quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A Idade do Armário

«É preciso afastar a ideia de que eles já não gostam de nós»

Em entrevista ao Destak, Penélope Villar, psicóloga e co-autora do livro 'A Idade do Armário', desmistifica esta fase da vida temida por muitos pais. E deixa a garantia: é possível sobreviver à idade do armário. Quanto às muitas outras questões e dúvidas, as respostas estão no livro.


O que é a idade do armário? Não é mesma coisa que adolescência?

A Idade do Armário é a fase de transição entre a puberdade e a entrada na adolescência. É aquela idade em que os filhos já não crianças, mas também ainda não são adolescente

Estão as crianças de hoje a tornar-se adolescentes mais cedo?

É uma pergunta difícil de responder… Acredito que as pressões que os pré-adolescentes de hoje sentem, são as mesmas de sempre – lidar com as suas mudanças corporais, vontade de ser aceite pelos pares, despertar de novas emoções e sentimentos, desejo de “libertação” dos pais e da família. No entanto, a forma como estas pressões se manifestam hoje em dia é seguramente diferente. Hoje a afirmação passa por um conjunto de bens materiais (roupa e vestuário de marca, telemóveis, etc.) e meios (internet, redes sociais, etc.) que são recentes e que colocam novos desafios a pais e filhos. Simultaneamente, tudo isto acontece mais cedo.

Como se explica esta mudança?

Na sociedade de hoje tudo tende a acontecer mais depressa e de forma mais exigente. Se as mudanças físicas da pré-adolescência ocorrem num intervalo de idade que se mantém constante (entre os 10 e os 15 anos sensivelmente), já as mudanças sociais e emocionais tendem a ser antecipadas. Os nossos filhos são expostos cada vez mais cedo ao uso de telemóveis ou da internet, e as suas «teias sociais» são hoje mais influenciadas por modelos apresentados na televisão ou internet.

As mudanças são tantas e complexas, que os pais acabam embalados na montanha russa de emoções. Qual a melhor forma para os pais lidarem com elas: dando muita importância ou tentando não levar tão a sério?

No meio estará a virtude! Talvez ajude lembrar que o papel dos pais é o de orientar os filhos, num percurso que é o deles. Os filhos, e os pré-adolescentes em particular, necessitam de sentir firmeza da parte dos pais – não num sentido de rigidez, mas sim no sentido de perceberem que as regras definidas são para cumprir, que eles têm obrigações e que têm de aprender a regular o seu comportamento à medida que transitam para a idade adulta.

A questão do sexo deve ser uma das que mais assusta os progenitores. Há alguma fórmula que indique quando e como se deve abordar este tema ou os educadores devem agir de acordo com os seus instintos?

Um bom indicador para falarmos de sexo com os nossos filhos é sempre que eles nos procurem para tal. Seguir o ritmo deles é uma boa estratégia , até porque nos permite sentir melhor o que os preocupa. Talvez as suas perguntas sejam esquivas ou indirectas. Ou pelo contrário, talvez nos abordem de forma muito directa e desproporcionada. Acima de tudo, não devemos desperdiçar esta oportunidade em que nos procuram para obter respostas aos seus medos, anseios ou simples curiosidade. O único cuidado a ter, é adequar a linguagem que usamos e a informação transmitida, de modo a que possa ser válida para os nossos filhos. Fugir ou ignorar as perguntas dos filhos sobre sexo, só fará com que eles procurem as respostas noutro lado… e nós não queremos isso, pois não?

No que diz respeito às modas (ao desejo de ter um corte de cabelo diferente, de usar as calças a cair...), elas sempre existiram. Como se deve lidar com elas, sobretudo quando vão um pouco além do que pode ser considerado um limite?

Dentro dos limites do razoável, estes movimentos de emancipação são positivos e desejáveis! E mesmo que nós enquanto pais não entendamos algumas destas modas ou não concordemos totalmente com elas, a verdade é que não há grande mal se deixar o seu filho cortar o cabelo de forma mais esquisita – afinal, se não for agora que vai usar um corte de cabelo estranho, quando será? Acima de tudo, os pais devem tentar estabelecer limites «prévios» daquilo que consideram tolerável ou não, pensando na segurança e bem estar dos seus filhos. Isso ajuda-os a saber o que permitem ou não, poupando-os ao desgaste causado por estes pequenos devaneios, próprios da idade.

Na sociedade em que vivemos, em que a velocidade é uma constante, como é que os pais se podem sentir menos culpados?

De facto, se não reservarmos algum do nosso tempo e disponibilidade para estar ou simplesmente ouvir (com atenção!) os nossos filhos, é normal que nos sintamos mais culpados… A vida hoje em dia é muito exigente em termos de tempo, para nós e, a partir desta idade, também para os nossos filhos. Por isso, nada como estabelecer alguns rituais simples para estarmos em família, junto dos nossos filhos. Criarmos compromisso com os nossos filhos, nem que seja necessário “marcar na agenda” uma hora que vai ser inteiramente reservada para estar com os filhos. A hora do jantar, por exemplo, é uma excelente oportunidade – em vez de jantar qualquer coisa à pressa, em frente à televisão, porque não criar o hábito de sentar todos à mesa e dar espaço para que cada um fale um pouco do seu dia?

Os castigos funcionam nesta fase da vida?

Desde que sejam justos e adequados, sim. Os pré-adolescentes ainda precisam de regulação e os pais devem ser claros e firmes no estabelecimentos de regras e limites. Assim, se os pré-adolescentes ultrapassam os limites ou quebram as regras que estão definidas, devem saber que isso implica uma consequência – um castigo. Estabelecer regras que são sistematicamente quebradas ou prometer castigos que depois não são cumpridos, é um erro grave que os pais devem evitar.

O que é que os levou a escrever este livro e sobretudo a esquematizar, da forma como o fizeram, os problemas?

Este livro nasceu da experiência que temos na nossa prática diária. Temos o privilégio de lidar com pais que nos procuram para partilhar as suas dúvidas e dificuldades, o que nos levou a estruturar este livro de forma a guiar os pais para que encontrem dentro de si respostas concretas a problemas reais. Não queríamos um livro teórico ou instrutivo que “ensinasse os pais a serem perfeitos”.

Que conselho daria aos pais que se preparam para enfrentar esta idade do armário?

Acreditamos que todos os pais querem o melhor para os seus filhos, apesar de por vezes não saberem como o fazer. Por isso, há que respirar fundo - esta é apenas mais uma fase de transição, a que se vai sobreviver, como sobreviveram os nossos pais. Talvez o melhor conselho seja afastarmos a ideia de que eles já não gostam de nós, só porque estão a tornar-se adultos e com vontades próprias. Devemos mostrar sempre o nosso amor pelos nossos filhos, mesmo quando parece que eles não «ligam» a isso…

Carla Marina Mendes
cmendes@destak.pt, 13 | 10 | 2011

Sem comentários: