quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Grandes políticos (também os há)!

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Que futuro para a moderação e a independência política?

Joe Lieberman é um senador democrata que de vez em quando vota com os republicanos. Muitos democratas não gostam, mas com estas credenciais tem alcançado consensos importantes.

Na Primavera de 2008, John McCain pediu a Joe Lieberman que falasse em seu nome na Convenção Nacional Republicana. "Quando olho para trás, isto faz-me pensar", diz Lieberman agora. No entanto, parecia natural ajudar desta maneira o homem que considerava mais qualificado para ser presidente.

Depois de Barack Obama ter ganho as eleições, o martelo desceu. Harry Reid, o líder da maioria no Senado, disse a Lieberman que alguns democratas queriam retirá-lo da presidência da Comissão de Segurança Nacional. Lieberman, independente, disse que, se isso acontecesse, poderia não votar ao lado dos democratas.

A reunião decisiva ocorreu durante o período de transição. O presidente Obama opôs-se à punição de Lieberman, tal como os senadores Reid, Schumer, Durbin, Dodd e Salazar.

Durante o caucus houve um debate sobre o futuro de Lieberman com Lieberman presente. "Não foi ad hominem", recorda Lieberman. "Algumas pessoas disseram: ''Gostamos de ti, Joe. Não podemos é aceitar este comportamento.''" Afinal nem sequer foi à justa. Quarenta e dois senadores democratas votaram a favor de deixar Lieberman na presidência. Apenas treze votaram contra.

Como Ezra Klein, do "The Washington Post", observou recentemente, acabou por ser uma das decisões de Obama e Reid com consequências mais importantes. Se Lieberman não tivesse sido aceite de volta pelos democratas, não teria havido um 60º voto a favor da reforma da saúde, e ela teria sido derrotada. Não teria decerto havido derrota do "não pergunte, não diga" sem o trabalho de Lieberman e sem as suas credenciais. A lei do ambiente Kerry-Lieberman esteve mais perto da aprovação que qualquer outra lei da energia. Além disso, Lieberman proporcionou o apoio crucial à lei do estímulo, à lei bancária, à lei da extensão do apoio aos desempregados e a várias outras medidas.

Assim, embora Lieberman seja odiado por muitos activistas liberais, sempre teve muito melhores relações com os democratas mais pragmáticos. O vice-presidente Joe Biden enviou-me um email emocionado esta quinta-feira que acaba assim: "O Senado não será o mesmo sem a liderança de Joe, sem o seu intelecto poderoso. Mas é da sua amabilidade que sentiremos mais falta."

"Ele era indispensável", escreveu igualmente Reid num email, "e a sua dedicação ao serviço público, a sua capacidade de trabalhar com os opositores e a sua enorme experiência também nos farão falta."

"Joe foi um excelente senador", disse John Kerry. "Definia-se pela sua consciência e pelas suas convicções." Kerry reconhece que se sentiu muitas vezes exasperado com Lieberman, mas as relações de trabalho tornam-se mais significativas graças aos desacordos, e não apesar deles.

Estes políticos estão a julgar Lieberman de acordo com os critérios a que Max Weber chamou a "ética da responsabilidade" - os que produzem melhores resultados. Alguns dos activistas julgam-no de acordo com aquilo a que Weber chamou a "ética da intenção" - de coração mais puro e menos inclinada a compromissos.

Corre uma teoria de acordo com a qual Lieberman teria ficado amargurado pelo trauma de 2006, em que foi derrotado nas primárias do Connecticut devido ao seu apoio à Guerra do Iraque. Há poucas indicações de que assim seja. Lieberman sempre se situou na encruzilhada entre os dois partidos e muitas vezes serviu de ponte, o que enfurecia os democratas, mas depois, nos momentos importantes, também era os interesses deles que servia.

Lieberman vota 90% das vezes com os democratas, mas sempre foi um democrata à Scoop Jackson, e rompeu com o partido em matéria de defesa. Nos anos 90 desafiou a ortodoxia no que dizia respeito à escolha da escola, à idade da reforma e ao papel da religião na vida pública.

No entanto, precisamente por causa destas credenciais, tem conseguido aparecer nos momentos críticos e obter resultados de uma maneira que mais nenhum senador consegue. (...) Lieberman teve um papel importante quando esteve em causa livrar Bill Clinton do embargo. Quando o apoio ao embargo aumentava, Lieberman fez um discurso crucial no Senado em que repreendeu Clinton pelo seu comportamento mas opôs-se de forma resoluta a retirá-lo da presidência. Muitos dos conselheiros mais importantes na Casa Branca perceberam que o que o discurso dele conseguiu foi canalizar a irritação mas sem ser no sentido da demissão.

A questão é se os políticos com o perfil independente e moderado de Lieberman poderão sobreviver no actual ambiente político. "Tenho relações mais calorosas com democratas em Washington do que no Connecticut", reconhece Joe Lieberman.

Seria simpático que os eleitores abrissem lugar a mais meia dúzia de independentes como ele. Já houve alturas, por exemplo durante o debate da saúde, em que a independência de Lieberman me pareceu confusa e sem base intelectual. No entanto, em geral, tem mostrado uma grande coragem.

Há muitos homens de equipa na administração dispostos a fazer tudo o que o chefe manda. O que falta são elementos difíceis, com mentes complicadas, perspectivas invulgares e personalidade para enfrentar o aparelho partidário e os interesses ocultos.

por David Brooks, Publicado em 26 de Janeiro de 2011
Exclusivo i / The New York Times

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