Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
´Stou só e com saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
Fernando Pessoa
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Portugal é dos países que menos investem na família
Portugal debate de forma acalorada o "casamento" gay, entre anúncios sobre a crise da família, enquanto no Reino Unido o Partido Trabalhista acaba de assumir o elogio ao casamento e à estabilidade das relações. Um pacote de propostas a apresentar em Janeiro pelo governo de Gordon Brown parte deste princípio: as crianças estão melhor quando os pais permanecem juntos. É um discurso que, vindo da esquerda britânica, apanha de surpresa políticos e sociólogos portugueses - nem sempre pelas mesmas razões.
Investimento em serviços de mediação e aconselhamento familiar, introdução de aulas sobre sexualidade e estabilidade nas relações, além da criação de medidas que previnam as separações no período pós-natal são algumas das sugestões referidas pelo ministro britânico da Educação, Ed Balls, em declarações ao jornal "The Sunday Times". Pela primeira vez desde que há estatísticas oficiais, este ano as uniões oficializadas através do casamento tornaram-se minoritárias no Reino Unido. Ed Balls, casado com a ministra do Trabalho, assegura que o governo quer fazer mais no apoio às relações familiares. E considera um erro centrar as políticas de família na natalidade e nas crianças.
(...)
O problema, segundo Maria José Nogueira Pinto, independente eleita nas listas do PSD, é quando a pluralidade não resulta de uma escolha livre. "Nós, burgueses, em nossa casa podemos fazer laudes à diversidade. Mas as pessoas que são objecto da diversidade, estão felizes e assim por opção?", questiona, lembrando que às famílias monoparentais estão associados maiores índices de pobreza. "Não é uma questão ideológica, sequer. São estatísticas."
As estatísticas, também elas, mostram que Portugal ocupa, na Europa a 15, o penúltimo lugar na transferência de verbas para as famílias em percentagem de Produto Interno Bruto (PIB) - 1,2%, quando a média europeia é de 2,1%. E a falta de verbas limita a oferta de novos serviços, lamenta Maria Saldanha Ribeiro, presidente do Instituto Português de Mediação Familiar. A experiência mostra que "as causas sociológicas são mais importantes do que as psicológicas" num divórcio. Embora "levianas na forma como destroem uma relação", as pessoas continuam a valorizar e perseguir a estabilidade, assegura a mediadora e psicóloga. Faltam, contudo, apoios e redes de suporte que as ajudem a ultrapassar as crises e conflitos.
(...)
Olhar para o que se faz lá fora e importar políticas, sem as devidas adaptações, nem sempre dá bons resultados, alerta Carlos Marques de Almeida, professor no St. Antony's College, em Oxford. "O que nós fazemos muitas vezes, diria quase sempre, é introduzir e adaptar conceitos que não são pensados para a sociedade portuguesa", afirma, acrescentando que a "ausência de pensamento crítico em Portugal" se traduz em "políticas públicas que não são adequadas à realidade nacional".
No "i", 28.12.2009
Investimento em serviços de mediação e aconselhamento familiar, introdução de aulas sobre sexualidade e estabilidade nas relações, além da criação de medidas que previnam as separações no período pós-natal são algumas das sugestões referidas pelo ministro britânico da Educação, Ed Balls, em declarações ao jornal "The Sunday Times". Pela primeira vez desde que há estatísticas oficiais, este ano as uniões oficializadas através do casamento tornaram-se minoritárias no Reino Unido. Ed Balls, casado com a ministra do Trabalho, assegura que o governo quer fazer mais no apoio às relações familiares. E considera um erro centrar as políticas de família na natalidade e nas crianças.
(...)
O problema, segundo Maria José Nogueira Pinto, independente eleita nas listas do PSD, é quando a pluralidade não resulta de uma escolha livre. "Nós, burgueses, em nossa casa podemos fazer laudes à diversidade. Mas as pessoas que são objecto da diversidade, estão felizes e assim por opção?", questiona, lembrando que às famílias monoparentais estão associados maiores índices de pobreza. "Não é uma questão ideológica, sequer. São estatísticas."
As estatísticas, também elas, mostram que Portugal ocupa, na Europa a 15, o penúltimo lugar na transferência de verbas para as famílias em percentagem de Produto Interno Bruto (PIB) - 1,2%, quando a média europeia é de 2,1%. E a falta de verbas limita a oferta de novos serviços, lamenta Maria Saldanha Ribeiro, presidente do Instituto Português de Mediação Familiar. A experiência mostra que "as causas sociológicas são mais importantes do que as psicológicas" num divórcio. Embora "levianas na forma como destroem uma relação", as pessoas continuam a valorizar e perseguir a estabilidade, assegura a mediadora e psicóloga. Faltam, contudo, apoios e redes de suporte que as ajudem a ultrapassar as crises e conflitos.
(...)
Olhar para o que se faz lá fora e importar políticas, sem as devidas adaptações, nem sempre dá bons resultados, alerta Carlos Marques de Almeida, professor no St. Antony's College, em Oxford. "O que nós fazemos muitas vezes, diria quase sempre, é introduzir e adaptar conceitos que não são pensados para a sociedade portuguesa", afirma, acrescentando que a "ausência de pensamento crítico em Portugal" se traduz em "políticas públicas que não são adequadas à realidade nacional".
No "i", 28.12.2009
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Novas posições na cama!
O ano está a terminar e acredito que todos temos alguma coisa que gostaríamos de ter feito (para além de ter corrido com o MM da câmara de Braga), mas que por uma razão ou outra não conseguimos.
Sugiro que tentem esta minha sugestão. Nada melhor do que experimentar umas novas posições na cama.
Quem não gosta? Talvez seja uma forma de compensarmos outras coisas que ficaram por fazer.
Não se iniba. Liberte a fera que há dentro de si e... força aí.
Ficam aqui as sugestões.
Sugiro que tentem esta minha sugestão. Nada melhor do que experimentar umas novas posições na cama.
Quem não gosta? Talvez seja uma forma de compensarmos outras coisas que ficaram por fazer.
Não se iniba. Liberte a fera que há dentro de si e... força aí.
Ficam aqui as sugestões.
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Paulo Novais
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18:59
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sábado, 26 de dezembro de 2009
Já voltei.
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Paulo Novais
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14:18
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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Venho já...
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Paulo Novais
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15:25
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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
"Memória viva à volta de Sá Carneiro"
"Tenho estado nos últimos dias a ver uma parte importante dos papéis inéditos de Francisco Sá Carneiro que cobrem os anos do PPD e do PSD entre 1974 e 1980. Os papéis significam notas e textos manuscritos, originais dactilografados, correspondência, textos de intervenções inéditas, actas, relatórios, etc., de Sá carneiro e do núcleo fundador do partido. Ainda estou longe de ter visto sequer metade de metade, mas a riqueza do que já vi permite um comentário, ainda que provisório e subjectivo, sujeito a um estudo posterior mais académico, sobre o que se pode aprender vendo esses papéis para a discussão actual sobre a crise (real) e o destino (ameaçado) do PSD, tal como ele é. Os papéis permitem percebê-lo como ele foi, nos momentos da sua génese, e assim compreender as enormes diferenças, o que resultou bem e o que resultou terrivelmente mal.
"É nítido que nos seus primeiros anos o PPD, e depois o PSD, era muito diferente da actualidade. Era constituído por uma elite nacional e local, os seus fundadores, que compreendia um conjunto de advogados, juristas, médicos, alguns reformados, professores, um ou outro engenheiro e alguns operários (sim, operários) e empregados. Mas os advogados eram o núcleo central dessa elite, quer a nível nacional, quer local. Esses advogados não eram alheios à intervenção política antes de 1974, uns na chamada "ala liberal" no tempo de Marcelo Caetano, outros como membros da oposição tradicional moderada e não comunista, com ligações à Maçonaria, e um ou outro como membro local da Acção Nacional Popular, o partido do regime. O núcleo central tinha uma forte influência da doutrina social da Igreja e do personalismo cristão, era politicamente liberal no sentido oitocentista do termo, reforçado por uma certa imagem do advogado como o defensor dos direitos individuais, e rapidamente se aproximou, depois do 25 de Abril, de uma social-democracia moderada ao modelo sueco e alemão.
"Por isso, do ponto de vista ideológico, a tentativa de aproximação à Internacional Socialista não foi apenas pragmática ou "oportunista", por razões de procura de legitimidade política no ambiente radicalizado de 1974-5. Bem pelo contrário. A adesão à Internacional Socialista era para Sá Carneiro (e para sectores ainda mais "socialistas" como era então a JSD) uma política consistente, fortemente desejada e considerada de grande importância, e prosseguida com grande vigor e muitos esforços. Sá Carneiro via aí também um travão a que o partido se deslocasse para a direita. O principal factor dessa deslocação era o anticomunismo, um factor comum nesta elite fundadora, mas ainda mais importante naquilo a que se viriam a chamar as "bases".
"Esta elite partidária, que depois, já de forma perversa e já na sua própria decadência, veio a ser qualificada de "barões", não estava acantonada num partido separado da governação. Bem pelo contrário, há um simbiose perfeita entre a direcção política partidária e a participação do PPD/PSD na governação, inclusive institucionalizada em órgãos como a Comissão Permanente para os Assuntos Governativos. Ou seja, a direcção do partido conduz politicamente a governação sem ambiguidades, e discute as grandes opções políticas e as prioridades legislativas, como é normal numa democracia parlamentar e partidária.
"A separação de águas entre partido e governo, feita pela exclusão do partido, foi típica dos anos de Cavaco Silva, e desertificou os órgãos de topo e deixou-o entregue apenas à política local e à partilha dos lugares de poder. É verdade, diga-se em favor de Cavaco Silva, que os órgãos de topo do partido, a Comissão Política em particular, tornou-se inconfiável devido às fugas de informação. No tempo de Sá Carneiro já havia fugas, mas não se compara à destruição do papel dos órgãos dirigentes do partido pelas sistemáticas fugas de informação dos seus membros. Este processo enfraqueceu o PSD, e os governos do PSD. O partido ficava entregue a uma agenda menor muito ligada à partilha do pequeno poder e o governo perde dimensão e condução política.
"Neste anos iniciais, a grande, absoluta diferença no retrato do PPD/PSD com a actualidade é que não havia aparelho, não havia um partido rigidamente estruturado e isolado socialmente e não havia "poder local". A elite dirigente comunicava com a "massa" do partido, através das "forças vivas locais" nos sítios de maior implantação, de forma quase perfeita. Embora houvesse uma rede de "notáveis", estes não eram profissionais partidários e prosseguiam as suas actividades profissionais ao mesmo tempo que se envolviam politicamente. Eram advogados, médicos, funcionários, professores, pequenos empresários, empregados, operários e "pepedês". Podiam até já fazer parte dos órgãos locais do partido, mas basta ver as histórias de implantação local, as actas dos organismos, existentes nos papéis de Sá Carneiro, para se perceber que a actividade em que se envolviam era de facto "militante": sessões de esclarecimento, comícios, mobilização local para eventos nacionais e alguma barganha política por influência, mas nada que se compare à actual gestão de sindicatos de voto, delegados aos congressos, lugares de deputados, vereadores, e outros de nomeação política. Havia "militância" no sentido militar original do termo, e uma forte identidade. Um dos autocolantes destes anos diz apenas "eu sou social-democrata".
"E depois há "povo laranjinha" que, nestes anos turbulentos, se mobilizava pelo anticomunismo no Norte, e ao lado da Igreja e da sociedade local, e que via os partidos mais à esquerda, PCP e MDP, tomarem todos os poderes por via "administrativa" com o apoio do MFA. Esse "povo" comunicava com idêntico "povo" socialista na defesa dos valores tradicionais postos em risco pelo PREC, em particular, nos meios camponeses, a propriedade privada. Mas uma parte dele desenvolveu rapidamente uma ligação "orgânica" com essa elite urbana e a sua expressão local, mais as "forças vivas", os self made man, que eram na sua maioria expressão do comércio ou da pequena indústria local, ou de uma nova burocracia que se começava a formar naquilo que viria a ser designado "poder local". Estas eram as "bases" originais. Esse "povo" não precisava de aparelho para se mobilizar e enquadrar, e constituiu uma força sempre ao dispor dos dirigentes nacionais do PSD até à Aliança Democrática. É provável que tenha sido a AD, um verdadeiro rolo compressor político, a última expressão deste PPD/PSD inicial.
