quarta-feira, 24 de junho de 2009

O dia que fui para o Mato

Razões de uma desfiliação do CDS ___________ por Miguel Brito

Sou natural de Lourenço Marques e este facto é incontornável na minha vida, até nas convicções. Quando despertei para a política, com sobressalto e com discursos inflamados do Samora, com aviões jactos a sobrevoar os céus de Maputo, por ordem da Rodésia e soldados portugueses barbudos e cabeludos a despedirem-se da cerveja “Laurentina”, tinha doze anos, mas comecei a gostar da politica; cantava o hino da Internacional Socialista e as musicas do Zeca Afonso e marchava na Escola; mas eu era um branco e um português, católico e na minha casa, sem ser Salazarista era “portuguesa”, a inclíta geração eram os meus heróis, o “Gungunhana” um inimigo e os comunistas eram perigosos e os resistentes da Frelimo, que andavam no mato, eram os “Turras”!
De repente, acabou o sossego, acabaram os gelados italianos e proibiram as “chicletes”, porque eram símbolos do Imperialismo, com esta negação fui começando a simpatizar com o “Tio Sam”.
De repente, de um dia para o outro, a minha cidade segura, que percorria a pé, deixou de ser segura e a partir dai passei a dar um valor à segurança e à liberdade, que antes desconhecia.
De repente, a casa onde passava férias, foi ocupada, uma casa, feita tijolo a tijolo, pelas minha família era do Estado e a partir dai passei a dar outro valor à propriedade e a desconfiar do Estado/Proprietário.
De repente, havia filas para o pão e para os bens básicos – já não eram só as proibidas chicletes – faltava tudo e aquele esquema de produção colectiva, as machambas colectivas, parecia-me tudo precário e aquele sistema produtivo, colectivista e comunitário, mereceu-me desconfiança!
Quando cheguei a Portugal, no meio de novos símbolos, novos cheiros e novos hábitos, a minha opção política e depois partidária foi lógica.
Tinha um irmão mais velho do MIRN, que era simpático porque fazia umas festas e eu lembrava-me dos “partys” da minha adolescência; quando o MIRN começou em “porradas”, uns contra os outros, não tendo eu grande cabedal e sendo um pacífico por natureza, desconfiava daquilo.
De repente, a imagem do Prof. Freitas do Amaral, a forma como o Adelino Amaro da Costa falava e a inteligência do Prof. Lucas Pires, levaram-me a escolher o CDS. Era um partido não socialista (de quem desconfio desde pequenino), defendia a propriedade, a liberdade de expressão, os valores da vida e da família, valores essenciais para mim e os dirigentes, tinham pinta, eram professores universitários, tinham bom ar e não eram radicais!
A chegada do Prof Adriano que eu estimava foi confusa para o CDS, o grande intelectual começou a introduzir o elemento “popular” no CDS, não imaginado que este facto podia fazer resvalar aquela instituição para o “populismo”. Assim aconteceu, a ascensão de Manuel Monteiro, marca uma nova fase neste partido. Companheiro de Universidade de Paulo Portas, um e outro, mudam o CDS e o nome e o partido cresce.
Quando Monteiro fica e Portas sai e uns e outros se afastam, o CDS perdeu uma grande oportunidade de ser o maior partido de direita em Portugal.
Quando Portas chega, no Congresso de Braga, parece perceber este facto e faz do Partido a casa de todos e lembra-se da democracia cristã, para deixar as favas do populismo com o Manuel Monteiro!
Em Lisboa, no Congresso Portas/Monteiro, percebeu-se duas coisas, que a vocação se sermos um grande partido morreu e as “capelinhas” pessoais eram mais importantes que o Partido e que Manuel Monteiro, como Portas, ambos defendiam a Aliança Democrática e que afinal eram os dois talentosos.
O Partido começou nessa altura a converter-se no “Partido das palmas”, cesarista e laudatório.
A Jota do Partido que bate mais palmas que os outros, apareceu com mais força que nunca!
A passagem pelo Governo, as paradas militares e o olhar “esgueirado”, do Ministro da Defesa e do Mar, reforçou o partido das palmas.
O Ministro do Turismo que praticou actos lesivos do património do Estado, dias antes de ir embora e as trapalhadas de um governo de má memória, levaram-me a desconfiar do CDS.
Continuei no CDS, pessoas como José Ribeiro e Castro, Maria José Nogueira Pinto, Eng. Miguel Anacoreta Correia, davam-me confiança e conforto.
A chegada do poder do actual Presidente, tinha tudo do PREC e a forma como o ora Presidente Ribeiro e Castro foi saneado, deixou-me muito confuso.
É verdade, que tenho simpatia por figuras contraditórias e apreciava o Samora Machel e o Prof. Freitas do Amaral, mas vá lá, com as devidas proporções, não vamos pôr o Samora a falar da “separação de poderes” com a clareza das sebentas de Direito Administrativo e o Prof. Freitas a falar com emoção ao povo!
Ora o CDS de hoje tem um fato à medida do velho partido, fato de corte inglês, mas lá dentro um ditadorzeco Rosa Teixeira a tresandar a Estaline. Isso eu não podia tolerar mais.
Presidia a uma estrutura política local, quando um dirigente partidário entrou pela sala dentro de computador e com um assessor jurídico, certamente provindo sabe-se lá de que escola.
Aquilo cheirou-me a esturro. Soube que o dito militante, agora dirigente nacional, tinha criado num concelho próximo uma sensibilidade “sui generis”, o poder dos “Bombeiros” na politica, ou seja os militantes davam uma forcinha nos Bombeiros e os Bombeiros uma forcinha no Partido.
Neste cenário, sem referências, olhei para o retrato do Amaro da Costa e ele avisou-me: foge, a liberdade está lá fora!
O raio do homem – bombeiro – mas vestido de casaco azul, ameaçou-me com um processo disciplinar e há alturas que por mais criativo e condescendente que sejamos, temos que sair.
O Prof. Freitas do Amaral ainda me acenou com a hipótese dos Tribunais, mas eis que surge o Samora e diz-me ao ouvido: vai para o Mato e ganha a cidade!

Miguel Brito

3 comentários:

Nuno disse...

O CDS - e em particular, o CDS Braga- fica mais pobre!...

Esmeralda dos Prazeres disse...

Também não exageremos... todos sabemos o muito que contribuía o Miguel Brito para o CDS de Braga: em bens materiais, imateriais e outros...
Mas foram-se os anéis ficaram, tenho a certeza, os dedos para trabalhar. Até diria mesmo que tantos anéis nem deixavam o Miguel Brito trabalhar tanto como queria. Viveu-se uma epoca de grande fartura, viveremos agora com o celeiro bem recheado pela imensa herança de Miguel...

Anónimo disse...

Oh, Brito!
Se tu tivesses vergonha, com os calotes que deixaste em cada bodega da cidade ias para o mato e ficavas lá.
se voltas, pode ser que os credores te apanhem, não?