quarta-feira, 12 de maio de 2010

"A maior perseguição à Igreja nasce do pecado em seu interior" Bento XVI

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LISBOA, terça-feira, 11 de maio de 2010 (ZENIT.org). - Respondendo a um jornalista no voo que nesta manhã de terça-feira o trouxe a Portugal, Bento XVI explicou que a maior perseguição sofrida pela Igreja nasce do pecado que ocorre em seu interior.

A bordo do Airbus 320, no início de sua 15ª viagem apostólica internacional - a primeira para Portugal -, Bento XVI respondeu a uma pergunta que muitas pessoas gostariam de ter-lhe feito.

O jornalista perguntou-lhe se seria possível ver na mensagem de Fátima uma alusão ao atentado sofrido por João Paulo II e também aos sofrimentos que a Igreja vive hoje, por conta dos casos de abusos sexuais contra menores cometidos por membros do clero.

Bento XVI respondeu que o que poderia ser descoberto de novo ainda hoje na Mensagem de Fátima é nela se ver a "paixão" que acomete a Igreja, que "se reflete na pessoa do Papa".

"Não vêm apenas de fora os ataques contra o Papa e a Igreja, mas os sofrimentos da Igreja têm origem do interior da própria Igreja, do pecado que existe no seio da Igreja", acrescentou.

"Sempre se soube disso, mas hoje podemos constatar de maneira realmente aterradora: a maior das perseguições contra a Igreja não advém de inimigos externos, mas nasce do pecado no seio da Igreja, e a Igreja, portanto, tem uma profunda necessidade de reaprender a penitência, de aceitar a purificação, de aprender, por um lado, o perdão, mas também a justiça. O perdão não substitui a justiça."

O Papa sustentou que "o Senhor é sempre mais forte que o mal e Nossa Senhora é, para nós, a garantia visível, maternal, da bondade de Deus, que é sempre a última palavra na história".

Anteriormente, o Pontífice tinha respondido a uma pergunta sobre a realidade da secularização de Portugal - um país profundamente católico.

Bento XVI reconheceu, em primeiro lugar, a presença ao longo dos séculos de uma "fé corajosa, inteligente e criativa", testemunhada pela nação lusitana também em várias partes do mundo, como no Brasil. Mesmo notando "a dialética entre fé e secularização em Portugal", não faltam pessoas dispostas a "criar pontes" e "criar diálogo" entre as duas posições.

"Penso que é precisamente esta a tarefa, a missão da Europa neste contexto: encontrar este diálogo, integrar fé e racionalidade moderna numa única visão antropológica que complete o ser o humano e torne comunicáveis as culturas humanas", constatou.

"A presença do secularismo é algo normal, mas a separação, a contraposição entre secularismo e a cultura de fé é anómala e deve ser superada - disse o Papa. O grande desafio neste momento é favorecer o encontro dos dois, para que assim se descubra sua verdadeira identidade. Esta é uma missão da Europa e uma necessidade humana na nossa história."

Bento XVI também respondeu a uma pergunta referente à crise económica, que segundo alguns, coloca em risco a estabilidade da própria União Europeia.

Partindo da doutrina social da Igreja, que convida o positivismo económico a dialogar com uma visão ética da economia, o Papa confessou que a fé católica tem deixado, com frequência, as questões econômicas de lado para dedicar-se primordialmente "à salvação individual".

"Toda a tradição da doutrina social da Igreja busca ampliar o sentido ético e o da fé, para, além do indivíduo, abordar a responsabilidade do mundo, e uma racionalidade ‘moldada' pela ética. Os últimos eventos ocorridos no mercado, ao longo dos últimos dois ou três anos, têm demonstrado que a dimensão ética está circunscrita e deve estar inserida no agir económico".

"Apenas dessa forma a Europa cumprirá sua missão", concluiu.

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