"Por fim, há a política e a ideologia. Basta ler um discurso de Sá Carneiro para se perceber a enorme distância que existe entre o que o preocupava e motivava politicamente e o que passa por ser "política" na actualidade. Os seus papéis mostram uma contínua presença de questões ideológicas nos debates internos, e em particular as pastas sobre as dissidências que levaram à criação da ASDI revelam que, para além dos antagonismos pessoais, havia questões ideológicas e políticas de fundo. Mas, mais do que isso, mesmo em documentos que poderiam ser entendidos como conjunturais, existe uma ideia do ethos da política que impregnava a acção destes homens. Um documento interno como o "Memorando sobre as Negociações para a Constituição do II Governo Constitucional" começava com a seguinte frase: "Para o PSD, o traçado de uma nova política assume prioridade em relação ao mero problema do exercício do poder." Quem diria hoje isto com verdade?
"De facto, não era a carreira nem o "protagonismo" que motivava estes homens que fundaram o PSD. Tal não significava que fossem perfeitos e que não tivessem vaidades, ambições, presunções, mas como não eram de plástico, nem feitos por especialistas de "comunicação" e marketing, tinham profissões e sólido prestígio social, ganho fora e não dentro do partido, pensavam diferente, actuavam diferente, e o seu exemplo, tão importante em instituições como os partidos na sua génese, mobilizava de forma diferente, gente diferente.
"Nestes dias de aridez política e de muito oportunismo à solta, os papéis de Sá Carneiro continuarão a ser a melhor companhia para o militante do PSD que assina este artigo."
José Pacheco Pereira
in Público, 20091219
"É nítido que nos seus primeiros anos o PPD, e depois o PSD, era muito diferente da actualidade. Era constituído por uma elite nacional e local, os seus fundadores, que compreendia um conjunto de advogados, juristas, médicos, alguns reformados, professores, um ou outro engenheiro e alguns operários (sim, operários) e empregados. Mas os advogados eram o núcleo central dessa elite, quer a nível nacional, quer local. Esses advogados não eram alheios à intervenção política antes de 1974, uns na chamada "ala liberal" no tempo de Marcelo Caetano, outros como membros da oposição tradicional moderada e não comunista, com ligações à Maçonaria, e um ou outro como membro local da Acção Nacional Popular, o partido do regime. O núcleo central tinha uma forte influência da doutrina social da Igreja e do personalismo cristão, era politicamente liberal no sentido oitocentista do termo, reforçado por uma certa imagem do advogado como o defensor dos direitos individuais, e rapidamente se aproximou, depois do 25 de Abril, de uma social-democracia moderada ao modelo sueco e alemão.
"Por isso, do ponto de vista ideológico, a tentativa de aproximação à Internacional Socialista não foi apenas pragmática ou "oportunista", por razões de procura de legitimidade política no ambiente radicalizado de 1974-5. Bem pelo contrário. A adesão à Internacional Socialista era para Sá Carneiro (e para sectores ainda mais "socialistas" como era então a JSD) uma política consistente, fortemente desejada e considerada de grande importância, e prosseguida com grande vigor e muitos esforços. Sá Carneiro via aí também um travão a que o partido se deslocasse para a direita. O principal factor dessa deslocação era o anticomunismo, um factor comum nesta elite fundadora, mas ainda mais importante naquilo a que se viriam a chamar as "bases".
"Esta elite partidária, que depois, já de forma perversa e já na sua própria decadência, veio a ser qualificada de "barões", não estava acantonada num partido separado da governação. Bem pelo contrário, há um simbiose perfeita entre a direcção política partidária e a participação do PPD/PSD na governação, inclusive institucionalizada em órgãos como a Comissão Permanente para os Assuntos Governativos. Ou seja, a direcção do partido conduz politicamente a governação sem ambiguidades, e discute as grandes opções políticas e as prioridades legislativas, como é normal numa democracia parlamentar e partidária.
"A separação de águas entre partido e governo, feita pela exclusão do partido, foi típica dos anos de Cavaco Silva, e desertificou os órgãos de topo e deixou-o entregue apenas à política local e à partilha dos lugares de poder. É verdade, diga-se em favor de Cavaco Silva, que os órgãos de topo do partido, a Comissão Política em particular, tornou-se inconfiável devido às fugas de informação. No tempo de Sá Carneiro já havia fugas, mas não se compara à destruição do papel dos órgãos dirigentes do partido pelas sistemáticas fugas de informação dos seus membros. Este processo enfraqueceu o PSD, e os governos do PSD. O partido ficava entregue a uma agenda menor muito ligada à partilha do pequeno poder e o governo perde dimensão e condução política.
"Neste anos iniciais, a grande, absoluta diferença no retrato do PPD/PSD com a actualidade é que não havia aparelho, não havia um partido rigidamente estruturado e isolado socialmente e não havia "poder local". A elite dirigente comunicava com a "massa" do partido, através das "forças vivas locais" nos sítios de maior implantação, de forma quase perfeita. Embora houvesse uma rede de "notáveis", estes não eram profissionais partidários e prosseguiam as suas actividades profissionais ao mesmo tempo que se envolviam politicamente. Eram advogados, médicos, funcionários, professores, pequenos empresários, empregados, operários e "pepedês". Podiam até já fazer parte dos órgãos locais do partido, mas basta ver as histórias de implantação local, as actas dos organismos, existentes nos papéis de Sá Carneiro, para se perceber que a actividade em que se envolviam era de facto "militante": sessões de esclarecimento, comícios, mobilização local para eventos nacionais e alguma barganha política por influência, mas nada que se compare à actual gestão de sindicatos de voto, delegados aos congressos, lugares de deputados, vereadores, e outros de nomeação política. Havia "militância" no sentido militar original do termo, e uma forte identidade. Um dos autocolantes destes anos diz apenas "eu sou social-democrata".
"E depois há "povo laranjinha" que, nestes anos turbulentos, se mobilizava pelo anticomunismo no Norte, e ao lado da Igreja e da sociedade local, e que via os partidos mais à esquerda, PCP e MDP, tomarem todos os poderes por via "administrativa" com o apoio do MFA. Esse "povo" comunicava com idêntico "povo" socialista na defesa dos valores tradicionais postos em risco pelo PREC, em particular, nos meios camponeses, a propriedade privada. Mas uma parte dele desenvolveu rapidamente uma ligação "orgânica" com essa elite urbana e a sua expressão local, mais as "forças vivas", os self made man, que eram na sua maioria expressão do comércio ou da pequena indústria local, ou de uma nova burocracia que se começava a formar naquilo que viria a ser designado "poder local". Estas eram as "bases" originais. Esse "povo" não precisava de aparelho para se mobilizar e enquadrar, e constituiu uma força sempre ao dispor dos dirigentes nacionais do PSD até à Aliança Democrática. É provável que tenha sido a AD, um verdadeiro rolo compressor político, a última expressão deste PPD/PSD inicial.
"Por fim, há a política e a ideologia. Basta ler um discurso de Sá Carneiro para se perceber a enorme distância que existe entre o que o preocupava e motivava politicamente e o que passa por ser "política" na actualidade. Os seus papéis mostram uma contínua presença de questões ideológicas nos debates internos, e em particular as pastas sobre as dissidências que levaram à criação da ASDI revelam que, para além dos antagonismos pessoais, havia questões ideológicas e políticas de fundo. Mas, mais do que isso, mesmo em documentos que poderiam ser entendidos como conjunturais, existe uma ideia do ethos da política que impregnava a acção destes homens. Um documento interno como o "Memorando sobre as Negociações para a Constituição do II Governo Constitucional" começava com a seguinte frase: "Para o PSD, o traçado de uma nova política assume prioridade em relação ao mero problema do exercício do poder." Quem diria hoje isto com verdade?
"De facto, não era a carreira nem o "protagonismo" que motivava estes homens que fundaram o PSD. Tal não significava que fossem perfeitos e que não tivessem vaidades, ambições, presunções, mas como não eram de plástico, nem feitos por especialistas de "comunicação" e marketing, tinham profissões e sólido prestígio social, ganho fora e não dentro do partido, pensavam diferente, actuavam diferente, e o seu exemplo, tão importante em instituições como os partidos na sua génese, mobilizava de forma diferente, gente diferente.
"Nestes dias de aridez política e de muito oportunismo à solta, os papéis de Sá Carneiro continuarão a ser a melhor companhia para o militante do PSD que assina este artigo."
José Pacheco Pereira
in Público, 20091219
A maioria dos deputados de 1975, de 76...
"No meio da barafunda e da irresponsabilidade em que o país caiu - quem se lembra à beira da falência de ocupar o Parlamento com o casamento homossexual? Ou de fazer um monumento de um milhão à bandeira republicana, que na época a esmagadora maioria dos portugueses não queria - no meio deste caos, desta loucura, desta doença, os primeiros parlamentos do regime, a começar pela Constituinte, parecem monumentos de inteligência e de civismo. E de certa maneira foram. Mesmo num ambiente de histeria revolucionária, com o PC armado, a extrema esquerda na rua e, como de costume, o MFA em delírio, a Assembleia, ou a parte dela, não perdeu a dignidade e a coragem, resistiu à demagogia e acabou com dificuldade por preservar o essencial.
"Hoje, toda a gente diz que "Não há homens", como constantemente se disse durante o século XIX e o século XX: no fim da "Regeneração" de 1820, no fim das guerras civis de 1834-1851, no fim da Monarquia Constitucional, durante quase toda a República Jacobina. A nossa história alegadamente "moderna" tem sido uma desilusão perpétua, uma série de fracassos com pequenos períodos de alguma, muito vaga, prosperidade (quando vinha dinheiro de fora: de Inglaterra, por exemplo, do Brasil, ou depois da Europa). Mas dantes, nos piores momentos, sempre existiu uma esperança: a esperança da liberdade ou (para usar uma expressão do tempo) da "liberdade legal", da República, da ordem ou da social-democracia. Agora nem a esperança sobra e voltou a velha lamúria indígena: "Não há homens".
"E porquê? Por que razão não há homens? Porque, tanto no PS como no PSD, e até, ocasionalmente, no próprio CDS, a oposição à ditadura (clandestina, aberta ou "colaborante") os criara. A maioria dos deputados de 1975, de 76, de 79, de 80, chegou a São Bento por convicção, com sacrifício, com risco (principalmente, em 75) e, ponto importante, com uma carreira respeitável. Poucos vieram por oportunismo. Quase nenhum para se promover, para ganhar influência, para entrar nos "negócios", para ar-ranjar um emprego. As coisas mudaram quando a política se profissionalizou e o interesse geral foi subordinado ao interesse particular do partido e, dentro do partido, ao de cada indivíduo. O país que se lixe. A obsessão da Assembleia (e do Governo) é meramente táctica: o voto, a vantagem imediata, o efeito na televisão ou na imprensa. É uma obsessão estéril e torpe. Não, de facto, não há homens."
Vasco Pulido Valente
in Público, 19/12/2009
"Hoje, toda a gente diz que "Não há homens", como constantemente se disse durante o século XIX e o século XX: no fim da "Regeneração" de 1820, no fim das guerras civis de 1834-1851, no fim da Monarquia Constitucional, durante quase toda a República Jacobina. A nossa história alegadamente "moderna" tem sido uma desilusão perpétua, uma série de fracassos com pequenos períodos de alguma, muito vaga, prosperidade (quando vinha dinheiro de fora: de Inglaterra, por exemplo, do Brasil, ou depois da Europa). Mas dantes, nos piores momentos, sempre existiu uma esperança: a esperança da liberdade ou (para usar uma expressão do tempo) da "liberdade legal", da República, da ordem ou da social-democracia. Agora nem a esperança sobra e voltou a velha lamúria indígena: "Não há homens".
"E porquê? Por que razão não há homens? Porque, tanto no PS como no PSD, e até, ocasionalmente, no próprio CDS, a oposição à ditadura (clandestina, aberta ou "colaborante") os criara. A maioria dos deputados de 1975, de 76, de 79, de 80, chegou a São Bento por convicção, com sacrifício, com risco (principalmente, em 75) e, ponto importante, com uma carreira respeitável. Poucos vieram por oportunismo. Quase nenhum para se promover, para ganhar influência, para entrar nos "negócios", para ar-ranjar um emprego. As coisas mudaram quando a política se profissionalizou e o interesse geral foi subordinado ao interesse particular do partido e, dentro do partido, ao de cada indivíduo. O país que se lixe. A obsessão da Assembleia (e do Governo) é meramente táctica: o voto, a vantagem imediata, o efeito na televisão ou na imprensa. É uma obsessão estéril e torpe. Não, de facto, não há homens."
