Nem vou entrar nos pormenores infelizes (diria mesmo, quase cómicos) de algumas das medidas anunciadas hoje pelo Governo em matéria laboral (e não só). Não é de hoje que entendo que a rigidez do mercado laboral é uma fonte de pobreza e de insegurança, ao contrário do que os seus arautos pretendem. A rigidez laboral tende a prejudicar a mobilidade social da população activa, que prejudicará sempre quem trabalha muito e bem e quem não tem emprego em detrimento dos que se ficam pela mediania.
Esta concepção (cada vez menos) dominante baseia-se, enfim, numa mundivisão do mercado laboral que só pode ser defendida por quem nunca criou um posto de trabalho, como ontem observou, e muitíssimo bem, o candidato presidencial Fernando Nobre (a despropósito, é surpreendente a lufada de ar fresco que pode representar o discurso de alguém que realmente vem de fora do sistema político, ainda que não se concorde com todas as suas ideias e ainda que o seu estilo se apresente como pouco apelativo face às regras que o sistema aprendeu - e ensinou - a valorizar).
No entanto, o meu espanto é outro e a minha indignação é diversa: porque é que, quando finalmente a realidade obriga o nosso Governo a olhar para o mundo, este decide de imediato que é preciso mexer nas leis laborais para facilitar o despedimento, mas não pondera, nem por um minuto, que talvez seja muito mais importante mexer nas leis laborais para facilitar a contratação?
Com as reservas que se aconselham a quem analisa a realidade à distância, só me apetece dizer que este Governo faz burrice em cima de burrice. Nunca pensei ver algo assim no meu país...
1 comentário:
Caro Rui,
Um texto claro e lúcido.
A crise tem destas coisas, mostra a incompetência de quem nos governa, do nosso sistema. Às vezes é preciso bater no fundo para começar a construir algo de novo. Espero que nas próximas eleições haja uma mudança clara.
Temos muito trabalho pela frente.
Enviar um comentário