Estamos a menos de uma semana das Eleições Autárquicas e, como é evidente, os ânimos aquecem, as candidaturas aumentam o ritmo das campanhas e preparam-se para jogar as últimas cartadas no jogo dos votos.
Em Braga as eleições disputam-se a cinco, Mesquita Machado, Ricardo Rio, Miguel Brito, João Delgado e Rodrigues Dias. Estes são os candidatos e aqueles que corporizam projectos, ideais, posicionamentos na geometria dos votos e na dança das cadeiras que naturalmente resultarão do acto eleitoral.
Parece-me lógico que estas são eleições disputadas a dois campeonatos, o dos que disputam a vitória nas eleições e os que marcam posições para a representação na Câmara e Assembleia Municipal. Estes últimos podem vir a ter um papel fundamental na próxima gestão autárquica da cidade de Braga.
A primeira escolha é entre Mesquita Machado e Ricardo Rio. Aqui se disputam as Presidências da Câmara e Assembleia Municipal. É neste campeonato que se joga o estilo, a forma, a gerência dos destinos da autarquia nos próximos quatro anos.
Mesquita é o dinossauro que gere os destinos do concelho há mais de trinta anos. Foi responsável por muito do desenvolvimento da cidade, quer em população, quer em estrutura e equipamentos do séc. XX e XXI. Foi o homem que criou uma teia tão profunda de interesses e dependências do poder que controla áreas e eleitorado quase que impenetráveis. Tem obra e ficará eternamente ligado á cidade pelo melhor e pelo pior. Se por um lado é o responsável pela maior parte das obras estruturais da cidade, é também o rosto mais visível do desastre urbanístico que são grandes áreas da cidade, pelo absurdo investimento feito num equipamento de puro orgulho pessoal como o Estádio Municipal. Foi também o mentor desta rede de interesses que sustenta famílias inteiras e ultrapassa gerações. Se em Braga paira a nuvem das suspeitas de actos ilícitos, de corrupção, de enriquecimentos abruptos e injustificados, ele está sempre na ordem do dia. Diria que em Mesquita Machado se pode encontrar o bem e o mal daquilo que deve ser um Presidente de Câmara, mais mal do que bem? Será o “julgamento” popular a 11 de Outubro.
Ricardo Rio é o rosto da esperança. Encabeça um projecto desde 2005 que se iniciou como a fusão entre os três partidos, mas é hoje claramente vincado pelo PSD. É melhor preparado do que Mesquita Machado e pode corporizar a tão ambicionada conquista de novos valores, novas ideias, novos projectos e, acima de tudo de nova transparência na gestão autárquica. Tem o perigo de ser um produto iminentemente partidário e estar, por isso mesmo, sujeito a pressões e limitações de critérios típicas de quem está albergado pelo guarda-chuva do partido. Tem o enorme mérito de ter trabalhado como ninguém durante os quatro anos em que esteve na oposição para estar á altura do desafio. Tornou-se tão profissional a fazer oposição, como Mesquita Machado a presidir á autarquia. É, por isso mesmo, o melhor de sempre contra Mesquita.
Na segunda liga o campeonato é pelo décimo primeiro lugar. Julgo ser dado adquirido que a arquitectura dos votos irá, seguramente, ditar que quem ganhar a Câmara não terá maioria absoluta no executivo. O resultado irá ditar 5+5+1. É aqui que se joga um elemento de elementar importância na composição do executivo que irá gerir a Câmara Municipal nos próximos quatro anos. A disputa é entre o Bloco de Esquerda, a CDU e Miguel Brito apoiado pelo MPT. A escolha aqui é entre um Bloco de Esquerda radical, com um discurso claramente desajustado da realidade concelhia e sem noção de responsabilidade de governação, uma CDU com um excelente candidato que é uma das mais respeitadas figuras da nossa sociedade, mas que personifica claramente a conjugação do disco riscado e fundamentalismo típico do comunismo. Pior, lembrando-nos a triste e infeliz participação do último vereador eleito por esta força partidária, Jorge Matos, no executivo, aceitando pelouro e vivendo quatro anos completamente rendido ao poder de Mesquita Machado. Foi mais um que o sistema engoliu. Por último temos Miguel Brito, o único verdadeiro independente de todos os candidatos. Foi o vereador que trouxe para a praça pública o problema dos sinais exteriores de riqueza de Mesquita Machado, do enriquecimento inexplicável de determinadas pessoas e empresas. Teve pelouro e abandonou-o para denunciar o clima que se vivia na Câmara Municipal de Braga. Fez sempre oposição a Mesquita, sendo por diversas vezes e fruto da inércia do PSD, o rosto dessa mesma oposição. O Presidente da Câmara foi sempre o seu alvo e nunca o Procurador e sempre apontou o dedo com frontalidade e sem medo, enquanto outros que hoje aparecem debaixo do elan de Ricardo Rio, se escondiam atrás dos encantos do sistema.
Neste ponto, a questão que coloca-se ao nível de saber qual destes candidatos tem o perfil mais indicado para ser o pendão na esquadria de poder da Câmara: Miguel Brito, João Delgado ou Rodrigues Dias?
No que a estas eleições diz respeito eu tenho a minha opinião e preferência. Que Ricardo Rio cumpra a sua missão que é ter mais um voto do que Mesquita Machado e Miguel Brito tenha mais um voto que a CDU e o Bloco de Esquerda, sob pena de os Bracarenses elegerem uma Câmara ingovernável.
Ramiro Brito
In Diário do Minho 06/10/2009
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