Vasco Pulido Valente
in Público, 19/12/2009
O princípio da laicidade
"O princípio da laicidade comporta o respeito de toda confissão religiosa por parte do Estado, «que assegura o livre exercício das atividades cultuais, espirituais, culturais e caritativas das comunidades dos crentes. Numa sociedade pluralista, a laicidade é um lugar de comunicação entre as diferentes tradições espirituais e a nação»[João Paulo II]. Infelizmente permanecem ainda, inclusive nas sociedades democráticas, expressões de laicismo intolerante, que hostilizam qualquer forma de relevância política e cultural da fé, procurando desqualificar o empenho social e político dos cristãos, porque se reconhecem nas verdades ensinadas pela Igreja e obedecem ao dever moral de ser coerentes com a própria consciência; chega-se também e mais radicalmente a negar a própria ética natural. Esta negação, que perspectiva uma condição de anarquia moral cuja consequência é a prepotência do mais forte sobre o mais fraco, não pode ser acolhida por nenhuma forma legítima de pluralismo, porque mina as próprias bases da convivência humana. À luz deste estado de coisas, «a marginalização do Cristianismo não poderia ajudar ao projecto de uma sociedade futura e à concórdia entre os povos; seria, pelo contrário, uma ameaça para os próprios fundamentos espirituais e culturais da civilização»."
Compêndio Doutrina Social da Igreja; 572.
Compêndio Doutrina Social da Igreja; 572.
Inglaterra: Ministro sombra dos Conservadores defende apoio à família
Marriage is becoming preserve of middle-classes, Tories claim Party plans tax breaks and support for fathers to promote traditional family
(guardian.co.uk)
Marriage in Britain is in danger of becoming an exclusive middle-class institution unless action is taken to bolster it, David Willetts, the shadow cabinet member responsible for the family, says today.
Speaking to the Guardian, Willetts said it would be "extremely dangerous if marriage became something only for the affluent elite" and that the rate of family break-ups was a disaster for children.
The Conservatives are due to publish their ideas on the family in a discussion paper arguing the state and the voluntary sector can do more to help fathers in relationships, especially at the birth of the first child, frequently a point where couples drift apart and separate.
The party will also back recognition of marriage in the tax system, as well as providing relationship advice at civil marriage ceremonies.
The green paper will propose changes in the law to make it easier for grandparents and fathers to stay in contact with children when marriages break up.
Willetts insisted there was measurable evidence to show that married couples with children, as opposed to cohabiting couples, stayed together longer to the benefit of children.
"The aspiration of marriage is becoming harder to achieve. Instead of it becoming just what you do in your 20s, it has become like scaling Mount Everest, a sort of great moral endeavour – and something that requires a lot of time and money. We think we need to ease some of the pressures," he said.
"There is quite a lot of evidence coming from America about how we are in danger of heading towards a society where middle-class people get married and people on low and erratic incomes don't get married, and that in turn leads to a divergence of a whole host of other outcomes.
"In my view it would be extremely dangerous if marriage became something only for the affluent elite and that is what will happen, unless we try to get some kind of policy that restores it as a more widespread institution as we had in the past."
Research from Essex University shows that less educated women born after 1960 have a divorce rate 30% higher than that of the better educated. They are also more likely to have a child outside a live-in partnership. The figures and trends are even more pronounced in the US.
One explanation for the middle-class bias towards marriage in the US, Willetts said, was the fact that there were fewer eligible working-class males, owing to deskilling of societies.
He insisted that the Tories were not returning to a back-to-basics preaching agenda, and recognised that some marriages will fail.
Owing to budgetary pressures it was unlikely that recognition of marriage in the tax system would appear in the Tories' first budget, but it was important to establish the principle, he said. Recognition of marriage in the tax system would bring Britain back into the mainstream of European society, he argued.
(...)
Latest UK evidence shows marriage rates are at a historic low, with only 270,000 people married last year compared with 480,285 at the peak in 1972.
Willetts defended his belief that marriage helped couples stay together to the benefit of the child, saying: "Any society in which something as massive as this institution of marriage with a deep history, with roots in its culture, with public recognition, where it didn't affect behaviour would be very odd indeed."
He insisted: "I think there are things that have gone deeply wrong with our country. The rate of family break-up is a disaster for children."
Current evidence suggested that people divorced too readily, but Willetts admitted that his party could find no way to make divorce more difficult in law.
The green paper will propose home nurse visits for new families with greater emphasis on help for the father, and relationship guidance at the time of a civil marriage similar to that given by a vicar. He would also like to spread the model of the Bristol community family trust that provides relationship courses to 30% of new mothers in the city.
(...)
Patrick Wintour and Nicholas Watt,
in guardian.co.uk, Tuesday 22 December 2009
(guardian.co.uk)
Marriage in Britain is in danger of becoming an exclusive middle-class institution unless action is taken to bolster it, David Willetts, the shadow cabinet member responsible for the family, says today.
Speaking to the Guardian, Willetts said it would be "extremely dangerous if marriage became something only for the affluent elite" and that the rate of family break-ups was a disaster for children.
The Conservatives are due to publish their ideas on the family in a discussion paper arguing the state and the voluntary sector can do more to help fathers in relationships, especially at the birth of the first child, frequently a point where couples drift apart and separate.
The party will also back recognition of marriage in the tax system, as well as providing relationship advice at civil marriage ceremonies.
The green paper will propose changes in the law to make it easier for grandparents and fathers to stay in contact with children when marriages break up.
Willetts insisted there was measurable evidence to show that married couples with children, as opposed to cohabiting couples, stayed together longer to the benefit of children.
"The aspiration of marriage is becoming harder to achieve. Instead of it becoming just what you do in your 20s, it has become like scaling Mount Everest, a sort of great moral endeavour – and something that requires a lot of time and money. We think we need to ease some of the pressures," he said.
"There is quite a lot of evidence coming from America about how we are in danger of heading towards a society where middle-class people get married and people on low and erratic incomes don't get married, and that in turn leads to a divergence of a whole host of other outcomes.
"In my view it would be extremely dangerous if marriage became something only for the affluent elite and that is what will happen, unless we try to get some kind of policy that restores it as a more widespread institution as we had in the past."
Research from Essex University shows that less educated women born after 1960 have a divorce rate 30% higher than that of the better educated. They are also more likely to have a child outside a live-in partnership. The figures and trends are even more pronounced in the US.
One explanation for the middle-class bias towards marriage in the US, Willetts said, was the fact that there were fewer eligible working-class males, owing to deskilling of societies.
He insisted that the Tories were not returning to a back-to-basics preaching agenda, and recognised that some marriages will fail.
Owing to budgetary pressures it was unlikely that recognition of marriage in the tax system would appear in the Tories' first budget, but it was important to establish the principle, he said. Recognition of marriage in the tax system would bring Britain back into the mainstream of European society, he argued.
(...)
Latest UK evidence shows marriage rates are at a historic low, with only 270,000 people married last year compared with 480,285 at the peak in 1972.
Willetts defended his belief that marriage helped couples stay together to the benefit of the child, saying: "Any society in which something as massive as this institution of marriage with a deep history, with roots in its culture, with public recognition, where it didn't affect behaviour would be very odd indeed."
He insisted: "I think there are things that have gone deeply wrong with our country. The rate of family break-up is a disaster for children."
Current evidence suggested that people divorced too readily, but Willetts admitted that his party could find no way to make divorce more difficult in law.
The green paper will propose home nurse visits for new families with greater emphasis on help for the father, and relationship guidance at the time of a civil marriage similar to that given by a vicar. He would also like to spread the model of the Bristol community family trust that provides relationship courses to 30% of new mothers in the city.
(...)
Patrick Wintour and Nicholas Watt,
in guardian.co.uk, Tuesday 22 December 2009
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Liberdade ou conformidade?
ENSAIO
Liberdade ou conformidade? O caso de D. António Barroso
Por que razão a Primeira República perseguiu a Igreja Católica em nome da liberdade? Porque a Igreja se opunha à liberdade? Ou porque os republicanos usavam a palavra "liberdade" para designar uma coisa muito diferente da liberdade propriamente dita?
Há um livro recente que tem um título curioso e que vale a pena ler. Chama-se "Réu da República: o Missionário D. António Barroso, Bispo do Porto" (Aletheia, 2009). Os autores, Carlos Azevedo e Amadeu Araújo, contam a história de um homem - D. António Barroso - e da época em que ele viveu, entre 1854 e 1918. Na história desse homem e dessa época estão contidos alguns dos grandes equívocos que em Portugal - bem como na generalidade das culturas europeias continentais - foram associados ao conceito de liberdade. Foi em nome desses equívocos que se cometeram, e por vezes ainda cometem, gravíssimos atentados contra a liberdade.
PARADOXO DA LIBERDADE A história da perseguição da Primeira República a D. António Barroso ilustra o paradoxo que consiste na perseguição à liberdade em nome da liberdade. Esse paradoxo domina a história política moderna da Europa continental desde, pelo menos, a Revolução Francesa de 1789 - essa "doença infecciosa", como lhe chamou Edmund Burke. Em Portugal, esse paradoxo esteve gritantemente patente na Primeira República, entre 1910 e 1926.
A grande questão política e filosófica que a perseguição ao bispo do Porto levanta é saber por que razão a Primeira República perseguiu a Igreja Católica em nome da liberdade. Porque a Igreja se opunha à liberdade? Ou porque os republicanos usavam a palavra "liberdade" para designar uma coisa muito diferente da liberdade propriamente dita?
DOIS CONCEITOS DE LIBERDADE Quando Afonso Costa declarou que a República acabaria com o catolicismo em duas gerações, forneceu um sinal importante para compreender a natureza autoritária do seu entendimento do conceito de liberdade e de República. Para ele, liberdade não era o conceito clássico, a que chamamos negativo, de ausência de coerção intencional por terceiros. Para ele, liberdade queria dizer libertação de concepções que ele considerava erradas e opressoras, como a religião católica.
Afonso Costa subscrevia o conceito positivo de liberdade, tal como este foi descrito por Isaiah Berlin no seu ensaio clássico, "Two Concepts of Liberty": a liberdade positiva, em contraste com a negativa, é entendida como a capacidade ou o poder de emancipação pessoal relativamente a tradições, crenças, superstições que os advogados da liberdade positiva consideram opressoras. No caso português, os advogados desta liberdade em sentido positivo sempre consideraram o catolicismo a principal fonte de opressão.
DUAS OPINIÕES PARTICULARES É agora importante observar que não há em princípio nenhum problema político em considerar o catolicismo opressor. Num país livre, as opiniões são livres. Considerar o catolicismo opressor é uma opinião particular, tal como é uma opinião particular considerar o catolicismo libertador, ou civilizador. Não há ainda nenhum problema político em tentar convencer os outros da bondade, ou da justeza, de cada uma destas opiniões. É para isso que serve a liberdade de expressão e de associação. As pessoas devem ser livres de exprimir as suas opiniões particulares e de se associarem para o fazer.
Daí nascerá possivelmente um confronto entre opiniões diferentes. Esse confronto é aliás muito saudável para cada uma dessas opiniões particulares: vai submetê-las à concorrência de opiniões rivais, obrigando-as, como escreveu John Stuart Mill, a tentar não ser dogmas mortos, e a tentar ser verdades vivas.
VERDADEIRA LIBERDADE? Onde começa a haver um problema é quando uma destas opiniões particulares, ou ambas, começam a reclamar para si a "verdadeira liberdade". Se a "verdadeira liberdade" consiste em subscrever a opinião de que o catolicismo é opressor, então uma pessoa só será livre quando descobrir, ou aceitar, que o catolicismo é opressor - logo, quando deixar de ser católica.
Isso quer dizer que uma pessoa que seja católica de livre vontade não está realmente a ser livre. Está alienada, como diria o marxismo, ou oprimida, ainda que de livre vontade. Vai então ser necessário - como escreveu esse fanático com talento que deu pelo nome de Jean-Jacques Rousseu - "libertá-la contra a sua própria vontade".
OU VERDADEIRA CONFORMIDADE? Na esteira de Jean-Jacques Rousseau, Afonso Costa queria libertar os portugueses católicos contra a sua própria vontade [sua dos católicos, bem entendido, não de Afonso Costa]. Tal como Rousseau, ele confundia liberdade com conformidade com certas opiniões particulares, curiosamente, as suas próprias opiniões particulares.
Por outras palavras, seriam livres apenas aqueles que aceitassem as opiniões particulares de Afonso Costa acerca da natureza opressora do catolicismo. E ele, com evidente altruísmo, propunha-se libertar os portugueses em duas gerações - isto é, propunha-se obter em duas gerações a total uniformidade e conformidade do país com a sua opinião de que o catolicismo é opressor.
