terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Portugal é dos países que menos investem na família

Portugal debate de forma acalorada o "casamento" gay, entre anúncios sobre a crise da família, enquanto no Reino Unido o Partido Trabalhista acaba de assumir o elogio ao casamento e à estabilidade das relações. Um pacote de propostas a apresentar em Janeiro pelo governo de Gordon Brown parte deste princípio: as crianças estão melhor quando os pais permanecem juntos. É um discurso que, vindo da esquerda britânica, apanha de surpresa políticos e sociólogos portugueses - nem sempre pelas mesmas razões.

Investimento em serviços de mediação e aconselhamento familiar, introdução de aulas sobre sexualidade e estabilidade nas relações, além da criação de medidas que previnam as separações no período pós-natal são algumas das sugestões referidas pelo ministro britânico da Educação, Ed Balls, em declarações ao jornal "The Sunday Times". Pela primeira vez desde que há estatísticas oficiais, este ano as uniões oficializadas através do casamento tornaram-se minoritárias no Reino Unido. Ed Balls, casado com a ministra do Trabalho, assegura que o governo quer fazer mais no apoio às relações familiares. E considera um erro centrar as políticas de família na natalidade e nas crianças.

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O problema, segundo Maria José Nogueira Pinto, independente eleita nas listas do PSD, é quando a pluralidade não resulta de uma escolha livre. "Nós, burgueses, em nossa casa podemos fazer laudes à diversidade. Mas as pessoas que são objecto da diversidade, estão felizes e assim por opção?", questiona, lembrando que às famílias monoparentais estão associados maiores índices de pobreza. "Não é uma questão ideológica, sequer. São estatísticas."

As estatísticas, também elas, mostram que Portugal ocupa, na Europa a 15, o penúltimo lugar na transferência de verbas para as famílias em percentagem de Produto Interno Bruto (PIB) - 1,2%, quando a média europeia é de 2,1%. E a falta de verbas limita a oferta de novos serviços, lamenta Maria Saldanha Ribeiro, presidente do Instituto Português de Mediação Familiar. A experiência mostra que "as causas sociológicas são mais importantes do que as psicológicas" num divórcio. Embora "levianas na forma como destroem uma relação", as pessoas continuam a valorizar e perseguir a estabilidade, assegura a mediadora e psicóloga. Faltam, contudo, apoios e redes de suporte que as ajudem a ultrapassar as crises e conflitos.

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Olhar para o que se faz lá fora e importar políticas, sem as devidas adaptações, nem sempre dá bons resultados, alerta Carlos Marques de Almeida, professor no St. Antony's College, em Oxford. "O que nós fazemos muitas vezes, diria quase sempre, é introduzir e adaptar conceitos que não são pensados para a sociedade portuguesa", afirma, acrescentando que a "ausência de pensamento crítico em Portugal" se traduz em "políticas públicas que não são adequadas à realidade nacional".

No "i", 28.12.2009

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