"Mais pobres e à beira de serem ultrapassados pelos eslovacos nos níveis de riqueza por habitante, os 10 milhões de portugueses sentirão nos próximos dois anos o peso de uma economia estagnada, sem mais empregos para oferecer e em que o Estado vai ser obrigado a reduzir brutalmente o défice, para o bem e para o mal.
"Segundo Bruxelas, o desemprego, que já foi o centro das preocupações do governo em 2009, não vai sequer inverter o agravamento dos últimos anos: a economia vai crescer apenas 0,5% em 2010 e 0,7% em 2011; o desemprego vai ficar nos 9,9% da população activa: cerca de 544 mil pessoas estarão sem trabalho em ambos os anos.
"A Comissão Europeia, que ontem apresentou as suas previsões da Primavera, até reviu o crescimento de 2010 em alta (0,2 pontos percentuais), mas concedeu que a economia não tem capacidade para crescer mais do que 0,7%, valor que foi revisto em baixa.(...)
"No entanto, a Comissão mostra que os portugueses - endividados, desempregados e, mais recentemente, ameaçados por mercados e comentadores internacionais - vão estar, nestes dois anos, a tentar romper com o passado (crescimento desmesurado a crédito e empréstimos usados para fins pouco produtivos, sobretudo pelas empresas). E em simultâneo vão experimentar uma forte redução dos níveis de vida a que se habituaram.
"As previsões indicam que os salários reais estão a caminho de uma estagnação, vai ser difícil poupar mais, não haverá criação de emprego que compense os mais de 150 mil postos de trabalho que a crise levou, a economia como um todo continuará a ser amplamente deficitária e devedora face ao exterior. O défice da balança corrente baixará de forma frugal até 10% do produto no próximo ano; o investimento, a variável decisiva para promover a criação de emprego, acumulará quatro anos consecutivos de contracção em 2011.
"As exportações são, aparentemente, a variável que correrá melhor, mas até aí a Comissão sublinha que "não se projecta uma mudança da posição competitiva da economia", o que "vai limitar a retoma das exportações". A política de redução do défice não é alheia a toda esta dinâmica de estagnação económica, como admite a maioria dos economistas e o Banco de Portugal."
por Luís Reis Ribeiro,
Publicado no "i" a 6 de Maio de 2010
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