LIBERDADE É LIBERDADE Talvez valha agora a pena recordar que esta ideia seria vista como simplesmente despótica por uma outra tradição que se reclama da liberdade, mas que a entende como simples ausência de coerção intencional de terceiros. Para essa tradição, "liberdade é liberdade, não é igualdade, nem equidade, nem justiça, nem cultura, nem felicidade humana, nem consciência tranquila" - para citar uma passagem célebre de Isaiah Berlin.
Por outras palavras, para esta tradição, liberdade é ausência de coerção intencional de terceiros. Por isso, a liberdade começa, antes de tudo o resto, na liberdade de consciência da pessoa, seja ela católica seja anticatólica, ou simplesmente agnóstica. E isso implica a liberdade das associações entre essas pessoas, designadamente a liberdade das igrejas, entre as quais se encontra a Igreja Católica.
"CASAMENTO" GAY Esta confusão entre dois conceitos de liberdade volta hoje a estar presente na famigerada campanha para a instauração do chamado casamento entre pessoas do mesmo sexo. Dizem-nos que a única posição compatível com a liberdade é a que defende o casamento enquanto contrato voluntário entre [por enquanto] duas pessoas, sejam elas do mesmo sexo sejam de sexos diferentes. Por isso é acrescentado que quem quer que discorde deste ponto de vista defende um ponto de vista opressor, uma vez que recusa direitos iguais à posição divergente, a que defende casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Há aqui uma curiosa dissonância cognitiva. O que temos pela frente é uma discordância entre duas opiniões particulares, igualmente legítimas no plano político. Não há uma opinião opressora e uma opinião livre. A opinião de que os casamentos devem envolver pessoas do mesmo sexo é um ponto de vista tão particular e tão criticável como a opinião de que os casamentos devem apenas abranger pessoas de sexo diferente. Isto significa que, se impusermos na lei que os casamentos devem abranger pessoas do mesmo sexo, estamos a impor uma opinião particular sobre as pessoas que defendem uma opinião particular diferente, a de que o casamento deve ser para pessoas de sexo diferente.
INGLATERRA MARÍTIMA Por outras palavras, nenhuma das propostas em presença é neutra e o Estado não pode reclamar-se de qualquer delas em nome da neutralidade relativamente a concepções particulares do bem. Perante este dilema, uma sociedade livre tem uma solução relativamente simples, embora ela possa não satisfazer os fundamentalistas de ambos os lados: manter o casamento para pessoas de sexo diferente e criar uma instituição jurídica diferente para as uniões do mesmo sexo. Estas últimas podem também ser abertas a casais de sexo diferente que considerem a sua união equivalente às uniões entre casais do mesmo sexo.
Esta foi a solução pacificamente adoptada na "livre Inglaterra", com a criação das "civil partnerships". É a solução liberal por excelência, que corresponde ao princípio "live and let live", viver e deixar viver. Não requer um acordo, nem sequer uma votação por maioria. Deixa espaço para a convivência pacífica entre as duas opiniões, sem que uma tenha de se impor à outra.
ESPANHA CONTINENTAL Previsivelmente, essa solução liberal não satisfez a vizinha Espanha, herdeira de séculos de despotismo continental e de sectarismo entre facções rivais. Existe, por isso, uma escolha simples: entre o exemplo da marítima Inglaterra ou da Espanha continental. Havendo dúvidas nesta escolha, o melhor caminho a seguir seria sem dúvida o referendo.
GOVERNO ILIMITADO Ao recordarmos o bispo do Porto, D. António Barroso, e a perseguição contra ele movida pela Primeira República, devemos recordar os malefícios de todo o poder político ilimitado - seja ele em nome da liberdade, como no caso da Primeira República, seja em nome da ordem, como no caso do Estado Novo, que perseguiu outro bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes. E devemos recordar os fundamentos do poder político numa sociedade livre.
Numa sociedade livre, o poder político não tem nem pode ter ideologia particular. A sua missão é proteger a liberdade dos cidadãos de usufruírem de modos de vida pacíficos em que se sintam confortáveis. Esses modos de vida não são concebidos por ninguém. Emergem gradual e espontaneamente da interacção entre pessoas, famílias e instituições. Não compete ao poder político dirigir esses modos de vida. Compete-lhe apenas regulá-los externamente, como um árbitro regula um jogo entre equipas rivais, sem se imiscuir na vida interna de cada equipa.
DE ATENAS À REPÚBLICA Este é o ideal do governo limitado pela lei, um ideal que remonta à Grécia antiga e à civilização marítima da Atenas do século v a. C. Para este ideal, deu um poderoso contributo o cristianismo e, dentro dele, a Igreja Católica, quando não se deixou seduzir pela identificação com o poder político. D. António Barroso foi um expoente dessa independência da Igreja e, por isso, da liberdade religiosa.
No próximo ano, em que celebramos o centenário da República, devíamos celebrar a memória de D. António - que nos ensina a entender o regime republicano de forma civilizada, como um lar de todos os portugueses, e não apenas de alguns.
por João Carlos Espada, Publicado no "i" a 19 de Dezembro de 2009
Doutorado em Ciência Política em Oxford, João Carlos Espada é director do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa e da revista “Nova Cidadania”. É também presidente da Churchill Society de Portugal
Liberdade ou conformidade? O caso de D. António Barroso
Por que razão a Primeira República perseguiu a Igreja Católica em nome da liberdade? Porque a Igreja se opunha à liberdade? Ou porque os republicanos usavam a palavra "liberdade" para designar uma coisa muito diferente da liberdade propriamente dita?
Há um livro recente que tem um título curioso e que vale a pena ler. Chama-se "Réu da República: o Missionário D. António Barroso, Bispo do Porto" (Aletheia, 2009). Os autores, Carlos Azevedo e Amadeu Araújo, contam a história de um homem - D. António Barroso - e da época em que ele viveu, entre 1854 e 1918. Na história desse homem e dessa época estão contidos alguns dos grandes equívocos que em Portugal - bem como na generalidade das culturas europeias continentais - foram associados ao conceito de liberdade. Foi em nome desses equívocos que se cometeram, e por vezes ainda cometem, gravíssimos atentados contra a liberdade.
PARADOXO DA LIBERDADE A história da perseguição da Primeira República a D. António Barroso ilustra o paradoxo que consiste na perseguição à liberdade em nome da liberdade. Esse paradoxo domina a história política moderna da Europa continental desde, pelo menos, a Revolução Francesa de 1789 - essa "doença infecciosa", como lhe chamou Edmund Burke. Em Portugal, esse paradoxo esteve gritantemente patente na Primeira República, entre 1910 e 1926.
A grande questão política e filosófica que a perseguição ao bispo do Porto levanta é saber por que razão a Primeira República perseguiu a Igreja Católica em nome da liberdade. Porque a Igreja se opunha à liberdade? Ou porque os republicanos usavam a palavra "liberdade" para designar uma coisa muito diferente da liberdade propriamente dita?
DOIS CONCEITOS DE LIBERDADE Quando Afonso Costa declarou que a República acabaria com o catolicismo em duas gerações, forneceu um sinal importante para compreender a natureza autoritária do seu entendimento do conceito de liberdade e de República. Para ele, liberdade não era o conceito clássico, a que chamamos negativo, de ausência de coerção intencional por terceiros. Para ele, liberdade queria dizer libertação de concepções que ele considerava erradas e opressoras, como a religião católica.
Afonso Costa subscrevia o conceito positivo de liberdade, tal como este foi descrito por Isaiah Berlin no seu ensaio clássico, "Two Concepts of Liberty": a liberdade positiva, em contraste com a negativa, é entendida como a capacidade ou o poder de emancipação pessoal relativamente a tradições, crenças, superstições que os advogados da liberdade positiva consideram opressoras. No caso português, os advogados desta liberdade em sentido positivo sempre consideraram o catolicismo a principal fonte de opressão.
DUAS OPINIÕES PARTICULARES É agora importante observar que não há em princípio nenhum problema político em considerar o catolicismo opressor. Num país livre, as opiniões são livres. Considerar o catolicismo opressor é uma opinião particular, tal como é uma opinião particular considerar o catolicismo libertador, ou civilizador. Não há ainda nenhum problema político em tentar convencer os outros da bondade, ou da justeza, de cada uma destas opiniões. É para isso que serve a liberdade de expressão e de associação. As pessoas devem ser livres de exprimir as suas opiniões particulares e de se associarem para o fazer.
Daí nascerá possivelmente um confronto entre opiniões diferentes. Esse confronto é aliás muito saudável para cada uma dessas opiniões particulares: vai submetê-las à concorrência de opiniões rivais, obrigando-as, como escreveu John Stuart Mill, a tentar não ser dogmas mortos, e a tentar ser verdades vivas.
VERDADEIRA LIBERDADE? Onde começa a haver um problema é quando uma destas opiniões particulares, ou ambas, começam a reclamar para si a "verdadeira liberdade". Se a "verdadeira liberdade" consiste em subscrever a opinião de que o catolicismo é opressor, então uma pessoa só será livre quando descobrir, ou aceitar, que o catolicismo é opressor - logo, quando deixar de ser católica.
Isso quer dizer que uma pessoa que seja católica de livre vontade não está realmente a ser livre. Está alienada, como diria o marxismo, ou oprimida, ainda que de livre vontade. Vai então ser necessário - como escreveu esse fanático com talento que deu pelo nome de Jean-Jacques Rousseu - "libertá-la contra a sua própria vontade".
OU VERDADEIRA CONFORMIDADE? Na esteira de Jean-Jacques Rousseau, Afonso Costa queria libertar os portugueses católicos contra a sua própria vontade [sua dos católicos, bem entendido, não de Afonso Costa]. Tal como Rousseau, ele confundia liberdade com conformidade com certas opiniões particulares, curiosamente, as suas próprias opiniões particulares.
Por outras palavras, seriam livres apenas aqueles que aceitassem as opiniões particulares de Afonso Costa acerca da natureza opressora do catolicismo. E ele, com evidente altruísmo, propunha-se libertar os portugueses em duas gerações - isto é, propunha-se obter em duas gerações a total uniformidade e conformidade do país com a sua opinião de que o catolicismo é opressor.
LIBERDADE É LIBERDADE Talvez valha agora a pena recordar que esta ideia seria vista como simplesmente despótica por uma outra tradição que se reclama da liberdade, mas que a entende como simples ausência de coerção intencional de terceiros. Para essa tradição, "liberdade é liberdade, não é igualdade, nem equidade, nem justiça, nem cultura, nem felicidade humana, nem consciência tranquila" - para citar uma passagem célebre de Isaiah Berlin.
Por outras palavras, para esta tradição, liberdade é ausência de coerção intencional de terceiros. Por isso, a liberdade começa, antes de tudo o resto, na liberdade de consciência da pessoa, seja ela católica seja anticatólica, ou simplesmente agnóstica. E isso implica a liberdade das associações entre essas pessoas, designadamente a liberdade das igrejas, entre as quais se encontra a Igreja Católica.
"CASAMENTO" GAY Esta confusão entre dois conceitos de liberdade volta hoje a estar presente na famigerada campanha para a instauração do chamado casamento entre pessoas do mesmo sexo. Dizem-nos que a única posição compatível com a liberdade é a que defende o casamento enquanto contrato voluntário entre [por enquanto] duas pessoas, sejam elas do mesmo sexo sejam de sexos diferentes. Por isso é acrescentado que quem quer que discorde deste ponto de vista defende um ponto de vista opressor, uma vez que recusa direitos iguais à posição divergente, a que defende casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Há aqui uma curiosa dissonância cognitiva. O que temos pela frente é uma discordância entre duas opiniões particulares, igualmente legítimas no plano político. Não há uma opinião opressora e uma opinião livre. A opinião de que os casamentos devem envolver pessoas do mesmo sexo é um ponto de vista tão particular e tão criticável como a opinião de que os casamentos devem apenas abranger pessoas de sexo diferente. Isto significa que, se impusermos na lei que os casamentos devem abranger pessoas do mesmo sexo, estamos a impor uma opinião particular sobre as pessoas que defendem uma opinião particular diferente, a de que o casamento deve ser para pessoas de sexo diferente.
INGLATERRA MARÍTIMA Por outras palavras, nenhuma das propostas em presença é neutra e o Estado não pode reclamar-se de qualquer delas em nome da neutralidade relativamente a concepções particulares do bem. Perante este dilema, uma sociedade livre tem uma solução relativamente simples, embora ela possa não satisfazer os fundamentalistas de ambos os lados: manter o casamento para pessoas de sexo diferente e criar uma instituição jurídica diferente para as uniões do mesmo sexo. Estas últimas podem também ser abertas a casais de sexo diferente que considerem a sua união equivalente às uniões entre casais do mesmo sexo.
