A actual crise é como um incêndio à nossa porta. Que fazer? Como defendia o poeta Jean Cocteau, temos que salvar o fogo!
Temos que ter a capacidade de olhar para o interior desta situação sem ser de uma forma unívoca.
Ouvimos os economistas. Tenho o maior respeito por esta procura humana de encontrar soluções, que me toca! Mas, não podemos deixar a reflexão só aos economistas, os novos “sacerdotes” ( agora, são eles que falam de milagres e parece que têm a solução dos problemas ).
Concordo que problema nº 1 é o desemprego.
O problema ( da crise ) é quando o nosso sofrimento nos impede de olhar para as nossas alegrias. Quando a carência, as dificuldades, o desânimo, a exaustão não nos permitem ser humanos. Perder a capacidade de olhar para o fundamental. É importante olhar para a crise e perceber como é importante olhar para o que temos. E deixar de demonizar o mundo! Parece que estamos em catarse, com medo de olhar para a pobreza!
Precisamos de profecia!
Precisamos – como na idade Média – de ordens mendicantes, de quem diga: bendita pobreza!
O problema, o modelo subjacente, é vivermos num certo patamar. Demonizar a pobreza. A maior parte da população humana vive uma vida digna de ser vivida com muito menos daquilo que nós desperdiçamos. E a vida continua a ser vida!
Por isso, a reflexão sobre os modelos, sobre a transformação, deve ser alargada. Esta deve ser uma hora de ousadia!
Gás África, voluntariado de estudantes, com bom nível económico: têm o contacto com a pobreza o que os torna melhores pessoas!
A pobreza toca-nos na nossa humanidade! E nós estamos a desperdiçar capital humano!...Os homens nunca viveram todos em inclusão. Nós nunca tivemos uma sociedade justa. Nunca, em nenhum período da história.
Voltar aos anos 80 é uma ilusão. Temos que sonhar com o futuro!
E perceber que a vida é um laboratório de humanidade, onde podemos acolher experiências, gramáticas, sabedorias que nós neste momento desvalorizamos.
Uma sociedade onde o grau de felicidade seja tabelado pelo PIB e pelos rendimentos económicos é uma sociedade que, em termos humanos, é tremendamente deficitária! Precisamos duma reflexão mais vasta.
Precisamos dum humanismo que nos conduza à criatividade. Precisamos de ensaiar.
Somos toda uma geração “à rasca”! Que este seja um momento de parto, o momento inicial. Há grupos, energias que nos podem sinalizar futuros diferentes. Temos que trilhar novos caminhos.
Pe. José Tolentino de Mendonça,
excertos duma entrevista na rtp1, Abril 2011
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