segunda-feira, 8 de março de 2010

«Não matarás» (Ex 20, 13).

A propósito da Eutanásia e de situações limites como as que o Paulo referiu, deixo aqui o que vem escrito no Catecismo da Igreja Católica. São indicações sábias e sérias sobre questões muito, muito delicadas que tocam na dignidade da pessoa humana. Deixo também a indicação do site do vaticano, onde se pode consultar o catecismo e muitos outros documentos em português.

«Não matarás» (Ex 20, 13)

«Ouvistes o que foi dito aos antigos: "Não matarás. Aquele que matar terá de responder em juízo". Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão, será réu perante o tribunal» (Mt 5, 21-22).

"2258. «A vida humana é sagrada porque, desde a sua origem, postula a acção criadora de Deus e mantém-se para sempre numa relação especial com o Criador, seu único fim. Só Deus é senhor da vida, desde o seu começo até ao seu termo: ninguém, em circunstância alguma, pode reivindicar o direito de dar a morte directamente a um ser humano inocente» (Cong. Dout. Fé).

"A EUTANÁSIA

"2276. Aqueles que têm uma vida deficiente ou enfraquecida reclamam um respeito especial. As pessoas doentes ou deficientes devem ser amparadas, para que possam levar uma vida tão normal quanto possível.

"2277. Quaisquer que sejam os motivos e os meios, a eutanásia directa consiste em pôr fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inaceitável.

"Assim, uma acção ou uma omissão que, de per si ou na intenção, cause a morte com o fim de suprimir o sofrimento, constitui um assassínio gravemente contrário à dignidade da pessoa humana e ao respeito do Deus vivo, seu Criador. O erro de juízo, em que se pode ter caído de boa fé, não muda a natureza do acto homicida, o qual deve sempre ser condenado e posto de parte (Sagr. C. D. Fé ).

"2278. A cessação de tratamentos médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionados aos resultados esperados, pode ser legítima. É a rejeição do «encarniçamento terapêutico». Não que assim se pretenda dar a morte; simplesmente se aceita o facto de a não poder impedir. As decisões devem ser tomadas pelo paciente se para isso tiver competência e capacidade; de contrário, por quem para tal tenha direitos legais, respeitando sempre a vontade razoável e os interesses legítimos do paciente.

"2279. Mesmo que a morte seja considerada iminente, os cuidados habitualmente devidos a uma pessoa doente não podem ser legitimamente interrompidos. O uso dos analgésicos para aliviar os sofrimentos do moribundo, mesmo correndo-se o risco de abreviar os seus dias, pode ser moralmente conforme com a dignidade humana, se a morte não for querida, nem como fim nem como meio, mas somente prevista e tolerada como inevitável. Os cuidados paliativos constituem uma forma excepcional da caridade desinteressada; a esse título, devem ser encorajados."

http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
TERCEIRA PARTE; SEGUNDA SECÇÃO; OS DEZ MANDAMENTOS (CAPÍTULO SEGUNDO: ARTIGO 5 - O QUINTO MANDAMENTO «Não matarás» (Ex 20, 13).

1 comentário:

Paulo Novais disse...

Tudo o que disse aqui (http://ruadosouto.blogspot.com/2010/03/morte-assistida-e-porque-nao.html) disse-o conhecendo minimamente o catecismo. E subscrevo novamente tudo o disse.
Vamos lá por pontos:

2258 - não considero viver, quando se faz em circunstâncias de sofrimento profundo e constante. E sem existir qualquer esperança de retorno. Quando a morte, mais tarde ou mais cedo, apenas com mais dor, acontecerá. Não se interrompe a vida e sim a existência.

2276 - Não há amparo possível que não seja o do ciência. E quando a ciência da a luta por finda, nada mais conta senão o que o paciente terminal achar melhor. Se for a morte assistida, com dignidade e com o mínimo de sofrimento, seja.

2277 - Só o é do ponto de vista dos outros. Pelo ponto de vista dos doentes não acho. Mas mais imoral e, mais grave, anti-cristão, é ter uma ferramenta que pode ser posta ao alcance de uma pessoa em sofrimento mortal e recusa-la por preconceitos morais de alguns.

2278 - Deixa-me rir. Por dinheiro já se pode permitir a interrupção de um tratamento? Perigosos? Então se o doente tem a morte anunciada, o que pode ser perigoso para ele?
E do que estamos também aqui a falar, é de interromper todo e qualquer tratamento por vontade do doente e de lhe facultar meios para interromper, nos casos comprovadamente terminais, da progressão da doença, logo da existência.

2279 - Mais uma vez, se for o caso, já se podem tomar medidas mesmo que mortalmente perigosas para o doente. Seja por amor de Deus.
O que se quer é que estas medidas sejam tomadas por vontade do doente, quando este está no uso das suas faculdades e quando estas são comprovadamente a única forma de um resto de existência digna do doente enquanto pessoa.

Para terminar. O Deus que eu acredito e admiro não pode, de sua vontade, concordar com estas regras cegas, surdas e cruéis. Se assim for, a sua crueldade não encaixa nos meus padrões de compaixão e de humanização da vida. E tenho pena. Repara, Nuno que não quero ser radical em relação nem a Deus nem à igreja católica. Porque se somos humanos é porque somos inteligentes e devemos ter a capacidade de pensar e de nos adaptarmos ás circunstâncias. Ora nem a igreja católica deve estar acima desta e de outras adaptações. Se for essa a vontade dos católicos. Se o fizer, então cada um tirará as suas conclusões. Eu com toda a certeza tirarei as minhas.

Por isso é importante a discussão deste tema. Sem vergonhas e complexos. E com a abertura necessária para ser sensível aos argumentos de ambas as partes.

Nota: se qualquer um de nós tiver em casa um cão que tenha sido atropelado, esteja doente e sem qualquer hipótese de sobrevivência, pegamos no animal e levamos a um veterinário para ser abatido sem dor e com dignidade. Porque gostamos do cão e porque ninguém gosta de ver um ser vivo a sofrer (ou não deve gostar, digo eu). Acabemos por isso com a hipocrisia. Então todos os seres vivos devem obedecer aos mandamentos do catecismo católico.