Esta foi a solução pacificamente adoptada na "livre Inglaterra", com a criação das "civil partnerships". É a solução liberal por excelência, que corresponde ao princípio "live and let live", viver e deixar viver. Não requer um acordo, nem sequer uma votação por maioria. Deixa espaço para a convivência pacífica entre as duas opiniões, sem que uma tenha de se impor à outra.
ESPANHA CONTINENTAL Previsivelmente, essa solução liberal não satisfez a vizinha Espanha, herdeira de séculos de despotismo continental e de sectarismo entre facções rivais. Existe, por isso, uma escolha simples: entre o exemplo da marítima Inglaterra ou da Espanha continental. Havendo dúvidas nesta escolha, o melhor caminho a seguir seria sem dúvida o referendo.
GOVERNO ILIMITADO Ao recordarmos o bispo do Porto, D. António Barroso, e a perseguição contra ele movida pela Primeira República, devemos recordar os malefícios de todo o poder político ilimitado - seja ele em nome da liberdade, como no caso da Primeira República, seja em nome da ordem, como no caso do Estado Novo, que perseguiu outro bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes. E devemos recordar os fundamentos do poder político numa sociedade livre.
Numa sociedade livre, o poder político não tem nem pode ter ideologia particular. A sua missão é proteger a liberdade dos cidadãos de usufruírem de modos de vida pacíficos em que se sintam confortáveis. Esses modos de vida não são concebidos por ninguém. Emergem gradual e espontaneamente da interacção entre pessoas, famílias e instituições. Não compete ao poder político dirigir esses modos de vida. Compete-lhe apenas regulá-los externamente, como um árbitro regula um jogo entre equipas rivais, sem se imiscuir na vida interna de cada equipa.
DE ATENAS À REPÚBLICA Este é o ideal do governo limitado pela lei, um ideal que remonta à Grécia antiga e à civilização marítima da Atenas do século v a. C. Para este ideal, deu um poderoso contributo o cristianismo e, dentro dele, a Igreja Católica, quando não se deixou seduzir pela identificação com o poder político. D. António Barroso foi um expoente dessa independência da Igreja e, por isso, da liberdade religiosa.
No próximo ano, em que celebramos o centenário da República, devíamos celebrar a memória de D. António - que nos ensina a entender o regime republicano de forma civilizada, como um lar de todos os portugueses, e não apenas de alguns.
por João Carlos Espada, Publicado no "i" a 19 de Dezembro de 2009
Doutorado em Ciência Política em Oxford, João Carlos Espada é director do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa e da revista “Nova Cidadania”. É também presidente da Churchill Society de Portugal
Dar Jesus (Natal feliz!)
«Maria pôs-se a caminho» Lc 1, 39
"A vivacidade e a alegria eram a força de Nossa Senhora. Foi isso que fez dela a serva apressada de Deus, Seu filho, porque assim que Ele veio até ela, «pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha». Apenas a alegria podia dar-lhe força para partir rapidamente para as montanhas da Judeia, a fim de se tornar serva de sua prima. Acontece o mesmo connosco; tal como ela, devemos ser verdadeiros servos do Senhor e todos os dias, após a sagrada comunhão, apressar-nos a subir as montanhas de dificuldades com que deparamos ao oferecer com todo o coração o nosso serviço aos pobres. Dai Jesus aos pobres enquanto servos do Senhor.
"A alegria é a oração, a alegria é a força, a alegria é o amor, é um fio de amor graças ao qual podereis captar as almas. «Deus ama aquele que dá com alegria» (2Cor 9, 7). Aquele que dá com alegria dá mais. Se encontrarmos dificuldades no trabalho e as aceitarmos com alegria, com um grande sorriso, nisto como em muitas outras coisas constatar-se-á que as nossas obras são boas e o Pai será glorificado. A melhor maneira de mostrardes a vossa gratidão a Deus e aos homens é aceitar tudo com alegria. Um coração alegre provém de um coração que arde de amor.
Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Jesus, the Word to Be Spoken, cap. 12
"A vivacidade e a alegria eram a força de Nossa Senhora. Foi isso que fez dela a serva apressada de Deus, Seu filho, porque assim que Ele veio até ela, «pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha». Apenas a alegria podia dar-lhe força para partir rapidamente para as montanhas da Judeia, a fim de se tornar serva de sua prima. Acontece o mesmo connosco; tal como ela, devemos ser verdadeiros servos do Senhor e todos os dias, após a sagrada comunhão, apressar-nos a subir as montanhas de dificuldades com que deparamos ao oferecer com todo o coração o nosso serviço aos pobres. Dai Jesus aos pobres enquanto servos do Senhor.
"A alegria é a oração, a alegria é a força, a alegria é o amor, é um fio de amor graças ao qual podereis captar as almas. «Deus ama aquele que dá com alegria» (2Cor 9, 7). Aquele que dá com alegria dá mais. Se encontrarmos dificuldades no trabalho e as aceitarmos com alegria, com um grande sorriso, nisto como em muitas outras coisas constatar-se-á que as nossas obras são boas e o Pai será glorificado. A melhor maneira de mostrardes a vossa gratidão a Deus e aos homens é aceitar tudo com alegria. Um coração alegre provém de um coração que arde de amor.
Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Jesus, the Word to Be Spoken, cap. 12
domingo, 20 de dezembro de 2009
O Palhaço
O Palhaço
O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem.
O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.
Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.
O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar.
E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples.
Ou nós, ou o palhaço.
Mário Crespo
O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem.
O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.
Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.
O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar.
E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples.
Ou nós, ou o palhaço.
Mário Crespo
Publicada por
Hugo Sá Pinto
às
23:54
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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Hoje alguém me relembrou...
Que dizer? O que é bom, será sempre bom. O que é excelente é eternizado.
Hoje alguém me relembrou. E que bem que me soube. Espero estar a contribuir para que sintam algo parecido ao que senti.
Hoje alguém me relembrou...
Hoje alguém me relembrou. E que bem que me soube. Espero estar a contribuir para que sintam algo parecido ao que senti.
Hoje alguém me relembrou...
George Harrisom - My Sweet Lord
Vale mesmo a pena. A qualidade de som e vídeo não é das melhores, mas...
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Paulo Novais
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15:46
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Frase do dia (diria do ano)!
A maioria dos políticos portugueses são católicos.
E praticantes!
Nunca assinam nada sem ter "um terço na mão".
Fonte: obrigado pelo email J.B.
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Paulo Novais
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12:08
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Expectação da Virgem Santa Maria
Esta festa (comemorada hoje, dia 18 de Dezembro), conhecida entre o povo português como de Nossa Senhora do Ó, celebra o desejo de Maria, o desejo de milhares de gerações que suspiraram, que suspiram pela vinda do Messias.
Não é só a ansiedade natural da jovem mãe que espera o seu primogénito; é o desejo sobrenatural da "bendita entre todas as mulheres", que foi escolhida para Mãe do Salvador de cada homem e de toda a humanidade. O Filho que vai nascer não vem simplesmente para beijar e sorrir para a Sua Mãe, mas para resgatar o povo com o Seu Sangue.
Por estes dias, a Igreja canta as chamadas "antífonas maiores", que começam todas pela interjeição Ó. Maria, Senhora do Ó, é o modelo e a inspiradora deste louvor alegre e suplicante; ela é o centro dos desejos do povo de Israel e de todo o povo de Deus que, no fundo do seu coração, vive o advento do Salvador.
cf. Santos de Cada Dia, do Pe. José Leite
Não é só a ansiedade natural da jovem mãe que espera o seu primogénito; é o desejo sobrenatural da "bendita entre todas as mulheres", que foi escolhida para Mãe do Salvador de cada homem e de toda a humanidade. O Filho que vai nascer não vem simplesmente para beijar e sorrir para a Sua Mãe, mas para resgatar o povo com o Seu Sangue.
Por estes dias, a Igreja canta as chamadas "antífonas maiores", que começam todas pela interjeição Ó. Maria, Senhora do Ó, é o modelo e a inspiradora deste louvor alegre e suplicante; ela é o centro dos desejos do povo de Israel e de todo o povo de Deus que, no fundo do seu coração, vive o advento do Salvador.
cf. Santos de Cada Dia, do Pe. José Leite
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Felizmente está lá o Nuno
Uma cidade melhor para todos:
o Centro Histórico
“É possível desenhar a cidade?
“ (…) Com medidas de fundo será possível alterar a situação.
“ (…) Com um maior envolvimento das Câmaras Municipais na implementação dos planos, em que as opções e a iniciativa lhes pertença.
“Sem isto, pode-se fazer intervenção de excepção como a Expo ou a Polis mas não se ataca a questão de fundo de dar ordem ao território, desenhar a cidade. Há que cozer e cerzir malhas urbanas diferentes, ligar partes, dar-lhes sentido, introduzir-lhes uma estrutura coerente do ponto de vista funcional, simbólico e estético. Acredito que continua a haver lugar para uma arquitectura de cidade.
...
A Polis, segundo Aristóteles, foi formada de início para satisfazer as necessidades vitais (que é o significado de autarquia); ou seja, a cidade existe para permitir viver bem e viver segundo o bem. De facto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no artigo 25, diz que: “toda a pessoa tem o direito a assegurar à sua família o bem-estar”. Interessa-nos, assim, fazer uma referência cuidada aos efeitos na qualidade de vida das pessoas daquilo que vamos propor, em termos de Política Urbana, sendo certo que Braga tem futuro, até porque não vemos no nosso país outra cidade desta dimensão, com tanta gente nova!
Hoje, com as informações que temos do Programa Polis, divulgamos as nossas ideias sobre o Centro Histórico.
O Centro Histórico – que deve ser tratado em relação com toda a cidade – é um espaço de Braga com elevada qualidade urbana e arquitectónica, com uma escala humana muito interessante e património excepcional (como o caso da Sé). Para além disso, o conjunto do casario existente cria uma harmonia estética facilmente apreendida por quem ali passe e valoriza, também, a qualidade desta zona nobre da Cidade.
Este é o legado que a História nos deixou, de que nos orgulhamos, mas sobre o qual temos responsabilidades. Devemos não só preservar o Centro, mas, na medida do possível, valorizá-lo.
Infelizmente, esta parte da Cidade está deserta e acumula pesados problemas que o seu passado medieval encara com apreensão. O mais chocante é o abandono da imensa maioria das casas e prédios, à vista de todos. O comércio tradicional também atravessa uma crise grave.
O CDS pretende recuperar a vida e o prestígio perdido deste espaço nobre e emblemático de Braga. Para tal, defende a elaboração dum Plano de Pormenor para o Centro Histórico, inserido num Plano Urbano da cidade toda, que considere a criação duma Segunda Rodovia. O Centro suporta um enorme volume de tráfego sem interesse nenhum e que, portanto, tem que ser orientado para fora da cidade. A actual Rodovia foi assimilada pela cidade e, portanto, deve se considerada como uma grande Avenida, aberta aos peões, com passeios, esplanadas, canteiros e árvores e não como uma fronteira artificial e perigosa, que divide e prejudica a vida da cidade.
A requalificação pretendida aponta para os seguintes objectivos:
1. Recuperação e incentivo à habitação no Centro Histórico;
2. Valorização cultural do Espaço Público;
3. Reintrodução da circulação automóvel, muito condicionada (e privilegiando os moradores);
4. Valorização do Espaço Pedonal, conjugado com as exigências de circulação viária e transportes públicos;
5. Reordenamento e requalificação do mobiliário/equipamento urbano a implantar racionalmente, evitando a dispersão casuística;
6. Reequacionamento e (re)localização das paragens de transportes públicos, das praças de táxis, dos autocarros de turismo e das cargas e descargas;
7. Gestão, localização e remoção de publicidade (painéis publicitários, sinalética, palas e toldos);
8. Instalação de valas técnicas que concentrem todas as infraestruturas no subsolo;
9. Limpeza e restauro dos monumentos, fontes e bebedouros, incluindo sistemas dissuasores ao pouso de aves;
10. Reabilitação do tecido edificado, através de um conjunto de intervenções nas fachadas e coberturas;
11. Intervenções nas habitações em parceria com os proprietários;
12. Alteração de barreiras arquitectónicas de forma a tornar o Centro Histórico acessível às pessoas com mobilidade condicionada;
13. Recuperação profunda do Campo da Vinha e do Lg. Stª. Cruz;
14. Recuperação das Avenidas Central e da Liberdade;
15. Abertura de uma ligação da Rua D. Pedro V à Rua Nova de Santa Cruz;
16. Implantação duma Estrutura Verde, que recupere e instale jardins e plantas, bem como a circulação em bicicletas.
“Deste modo se atraem pessoas para as ruas e praças, reabilitando-se também as actividades comerciais e os serviços a elas associados, em oposição às grandes superfícies fechadas, artificiais e impermeáveis, que constituem centros grandemente consumidores de energia, dificilmente articulados com a malha urbana circundante e concebidos quase exclusivamente para a utilização do automóvel.”
