vista de espectador imparcial”, disse há um ano numa intervenção no Porto, citada pelo blogue Massa Monetária. “Recentemente fiz um discurso na Reserva Federal de Dallas com o título ‘A segunda década do euro: o sucesso continua!’ O organizador estava bem ciente da minha parcialidade.”

O agora ministro acompanhou as negociações portuguesas no âmbito do Tratado de Maastricht, criou e liderou o departamento de investigação do Banco Central Europeu e liderou o grupo de conselheiros económicos do Presidente da Comissão Europeia. (Vítor Gaspar não foi reconduzido no cargo no segundo mandato de Durão Barroso por ter sido considerado demasiado teórico, apurou o i – a recomendação terá vindo de António Nogueira Leite e não de Barroso).

O percurso de Portugal com a moeda a que o novo ministro das Finanças dedicou a carreira tem sido muito difícil. O novo ministro das Finanças reconheceu isso mesmo há cerca de um ano na apresentação de um livro publicado pelo Banco de Portugal. Vítor Gaspar, tal como o seu colega na pasta da Economia (ver texto ao lado), reconhece o desequilíbrio orçamental português, mas enquadra-o num contexto mais amplo. Nessa mesma apresentação – feita com rigor e subtil sentido de humor – Gaspar deu a sua opinião sobre os maiores desafios da economia portuguesa: “Crescimento da produtividade e competitividade”, “crescimento sustentado e criação de emprego”, “correcção dos desequilíbrios macroeconómicos fundamentais” e “reforço e generalização da concorrência e transformação da estrutura produtiva”. Muitas destas áreas são da responsabilidade de Álvaro Santos Pereira, que tem uma visão semelhante dos problemas – resta saber qual a opinião de Gaspar sobre a reestruturação de dívida (mal encarada pelo BCE, onde Gaspar tem um percurso significativo), vista como inevitável pelo seu novo colega. Certo é que ambos os ministros são uma opção coerente com o rigor e a agenda liberal impostas pelo programa da troika: defensores de mais concorrência, mais flexibilidade no trabalho e maior responsabilização individual.

Como defensor do euro, Vítor Gaspar tem apontado para a necessidade do reforço da regulação e supervisão financeira (tarefas nas mãos de Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, que declinou o convite para as Finanças). Com este perfil é de esperar que o novo ministro das Finanças cumpra e aprofunde os mecanismos de transparência das contas públicas em Portugal. A dúvida? Se o teórico do euro será capaz de suportar a enorme pressão política da pasta das Finanças.

http://www.ionline.pt/conteudo/131471-o-que-pensavam-os-novos-ministros-quando-nao-sabiam-do-futuro

Sem comentários: