"O recente debate entre os dois principais candidatos à presidência da Câmara (de Lisboa) não teve qualquer interesse.
Discutiram-se números e mais números, trocaram-se acusações, fizeram-se muitas (desnecessárias) provocações.
Escrevi recentemente que os políticos têm de começar a respeitar-se uns aos outros, sob pena de as pessoas lhes perderem definitivamente o respeito.
Será assim tão difícil a classe política entender que, trocando constantemente insultos entre si, está a suicidar-se colectivamente?
Achará António Costa que lhe ficaram bem as repetidas tentativas de provocar Santana Lopes, dizendo-lhe várias vezes para não estar «tão nervoso»?
E Santana Lopes acha que ganhou alguma coisa acusando acintosamente António Costa de falar de muitas coisas «que não sabe»?
Quando se atira lama para a ventoinha ela salpica todos.
"Mas, para lá desta questão de civismo, cortesia e boa educação, há que pensar no papel do presidente de uma Câmara hoje.
Um presidente de Câmara será um contabilista, que só sabe falar de números?
Será um técnico de trânsito, preparado para discutir a circulação automóvel na cidade?
Entendamo-nos: os problemas financeiros, os problemas de trânsito – tais como os problemas da limpeza das ruas ou da manutenção dos jardins ou cemitérios – são problemas importantíssimos, mas que devem ser resolvidos pelos departamentos competentes.
Não são os presidentes das Câmaras que têm de encontrar soluções para eles.
São problemas técnicos, por vezes muito complexos, que devem ser resolvidos pelas respectivas equipas técnicas camarárias.
"O papel de um presidente da Câmara é outro.
Sendo um político, o que dele se espera são ideias que façam a diferença.
Ideias que marquem a cidade, mudem a vida dos munícipes e atraiam visitantes.
Ideias com alguma grandeza.
Que signifiquem golpes de asa, que enriqueçam o património municipal, que sejam motivo de orgulho.
É isso que se espera de um presidente.
Ora quer António Costa quer Santana Lopes falaram quase sempre como contabilistas, aqui e ali como técnicos disto ou daquilo – mas quase nunca como políticos.
(...)
"Eu sei que muitos torcem o nariz a este tipo de propostas.
Em cada português habita, mais ou menos adormecido, mais ou menos desperto, um Velho do Restelo.
Todas as grandes obras recentes foram objecto de forte polémica – desde o CCB à Expo e à Ponte Vasco da Gama, passando pelo novo aeroporto.
Mas eu continuo na minha: a aplicar a todas as obras uma lógica de merceeiro, hoje não existiriam as catedrais góticas.
Ainda bem que nessa época não havia economistas a fazer contas, a propor estudos de viabilidade, a falar de sustentabilidade, etc.
Todas as grandes obras têm uma dimensão de sonho.
São, em certo sentido, uma utopia.
Mas a verdade é que o mundo só pula e avança quando os homens têm capacidade para sonhar."
António José Saraiva, in Sol, 4. IX. 2009
1 comentário:
Olá Nuno. Depende. Onde estavas quando perguntas? A quem te referes? Passado, presente ou futuro?
Se a tua resposta é Braga, MM e tanto faz, então a resposta e NADA. ZIP. NIENTE. NICHTS. NOTHING...
Apenas para enriquecer-se e aos amigos...
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