Com esta intervenção pretende-se restituir dignidade e urbanidade ao centro histórico da Cidade, tal como é regra em muitas cidades europeias. Ou seja, conseguir duas coisas: em primeiro lugar, as possibilidades e os limites de actuação na cidade existente, sem quebrar as suas características morfológicas e identidade, e, em segundo lugar, os resultados da introdução de novas construções que recompunham e reinventavam os tecidos interrompidos ou fragmentos desaparecidos da cidade. A crítica internacional sublinha estas experiências, indicando-as como as cidades melhor revitalizadas, com os resultados mais felizes.
Assim, estas experiências são um marco do urbanismo e permitem compreender como intervir na cidade. Até porque esta experiência não é tanto uma questão resolvida com milhões de euros ali despejados (atenção ao Polis!), mas, pelo contrário, o sublinhar do estudo e trabalho quase artesanal de recuperação e de revitalização do património construído.
No Centro Histórico que, agora, tem os prédios a cair, devemos incentivar a habitação e, para isso, voltar a ter circulação automóvel (como no Chiado, em Lisboa, por proposta de Siza Vieira) aberta aos moradores e controlada. Devia apoiar-se a instalação de elevadores nos prédios mais altos. Sem querer entrar em detalhes construtivos – também eles interessantes – torna-se evidente, para quem conhece minimamente estas matérias, o potencial das construções antigas, as lições que dali podemos tirar e a qualidade estética e a escala humana das soluções que encontramos quando trabalhamos com estes edifícios marcados pela história das pessoas e pela patine do tempo, que tanto os valoriza.
Pensar o futuro é iluminar o presente
o Centro Histórico
“É possível desenhar a cidade?
“ (…) Com medidas de fundo será possível alterar a situação.
“ (…) Com um maior envolvimento das Câmaras Municipais na implementação dos planos, em que as opções e a iniciativa lhes pertença.
“Sem isto, pode-se fazer intervenção de excepção como a Expo ou a Polis mas não se ataca a questão de fundo de dar ordem ao território, desenhar a cidade. Há que cozer e cerzir malhas urbanas diferentes, ligar partes, dar-lhes sentido, introduzir-lhes uma estrutura coerente do ponto de vista funcional, simbólico e estético. Acredito que continua a haver lugar para uma arquitectura de cidade.
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A Polis, segundo Aristóteles, foi formada de início para satisfazer as necessidades vitais (que é o significado de autarquia); ou seja, a cidade existe para permitir viver bem e viver segundo o bem. De facto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no artigo 25, diz que: “toda a pessoa tem o direito a assegurar à sua família o bem-estar”. Interessa-nos, assim, fazer uma referência cuidada aos efeitos na qualidade de vida das pessoas daquilo que vamos propor, em termos de Política Urbana, sendo certo que Braga tem futuro, até porque não vemos no nosso país outra cidade desta dimensão, com tanta gente nova!
Hoje, com as informações que temos do Programa Polis, divulgamos as nossas ideias sobre o Centro Histórico.
O Centro Histórico – que deve ser tratado em relação com toda a cidade – é um espaço de Braga com elevada qualidade urbana e arquitectónica, com uma escala humana muito interessante e património excepcional (como o caso da Sé). Para além disso, o conjunto do casario existente cria uma harmonia estética facilmente apreendida por quem ali passe e valoriza, também, a qualidade desta zona nobre da Cidade.
Este é o legado que a História nos deixou, de que nos orgulhamos, mas sobre o qual temos responsabilidades. Devemos não só preservar o Centro, mas, na medida do possível, valorizá-lo.
Infelizmente, esta parte da Cidade está deserta e acumula pesados problemas que o seu passado medieval encara com apreensão. O mais chocante é o abandono da imensa maioria das casas e prédios, à vista de todos. O comércio tradicional também atravessa uma crise grave.
O CDS pretende recuperar a vida e o prestígio perdido deste espaço nobre e emblemático de Braga. Para tal, defende a elaboração dum Plano de Pormenor para o Centro Histórico, inserido num Plano Urbano da cidade toda, que considere a criação duma Segunda Rodovia. O Centro suporta um enorme volume de tráfego sem interesse nenhum e que, portanto, tem que ser orientado para fora da cidade. A actual Rodovia foi assimilada pela cidade e, portanto, deve se considerada como uma grande Avenida, aberta aos peões, com passeios, esplanadas, canteiros e árvores e não como uma fronteira artificial e perigosa, que divide e prejudica a vida da cidade.
A requalificação pretendida aponta para os seguintes objectivos:
1. Recuperação e incentivo à habitação no Centro Histórico;
2. Valorização cultural do Espaço Público;
3. Reintrodução da circulação automóvel, muito condicionada (e privilegiando os moradores);
4. Valorização do Espaço Pedonal, conjugado com as exigências de circulação viária e transportes públicos;
5. Reordenamento e requalificação do mobiliário/equipamento urbano a implantar racionalmente, evitando a dispersão casuística;
6. Reequacionamento e (re)localização das paragens de transportes públicos, das praças de táxis, dos autocarros de turismo e das cargas e descargas;
7. Gestão, localização e remoção de publicidade (painéis publicitários, sinalética, palas e toldos);
8. Instalação de valas técnicas que concentrem todas as infraestruturas no subsolo;
9. Limpeza e restauro dos monumentos, fontes e bebedouros, incluindo sistemas dissuasores ao pouso de aves;
10. Reabilitação do tecido edificado, através de um conjunto de intervenções nas fachadas e coberturas;
11. Intervenções nas habitações em parceria com os proprietários;
12. Alteração de barreiras arquitectónicas de forma a tornar o Centro Histórico acessível às pessoas com mobilidade condicionada;
13. Recuperação profunda do Campo da Vinha e do Lg. Stª. Cruz;
14. Recuperação das Avenidas Central e da Liberdade;
15. Abertura de uma ligação da Rua D. Pedro V à Rua Nova de Santa Cruz;
16. Implantação duma Estrutura Verde, que recupere e instale jardins e plantas, bem como a circulação em bicicletas.
“Deste modo se atraem pessoas para as ruas e praças, reabilitando-se também as actividades comerciais e os serviços a elas associados, em oposição às grandes superfícies fechadas, artificiais e impermeáveis, que constituem centros grandemente consumidores de energia, dificilmente articulados com a malha urbana circundante e concebidos quase exclusivamente para a utilização do automóvel.”
Com esta intervenção pretende-se restituir dignidade e urbanidade ao centro histórico da Cidade, tal como é regra em muitas cidades europeias. Ou seja, conseguir duas coisas: em primeiro lugar, as possibilidades e os limites de actuação na cidade existente, sem quebrar as suas características morfológicas e identidade, e, em segundo lugar, os resultados da introdução de novas construções que recompunham e reinventavam os tecidos interrompidos ou fragmentos desaparecidos da cidade. A crítica internacional sublinha estas experiências, indicando-as como as cidades melhor revitalizadas, com os resultados mais felizes.
Assim, estas experiências são um marco do urbanismo e permitem compreender como intervir na cidade. Até porque esta experiência não é tanto uma questão resolvida com milhões de euros ali despejados (atenção ao Polis!), mas, pelo contrário, o sublinhar do estudo e trabalho quase artesanal de recuperação e de revitalização do património construído.
No Centro Histórico que, agora, tem os prédios a cair, devemos incentivar a habitação e, para isso, voltar a ter circulação automóvel (como no Chiado, em Lisboa, por proposta de Siza Vieira) aberta aos moradores e controlada. Devia apoiar-se a instalação de elevadores nos prédios mais altos. Sem querer entrar em detalhes construtivos – também eles interessantes – torna-se evidente, para quem conhece minimamente estas matérias, o potencial das construções antigas, as lições que dali podemos tirar e a qualidade estética e a escala humana das soluções que encontramos quando trabalhamos com estes edifícios marcados pela história das pessoas e pela patine do tempo, que tanto os valoriza.
Pensar o futuro é iluminar o presente
Concluindo, o Urbanismo e o estudo duma cidade têm as suas complexidades, mas estão longe de ser um beco sem saída. Há soluções comprovadas que nos dão a segurança para tratar destes assuntos com propostas concretas de qualidade servindo as pessoas com o cuidado que nos merecem, tornando a cidade melhor.
É importante considerar que investir no planeamento é bom economicamente, significa segurança e é melhor para o ambiente (com menos CO2) e é uma oportunidade única para rever a cidade e a sua qualidade de vida: é o caso de Évora, com um Centro Histórico classificado como Património da Humanidade, pela UNESCO. Pois, há estudos que indicam que 80% das pessoas que querem sair da cidade onde moram, escolheriam Évora pelo urbanismo e pela qualidade de vida que esta cidade tem.
Portanto, as pessoas sabem bem onde está a qualidade e onde não está. A nossa política só tem que ir no caminho certo. É isso que os cidadãos esperam de nós e que nós lhes queremos proporcionar.
Também Braga tem as suas potencialidades próprias e a capacidade para se revitalizar, para ultrapassar um período menos feliz da história do seu urbanismo. Trabalhando para o bem comum, no respeito dos compromissos eleitorais de melhorar a cidade, estou certo de que conseguiremos resultados muito positivos.
Nuno Oliveira Dias
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Paulo Novais
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19:02
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Póquer politico
Decisão fundamental, esta que o governo da nação tão celeremente pretende ver resolvida. Uma prenda de Natal à esquerda para de seguida usufruir da benevolência desta mesma esquerda na aprovação do O.E. 2010.
Esperemos que a dita não esteja a fazer "bluff" e afinal tenha um "straight flush" contra um "um par de duques" do governo e este não entre numa fria.
A minha pergunta, já agora, é qual será a moeda de troca para a próxima?
Eu posso dar uma ideia. Que tal a legalização da bigamia (heterossexual, claro)? E o casamento a três? Ou quatro?
Bem sei que o heterossexual aqui é pouco fracturante, claro. E talvez tenha até poucos adeptos, lá pelos lados deste PS, mas fica aqui a sugestão.
Fonte: Publico
Esperemos que a dita não esteja a fazer "bluff" e afinal tenha um "straight flush" contra um "um par de duques" do governo e este não entre numa fria.
A minha pergunta, já agora, é qual será a moeda de troca para a próxima?
Eu posso dar uma ideia. Que tal a legalização da bigamia (heterossexual, claro)? E o casamento a três? Ou quatro?
Bem sei que o heterossexual aqui é pouco fracturante, claro. E talvez tenha até poucos adeptos, lá pelos lados deste PS, mas fica aqui a sugestão.
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Paulo Novais
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18:34
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Dicionário à moda da Fonte
Muito bom. Vale a pena espreitar.
Aviso legal:
Repetir ou colocar em prática os termos lidos pode ser benéfico para a carteira e para a carreira politica (dentro do PS) mas prejudicial à saúde a longo prazo.
Publicada por
Paulo Novais
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15:37
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Petição em defesa da vida e da família é apresentada ao Parlamento Europeu
Presidente Jerzy Buzek recebe representantes de 17 países da Europa
ESTRASBURGO, terça-feira, 15 de dezembro de 2009 (ZENIT.org).- O presidente do Parlamento Europeu, o polonês Jerzy Buzek, agradeceu e congratulou os representantes dos Movimentos pela Vida e pela Família, recebidos na última terça-feira no Gabinete da Presidência, em Estrasburgo.
Os representantes da Áustria, Espanha, Irlanda, Itália, Polônia, Alemanha, Portugal, Lituânia, França, República Tcheca, Hungria, Romênia, Bélgica, Croácia, Grécia, Reino Unido e Eslováquia, apresentaram uma petição contendo 500.000 assinaturas de cidadãos europeus.
O documento pede o reconhecimento da pessoa humana desde a concepção até sua morte natural, a defesa da família natural fundamentada no matrimônio entre homem e mulher, além de pedir a suspensão do financiamento estatal de programas de pesquisa que empreguem embriões humanos.
