sexta-feira, 5 de março de 2010

"Acreditar no Estado para resolver a pobreza que ele próprio promove não passa de uma piada macabra"

"A nossa catástrofe

"Falar de esquerda ou direita, em Portugal, é um exercício fátuo. Existem diferenças, sim; mas, no essencial, não existe tribuno com pretensões de liderança que não olhe para o Estado como panaceia para os nossos problemas colectivos. Que o mostrengo possa ser parte desses problemas, e não a solução, eis uma ideia que não passa pela cabeça do nosso escol.

"Fatalmente, passa pelo estudo recente da OCDE sobre mobilidade social: entre nós, nascer pobre é morrer pobre. Ou, se preferirem, os mecanismos tradicionais que possibilitam a ascensão social não funcionam. A escola pública, depois de sucessivas reformas assassinas, já não prepara ninguém para coisa nenhuma. E o mercado de trabalho, que recebe essas massas impreparadas, apenas oferece rigidez e exclusão: quando é difícil despedir, não se esperem milagres a contratar.

"Enganam-se os que pensam nas catástrofes como fenómenos exclusivamente naturais. Em Portugal, a catástrofe tem mão humana. Acreditar no Estado para resolver a pobreza que ele próprio promove não passa de uma piada macabra."

João Pereira Coutinho, Colunista
Correio da Manhã, 5.3.2010

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