quarta-feira, 24 de março de 2010

Recomeçar

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”Sei que seria possível construir o mundo justo/
As cidades poderiam ser claras e lavadas/
Pelo canto dos espaços e das fontes/
O céu o mar e a terra estão prontos/
A saciar a nossa fome do terrestre/
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia/
Cada dia a cada um a liberdade e o reino/
— Na concha na flor no homem e no fruto/
Se nada adoecer a própria forma é justa/
E no todo se integra como palavra em verso/
Sei que seria possível construir a forma justa/
De uma cidade humana que fosse/
Fiel à perfeição do universo//

”Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco/
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo”


Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"


Quem tiver lido com um mínimo de atenção os jornais terá constatado com as evidências que as notícias relatavam: duas das mais marcantes obras em curso em Braga estão marcadas por erros grosseiros. Falamos do Laboratório Internacional de Nanotecnologia e do edifício que se está a construir no quarteirão dos antigos Correios. Pior era difícil!

Lia-se no Diário do Minho:
“O grande objectivo do (novo) projecto reside na criação de um campus que maximize a aplicação da investigação produzida pelo Laboratório de Nanotecnologia e pela universidade minhota e fomente a instalação de empresas líderes mundiais nas áreas das tecnologias de ponta.”

Ou seja, os projectos são feitos ao contrário! Quando se soube que em Braga iria ser instalado o INL, a Câmara devia ter tido o cuidado de trabalhar a questão urbanística que um edifício destes implica. Não fez nada. Ou pior, destruiu a Bracalândia. Agora, com a obra quase concluída é que se vai fazer um campus… Brilhante!

Tal como o CDS afirmou publicamente na altura: “tornamos públicas as dúvidas sobre este projecto ibérico. Receia-se que não tenha sido respeitado o interesse da Cidade, que este importante equipamento não vá ser convenientemente integrado”.

Afirmámos também que: "é indispensável a realização dum Plano de Pormenor, no mínimo, para dar resposta às muitas implicações que a construção dum edifício destes coloca. Onde está esse Plano?"

"Sem Plano, as dúvidas multiplicam-se: Como serão resolvidas as questões do estacionamento? E a legislação sobre o ruído? E a acessibilidade e a mobilidade? E se o Instituto precisar de crescer, como vai ser? Haverá espaço? Não terão escolhido uma zona muito limitada?" Porque é que a Câmara se demite das suas responsabilidades políticas e técnicas?

O projecto do Instituto Ibérico de Nanotecnologia é muito importante para a cidade. Deve ser acompanhado e estudado com o cuidado que a sua dimensão implica.

Que tem feito a Câmara Municipal por este equipamento? De facto, sabemos que a escolha de Braga se deve, em grande parte, ao trabalho meritório da UM e à sua “forte actividade de investigação”! Este Instituto justifica empenho e dedicação por parte dos responsáveis autárquicos, mas isso não está a acontecer. O que se constata é um crescimento feito à toa, remendo aqui, alteração ali…

Se continuarmos a ler o jornal:

“As destruições ocorridas na Avenida da Liberdade, constituem uma das páginas mais tristes da História recente de Braga. (…)
“O alargamento dos trabalhos revelou o traçado da via XVII, bem como um conjunto edificado situado no canto Sudeste do quarteirão, ou seja a Sul da via romana e a Norte da Fonte do Ídolo. A descoberta dos alicerces desta possível extensão daquele santuário constitui uma das mais relevantes novidades do projecto de Bracara Augusta, desvendando a possibilidade de em redor da Fonte do Ídolo existir um vasto complexo de estruturas rituais.” Prof. Sande Lemos (in DM)

Portanto, era público. Os terrenos dos CTT estavam cheios de vestígios arqueológicos que foram ignorados pela Câmara que permitiu que as obras avançassem sem o cuidado devido!

Seria interessante interpelar a Sr.ª Ministra da Cultura, na Assembleia da República, sobre o Património Cultural de Braga. De facto, noutras regiões do país, os vestígios arqueológicos são cuidados, estimados e assumidos como tesouros! Porque é que aqui são destruídos? É um apelo que deixo aos Senhores Deputados eleitos por Braga.

Estas duas questões – o INL e os CTT – mostram como a política actual tem de ser alterada, pois pode fazer-se urbanismo em Braga.
Fazer Cidade, planear o seu futuro, criar condições para um crescimento harmonioso são questões essenciais para que Braga saia do caos urbanístico e dê outra qualidade de vida às pessoas que aqui vivem ou trabalham.
O CDS pretende assim uma mudança de mentalidades. Com outro rigor e competência, temos que recomeçar uma nova forma de servir as pessoas – que é para quem a Autarquia trabalha.


N. Oliveira Dias

http://cdspp-braga.blogspot.com/
(artigo publicado no DM)

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