Segundo o presidente Buzek, “É um resultado extraordinário conseguir que meio milhão de cidadãos da União Européia assinem um documento destinado ao Parlamento Europeu”, acrescentando que “é a primeira vez que uma petição envolvendo tantas assinaturas e tantos países é encaminhada ao Parlamento”.
“Isso mostra que a sociedade civil não encara o Parlamento como uma instituição distante das pessoas”, agradecendo ainda pela iniciativa que, segundo ele, “é a demonstração de uma cidadania européia”.
“Asseguro” – concluiu Buzek – “que sua petição será levada muito a sério, e que seus pedidos serão objeto de discussão no Parlamento Europeu o mais rapidamente possível”.
Para Carlo Casini, presidente da Comissão Constitucional do Parlamento Europeu e também do Movimento na Itália, a apresentação da petição coincide com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, num momento em que “a nova legislação começa a dar novo impulso à construção daquela unidade dos povos, e que constitui um dos maiores projetos políticos de todos os tempos”.
“Na base de tal construção”, acrescentou Casini – “está o valor da dignidade de cada ser humano, como diz o próprio tratado de Lisboa. A igualdade e a dignidade humana são os fundamentos da liberdade, da democracia e da solidariedade. São os elementos caracterizam a alma da Europa”.
Casini destacou que o documento apresentado chama atenção para questões dramáticas: ”Quem é o titular dos direitos humanos? O que é o homem? Não o é também o bebê em fase pré-natal? O princípio da igualdade se estende a todas as fases da existência humana, ou somente a algumas?”
“Sabemos bem as dificuldades levantadas quando estas questões são colocadas. Todavia, a política não as pode evitar”, “se pretende ser verdadeiramente guiada pela cultura dos direitos humanos”, concluiu.
Antonio Gaspari, responsável pela iniciativa da petição e presente no evento, disse ao presidente do Parlamento: “não pedimos a revogação de nenhuma lei, mas apenas o pleno reconhecimento de igualdade e uma reflexão profunda sobre a dignidade humana”, e concluiu: “São temas de unificação, não de divisão. De esperança, não de desespero”.
ESTRASBURGO, terça-feira, 15 de dezembro de 2009 (ZENIT.org).- O presidente do Parlamento Europeu, o polonês Jerzy Buzek, agradeceu e congratulou os representantes dos Movimentos pela Vida e pela Família, recebidos na última terça-feira no Gabinete da Presidência, em Estrasburgo.
Os representantes da Áustria, Espanha, Irlanda, Itália, Polônia, Alemanha, Portugal, Lituânia, França, República Tcheca, Hungria, Romênia, Bélgica, Croácia, Grécia, Reino Unido e Eslováquia, apresentaram uma petição contendo 500.000 assinaturas de cidadãos europeus.
O documento pede o reconhecimento da pessoa humana desde a concepção até sua morte natural, a defesa da família natural fundamentada no matrimônio entre homem e mulher, além de pedir a suspensão do financiamento estatal de programas de pesquisa que empreguem embriões humanos.
Segundo o presidente Buzek, “É um resultado extraordinário conseguir que meio milhão de cidadãos da União Européia assinem um documento destinado ao Parlamento Europeu”, acrescentando que “é a primeira vez que uma petição envolvendo tantas assinaturas e tantos países é encaminhada ao Parlamento”.
“Isso mostra que a sociedade civil não encara o Parlamento como uma instituição distante das pessoas”, agradecendo ainda pela iniciativa que, segundo ele, “é a demonstração de uma cidadania européia”.
“Asseguro” – concluiu Buzek – “que sua petição será levada muito a sério, e que seus pedidos serão objeto de discussão no Parlamento Europeu o mais rapidamente possível”.
Para Carlo Casini, presidente da Comissão Constitucional do Parlamento Europeu e também do Movimento na Itália, a apresentação da petição coincide com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, num momento em que “a nova legislação começa a dar novo impulso à construção daquela unidade dos povos, e que constitui um dos maiores projetos políticos de todos os tempos”.
“Na base de tal construção”, acrescentou Casini – “está o valor da dignidade de cada ser humano, como diz o próprio tratado de Lisboa. A igualdade e a dignidade humana são os fundamentos da liberdade, da democracia e da solidariedade. São os elementos caracterizam a alma da Europa”.
Casini destacou que o documento apresentado chama atenção para questões dramáticas: ”Quem é o titular dos direitos humanos? O que é o homem? Não o é também o bebê em fase pré-natal? O princípio da igualdade se estende a todas as fases da existência humana, ou somente a algumas?”
“Sabemos bem as dificuldades levantadas quando estas questões são colocadas. Todavia, a política não as pode evitar”, “se pretende ser verdadeiramente guiada pela cultura dos direitos humanos”, concluiu.
Antonio Gaspari, responsável pela iniciativa da petição e presente no evento, disse ao presidente do Parlamento: “não pedimos a revogação de nenhuma lei, mas apenas o pleno reconhecimento de igualdade e uma reflexão profunda sobre a dignidade humana”, e concluiu: “São temas de unificação, não de divisão. De esperança, não de desespero”.
O homem é superior à natureza
Bento XVI adverte contra o novo “ecopanteísmo”
O homem é superior à natureza, afirma o Papa
CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 15 de dezembro de 2009 (ZENIT.org).- O respeito à natureza está estreitamente relacionado ao respeito à pessoa humana, pois “o livro da natureza é único”.
Portanto, o respeito pelo meio ambiente não pode estar contra o respeito à pessoa humana, à sua vida e à sua dignidade. Ao contrário, o homem é superior ao resto da criação e por isso tem o dever de cuidar dela e protegê-la.
Assim afirma o Papa Bento XVI em sua mensagem por ocasião do próximo Dia Mundial da Paz, que será celebrado em 1º de janeiro de 2010, e que dedicou este ano à questão do respeito ao meio ambiente, necessário para promover a paz do mundo.
Na mensagem, o Papa adverte contra as atuais tendências filosóficas que levam a considerar o ser humano como um perigo para o meio ambiente e que inclusive propugnam o controle da população como uma medida de proteção da natureza.
Bento XVI explica que “uma visão correta da relação do homem com o ambiente impede de absolutizar a natureza ou de a considerar mais importante do que a pessoa”.
“Se o magistério da Igreja exprime perplexidades acerca de uma concepção do ambiente inspirada no ecocentrismo e no biocentrismo, fá-lo porque tal concepção elimina a diferença ontológica e axiológica entre a pessoa humana e os outros seres vivos.”
Deste modo, adverte o Papa, “chega-se realmente a eliminar a identidade e a função superior do homem, favorecendo uma visão igualitarista da ‘dignidade’ de todos os seres vivos”.
Este “igualistarismo” falso faz parte, explica, de um “novo panteísmo com acentos neopagãos que fazem derivar apenas da natureza, entendida em sentido puramente naturalista, a salvação para o homem”.
“Ao contrário, a Igreja convida a colocar a questão de modo equilibrado, no respeito da ‘gramática’ que o Criador inscreveu na sua obra, confiando ao homem o papel de guardião e administrador responsável da criação, papel de que certamente não deve abusar, mas também não pode abdicar”, esclarece.
O Papa explica que “há uma espécie de reciprocidade: quando cuidamos da criação, constatamos que Deus, através da criação, cuida de nós”.
“Com efeito, a posição contrária, que considera a técnica e o poder humano como absolutos, acaba por ser um grave atentado não só à natureza, mas também à própria dignidade humana”, acrescenta.
Ecologia humana
Neste sentido, o Papa sublinhou que uma verdadeira proteção da natureza está intimamente relacionada com o respeito à dignidade da pessoa, o que se chama de “ecologia humana”.
“Os deveres para com o ambiente derivam dos deveres para com a pessoa considerada em si mesma e no seu relacionamento com os outros”, afirma o pontífice.
Neste sentido, sublinha a importância de uma educação na responsabilidade ecológica que “salvaguarde uma autêntica ecologia humana”.
É necessário afirmar, “com renovada convicção, a inviolabilidade da vida humana em todas as suas fases e condições, a dignidade da pessoa e a missão insubstituível da família, onde se educa para o amor ao próximo e o respeito da natureza”.
“É preciso preservar o patrimônio humano da sociedade. Este patrimônio de valores tem a sua origem e está inscrito na lei moral natural, que é fundamento do respeito da pessoa humana e da criação”, acrescenta o Papa.
“Não se pode pedir aos jovens que respeitem o ambiente, se não são ajudados, em família e na sociedade, a respeitar-se a si mesmos: o livro da natureza é único, tanto sobre a vertente do ambiente como sobre a da ética pessoal, familiar e social.”
Bento XVI sublinha que a Igreja “tem a sua parte de responsabilidade pela criação e sente que a deve exercer também em âmbito público, para defender a terra, a água e o ar, dádivas feitas por Deus Criador a todos, e antes de tudo para proteger o homem contra o perigo da destruição de si mesmo”.
“Com efeito, a degradação da natureza está intimamente ligada à cultura que molda a convivência humana, pelo que, quando a ‘ecologia humana’ é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental.”
O homem é superior à natureza, afirma o Papa
CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 15 de dezembro de 2009 (ZENIT.org).- O respeito à natureza está estreitamente relacionado ao respeito à pessoa humana, pois “o livro da natureza é único”.
Portanto, o respeito pelo meio ambiente não pode estar contra o respeito à pessoa humana, à sua vida e à sua dignidade. Ao contrário, o homem é superior ao resto da criação e por isso tem o dever de cuidar dela e protegê-la.
Assim afirma o Papa Bento XVI em sua mensagem por ocasião do próximo Dia Mundial da Paz, que será celebrado em 1º de janeiro de 2010, e que dedicou este ano à questão do respeito ao meio ambiente, necessário para promover a paz do mundo.
Na mensagem, o Papa adverte contra as atuais tendências filosóficas que levam a considerar o ser humano como um perigo para o meio ambiente e que inclusive propugnam o controle da população como uma medida de proteção da natureza.
Bento XVI explica que “uma visão correta da relação do homem com o ambiente impede de absolutizar a natureza ou de a considerar mais importante do que a pessoa”.
“Se o magistério da Igreja exprime perplexidades acerca de uma concepção do ambiente inspirada no ecocentrismo e no biocentrismo, fá-lo porque tal concepção elimina a diferença ontológica e axiológica entre a pessoa humana e os outros seres vivos.”
Deste modo, adverte o Papa, “chega-se realmente a eliminar a identidade e a função superior do homem, favorecendo uma visão igualitarista da ‘dignidade’ de todos os seres vivos”.
Este “igualistarismo” falso faz parte, explica, de um “novo panteísmo com acentos neopagãos que fazem derivar apenas da natureza, entendida em sentido puramente naturalista, a salvação para o homem”.
“Ao contrário, a Igreja convida a colocar a questão de modo equilibrado, no respeito da ‘gramática’ que o Criador inscreveu na sua obra, confiando ao homem o papel de guardião e administrador responsável da criação, papel de que certamente não deve abusar, mas também não pode abdicar”, esclarece.
O Papa explica que “há uma espécie de reciprocidade: quando cuidamos da criação, constatamos que Deus, através da criação, cuida de nós”.
“Com efeito, a posição contrária, que considera a técnica e o poder humano como absolutos, acaba por ser um grave atentado não só à natureza, mas também à própria dignidade humana”, acrescenta.
Ecologia humana
Neste sentido, o Papa sublinhou que uma verdadeira proteção da natureza está intimamente relacionada com o respeito à dignidade da pessoa, o que se chama de “ecologia humana”.
“Os deveres para com o ambiente derivam dos deveres para com a pessoa considerada em si mesma e no seu relacionamento com os outros”, afirma o pontífice.
Neste sentido, sublinha a importância de uma educação na responsabilidade ecológica que “salvaguarde uma autêntica ecologia humana”.
É necessário afirmar, “com renovada convicção, a inviolabilidade da vida humana em todas as suas fases e condições, a dignidade da pessoa e a missão insubstituível da família, onde se educa para o amor ao próximo e o respeito da natureza”.
“É preciso preservar o patrimônio humano da sociedade. Este patrimônio de valores tem a sua origem e está inscrito na lei moral natural, que é fundamento do respeito da pessoa humana e da criação”, acrescenta o Papa.
“Não se pode pedir aos jovens que respeitem o ambiente, se não são ajudados, em família e na sociedade, a respeitar-se a si mesmos: o livro da natureza é único, tanto sobre a vertente do ambiente como sobre a da ética pessoal, familiar e social.”
Bento XVI sublinha que a Igreja “tem a sua parte de responsabilidade pela criação e sente que a deve exercer também em âmbito público, para defender a terra, a água e o ar, dádivas feitas por Deus Criador a todos, e antes de tudo para proteger o homem contra o perigo da destruição de si mesmo”.
