No mês do S. João de Braga a azáfama na cidade, sobretudo no seu coração faz sempre parte da festa. A decoração da Avenida da Liberdade e áreas adjacentes, a instalação das tradicionais diversões na zona exterior do Parque de Exposições de Braga, as farturas, o pão com chouriço e, como não podia deixar de ser, as barraquinhas de venda ambulante. É nestas últimas que reside o tema desta crónica.
Naturalmente, a cidade pede aos habitantes destas zonas mais centrais o sacrifício de suportarem uma movimentação e ruído fora do normal nesta época do ano, no fundo para que toda a cidade possa usufruir desta festa tão única e tradicional dos bracarenses. Cabe á Câmara Municipal de Braga a coordenação e definição territorial dos espaços e dos equipamentos instalados nos mesmos. Aquilo que aconteceu neste ano foi deveras exorbitante e ainda por cima, justificado pelo capricho do Sr. Presidente da Câmara de inaugurar o túnel nesta época. A tradição tem a sua importância e por isso mesmo, manda a tradição que as barraquinhas de venda ambulante sejam colocadas ao longo da Avenida da Liberdade porque lá é que se passa a festa, lá é que a multidão comemora o S. João, com ou sem túnel. A colocação das barraquinhas na Avenida central, dispersas e quase que despejadas de forma aleatória só aconteceu porque sua Excia. o Eng. Mesquita Machado continua a não distinguir as festas do S. João, do período de pré-campanha eleitoral. Pois, é que bastava ter tido o cuidado de planear a intervenção naquela zona com mais cuidado e mais preocupação com os bracarenses e menos com a sua reeleição e quando foi necessário o espaço para montar as referidas barraquinhas, ele estaria disponível e desimpedido. Não sei se o receio de que destruíssem as flores, ou apenas o ego incomensurável de alguém que há muito deixou de respeitar a coisa pública e passou a confundi-la com a coisa privada, sobretudo com a sua própria, levaram a que o caos fosse instalado nas festas mais tradicionais e míticas da cidade. Fica aqui a lição, exmos. Sr. Presidente da Câmara, lamento a desilusão que lhe vou criar mas Braga ainda não é o seu quintal...bem sei que ás vezes parece...mas não é.
Numa outra perspectiva e ainda relacionado com as barraquinhas, assistimos a uma situação realmente constrangedora para quem vive num estado de direito e que conta com as forças de segurança e fiscalização para garantir uma coisa que muitos não dão valor, mas cuja importância económica é vital: a marca.
Não é aceitável que se suba a avenida por um lado e se desça pelo lado oposto e se assista a um rol infindável de contrafacção á venda de forma desinibida, com as autoridades policiais ali á beira, como se nada fosse. A marca e os direitos de imagem são um património vital para as empresas e respectivo produtos. As economias paralelas, de cópias que não respeitam estes direitos básicos de quem cria, têm efeitos muitas vezes devastadores para as empresas que produzem e comercializam os produtos originais. Já para não falar na qualidade que coloca a marca num patamar muitas vezes incomparável.
Para que se perceba melhor eu passo a explicar. O processo que criação e fabrico de produtos custa muito dinheiro, faz parte do investimento suportado pelo empresário para se lançar no mercado e criar o seu próprio carácter distintivo da concorrência. Este património é um factor vital na economia, sobretudo nos dias de hoje com a concorrência feroz a que assistimos á escala global. Uma das apostas inequívoca dos governos, quer de direita quer de esquerda é a marca portuguesa. Claro que uns fazem-no com produtos obsoletos como o Magalhães...mas o princípio é o mesmo, a execução é que é diferente.
É de facto ridículo que a ASAE que tanto aparato usa para, muitas vezes, fazer intervenções despropositadas e completamente empaladas, não tenha aqui uma intervenção de fundo. É que estes comerciantes alugam os espaços e não são sujeitos a qualquer inspecção dos produtos que vendem. Hoje em dia em Portugal fecham-se espaços a torto e a direito, arruínam-se negócios, aparecem senhores de metralhadora á porta das empresas para verificar tudo e mais alguma coisa e depois qualquer comerciante ambulante vai para a rua, instala-se, paga a licença e comercializa apenas produtos de contrafacção. Onde anda a ASAE? A fumar charutos nos casinos, a fechar espaços centenários ou apenas a dar espectáculo para inglês ver? Esta é uma situação completamente absurda e a Câmara Municipal de Braga que licencia os espaços tapa os olhos e finge que não é nada com ela...
Usando o vocabulário do Sr. Primeiro-Ministro...isto não é porreiro pá!
Ramiro Brito
In Diário do Minho de 30/06/2009
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