“Com efeito, a degradação da natureza está intimamente ligada à cultura que molda a convivência humana, pelo que, quando a ‘ecologia humana’ é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental.”
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Da estatueta ás enfermeiras
Consta que este, ainda em recuperação no hospital, já pensa em organizar a próxima festa na sua Villa.
A diferença é que esta será temática. Alguém adivinha qual o tema escolhido?
Exacto. Esse mesmo. Enfermeiras...
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Paulo Novais
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22:04
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Saudações!
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Paulo Novais
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18:28
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Para aqueles que apreciam a opção pelo mar
(...)
"SOCIEDADE ABERTA Um desses autores foi Karl Popper. No seu exílio na Nova Zelândia, durante a Segunda Guerra Mundial, Popper escreveu essa grande obra intitulada "A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos". Apresentou-a como o seu "esforço de guerra" em defesa das democracias ocidentais, contra os dois totalitarismos rivais, o nacional-socialismo e o comunismo. O livro foi publicado em 1945, ainda antes do final da Segunda Guerra, e por muitos considerado uma espécie de Bíblia das democracias ocidentais. Foi traduzido em muitas das línguas do planeta, continuando ainda hoje a versão inglesa a esgotar-se e a ser reeditada.
"Popper estabelece uma distinção fundamental entre sociedade aberta e sociedade fechada. Numa sociedade aberta, por contraste com uma sociedade fechada, existe liberdade de crítica e liberdade de examinar, rever ou conservar, normas legais e convenções sociais. Os indivíduos aceitam o fardo da liberdade e consequente responsabilidade de escolher.
"Esta abertura dá então lugar a um ambiente descentralizado de experimentação, de ensaio e erro, o qual, por sua vez, é propício à investigação filosófica e científica, à inovação tecnológica, ao comércio e ao livre empreendimento.
"ESPARTA CONTRA ATENAS Karl Popper considera que a civilização ocidental é aquela que emerge da transição das velhas sociedades fechadas tribais para as novas sociedades abertas. Essa transição começou mais vincadamente na Grécia do século v a. C., o século da grande geração de Péricles, Tucídides, Heródoto e Sócrates. Para Popper, a Guerra do Peloponeso, entre Atenas e Esparta, exprimiu essencialmente o conflito entre uma sociedade aberta emergente, a democrática Atenas, e uma sociedade fechada, a Esparta colectivista. Considerou que a Segunda Guerra Mundial foi uma reedição desse conflito, tendo o lugar de Atenas sido ocupado pelas democracias ocidentais e o de Esparta pelo nacional-socialismo alemão e o comunismo soviético - cuja aliança de facto desencadeou a guerra e a dupla invasão da Polónia, em Setembro de 1939.
"Qual foi, para Karl Popper, a origem da emergência da sociedade aberta em Atenas? A resposta é verdadeiramente extraordinária, para aqueles que apreciam a opção pelo mar.
"ATENAS MARÍTIMA "Talvez a mais poderosa causa do colapso da sociedade fechada tenha sido o desenvolvimento das comunicações marítimas e do comércio. O contacto estreito com outras tribos desafia o sentimento de necessidade com que as instituições tribais são percepcionadas, e a troca, a iniciativa comercial e a independência podem afirmar-se, mesmo numa sociedade em que o tribalismo ainda prevalece.
"Estes dois aspectos, a navegação e o comércio, tornaram-se as principais características do imperialismo ateniense, tal como ele se desenvolveu no século v a. C. [...] Tornou-se claro [para os inimigos da democracia em Atenas] que o comércio de Atenas, o seu comercialismo monetário, a sua política naval e as suas tendências democráticas eram parte de um único movimento, e que era impossível derrotar a democracia sem ir às raízes do mal [do ponto de vista dos inimigos da democracia] e destruir quer a política naval quer o império.
"Mas a política naval de Atenas estava baseada nos seus portos, especialmente o Pireu, o centro do comércio e o bastião do partido democrático, e, estrategicamente, nas muralhas que fortificavam Atenas e, mais tarde, nas longas muralhas que a ligavam aos portos do Pireu e de Faleros. Por esta razão, verificamos que, durante mais de um século, o império, a frota, o porto e as muralhas foram odiados pelos partidos oligárquicos de Atenas e considerados símbolos da democracia e fontes da sua força, que aqueles partidos queriam um dia destruir." [vol. i, pp. 177-8].
"ESPARTA CONTINENTAL Eis, numa breve passagem de entre muitas outras, a extraordinária proposta de Karl Popper: a sociedade aberta do Ocidente, apoiada no duplo pilar grego-romano e judaico-cristão, emerge das comunicações marítimas e do comércio de Atenas. A sua principal opositora, Esparta, é uma potência continental, fechada, colectivista, autoritária, centralizada, inimiga do comércio, da família e da propriedade privada, que vê no mar e na opção pelo mar a principal ameaça ao seu fechamento. Para Popper, esta oposição entre potências marítimas e potências continentais manter-se-ia até aos nossos dias. Em 1938-39, as principais potências continentais, a Alemanha nazi e a Rússia soviética, aliar-se-iam para esmagar as democracias ocidentais. E estas foram defendidas pela aliança entre as duas grandes potências marítimas: a Inglaterra e os Estados Unidos da América.
"Karl Popper não era, no entanto, um historiador, mas sim um filósofo. Deixou-nos páginas veementes em defesa das potências marítimas, sobretudo Atenas, Inglaterra e os Estados Unidos da América, mas nunca desenvolveu esse argumento com base em dados históricos detalhados.
"O historiador que talvez mais tenha contribuído para evidenciar a relação entre a opção pelo mar e a democracia é Peter Padfield, autor de uma monumental trilogia sobre as potências marítimas.
"A OPÇÃO PELO MAR Em "Maritime Supremacy and the Opening of the Western Mind" (1999), cujo título faz uma clara referência à ideia de Popper sobre a abertura intelectual, Padfield descreve a emergência da Holanda como potência marítima e comercial no século xvii, bem como a sua gradual substituição pela Inglaterra no século xviii. O livro seguinte, intitulado "Maritime Power and the Struggle for Freedom" (2003), descreve o conflito entre a Inglaterra e as potências terrestres espanhola e francesa, com a ascendência britânica à supremacia naval no século xix.
"O terceiro volume, "Maritime Dominion and the Triumph of the Free World" (2008), prolonga a narrativa até ao século xx, com os Estados Unidos a sucederem a Inglaterra como potência marítima dominante, e a Alemanha e a Rússia a substituírem a Espanha e a França como potências continentais.
"Ao longo desta imponente trilogia, o argumento de Padfield mantém-se. "A supremacia marítima é a chave que permite responder à maior parte das grandes questões da história moderna, certamente permite decifrar o enigma de como e porquê nós - as democracias ocidentais - somos como somos." Isto deve-se, explica o autor, a que nos tempos modernos as potências marítimas sempre prevaleceram sobre os seus inimigos continentais, fazendo assim com que os sistemas de valores marítimos tenham prevalecido sobre os continentais.
"VALORES MARÍTIMOS Mas quais são os sistemas de valores marítimos? Retomando o argumento de Karl Popper, Peter Padfield sustenta que são valores de liberdade, comércio livre, livre empreendimento, estado de direito e governo representativo ou democrático, que responde a um parlamento eleito livremente e que, por isso, não usa e abusa dos impostos nem interfere de forma vanguardista nos modos de vida pacíficos das pessoas.
"A limitação do poder executivo parece ser a característica definidora do poder dos mercadores no governo. [...] O receio de que o governante pudesse ser arrastado para aventuras desnecessárias cujos custos arruinariam o comércio e a probidade financeira levou os interesses dos comerciantes a limitarem o poder dos governantes. [...] Do que os mercadores das potências marítimas ocidentais usufruíam era da liberdade de investir onde quer que vissem uma oportunidade [...] protegidos pela lei contra constrangimentos ou violência arbitrária, viessem estes de reis, ministros, barões ou populares." [vol. ii, vol. i, p. 1 e p. 21].
(...)
ENSAIO
A origem marítima da civilização ocidental
por João Carlos Espada, publicado no "i" a 28 de Novembro de 2009
"SOCIEDADE ABERTA Um desses autores foi Karl Popper. No seu exílio na Nova Zelândia, durante a Segunda Guerra Mundial, Popper escreveu essa grande obra intitulada "A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos". Apresentou-a como o seu "esforço de guerra" em defesa das democracias ocidentais, contra os dois totalitarismos rivais, o nacional-socialismo e o comunismo. O livro foi publicado em 1945, ainda antes do final da Segunda Guerra, e por muitos considerado uma espécie de Bíblia das democracias ocidentais. Foi traduzido em muitas das línguas do planeta, continuando ainda hoje a versão inglesa a esgotar-se e a ser reeditada.
"Popper estabelece uma distinção fundamental entre sociedade aberta e sociedade fechada. Numa sociedade aberta, por contraste com uma sociedade fechada, existe liberdade de crítica e liberdade de examinar, rever ou conservar, normas legais e convenções sociais. Os indivíduos aceitam o fardo da liberdade e consequente responsabilidade de escolher.
"Esta abertura dá então lugar a um ambiente descentralizado de experimentação, de ensaio e erro, o qual, por sua vez, é propício à investigação filosófica e científica, à inovação tecnológica, ao comércio e ao livre empreendimento.
"ESPARTA CONTRA ATENAS Karl Popper considera que a civilização ocidental é aquela que emerge da transição das velhas sociedades fechadas tribais para as novas sociedades abertas. Essa transição começou mais vincadamente na Grécia do século v a. C., o século da grande geração de Péricles, Tucídides, Heródoto e Sócrates. Para Popper, a Guerra do Peloponeso, entre Atenas e Esparta, exprimiu essencialmente o conflito entre uma sociedade aberta emergente, a democrática Atenas, e uma sociedade fechada, a Esparta colectivista. Considerou que a Segunda Guerra Mundial foi uma reedição desse conflito, tendo o lugar de Atenas sido ocupado pelas democracias ocidentais e o de Esparta pelo nacional-socialismo alemão e o comunismo soviético - cuja aliança de facto desencadeou a guerra e a dupla invasão da Polónia, em Setembro de 1939.
"Qual foi, para Karl Popper, a origem da emergência da sociedade aberta em Atenas? A resposta é verdadeiramente extraordinária, para aqueles que apreciam a opção pelo mar.
"ATENAS MARÍTIMA "Talvez a mais poderosa causa do colapso da sociedade fechada tenha sido o desenvolvimento das comunicações marítimas e do comércio. O contacto estreito com outras tribos desafia o sentimento de necessidade com que as instituições tribais são percepcionadas, e a troca, a iniciativa comercial e a independência podem afirmar-se, mesmo numa sociedade em que o tribalismo ainda prevalece.
"Estes dois aspectos, a navegação e o comércio, tornaram-se as principais características do imperialismo ateniense, tal como ele se desenvolveu no século v a. C. [...] Tornou-se claro [para os inimigos da democracia em Atenas] que o comércio de Atenas, o seu comercialismo monetário, a sua política naval e as suas tendências democráticas eram parte de um único movimento, e que era impossível derrotar a democracia sem ir às raízes do mal [do ponto de vista dos inimigos da democracia] e destruir quer a política naval quer o império.
"Mas a política naval de Atenas estava baseada nos seus portos, especialmente o Pireu, o centro do comércio e o bastião do partido democrático, e, estrategicamente, nas muralhas que fortificavam Atenas e, mais tarde, nas longas muralhas que a ligavam aos portos do Pireu e de Faleros. Por esta razão, verificamos que, durante mais de um século, o império, a frota, o porto e as muralhas foram odiados pelos partidos oligárquicos de Atenas e considerados símbolos da democracia e fontes da sua força, que aqueles partidos queriam um dia destruir." [vol. i, pp. 177-8].
"ESPARTA CONTINENTAL Eis, numa breve passagem de entre muitas outras, a extraordinária proposta de Karl Popper: a sociedade aberta do Ocidente, apoiada no duplo pilar grego-romano e judaico-cristão, emerge das comunicações marítimas e do comércio de Atenas. A sua principal opositora, Esparta, é uma potência continental, fechada, colectivista, autoritária, centralizada, inimiga do comércio, da família e da propriedade privada, que vê no mar e na opção pelo mar a principal ameaça ao seu fechamento. Para Popper, esta oposição entre potências marítimas e potências continentais manter-se-ia até aos nossos dias. Em 1938-39, as principais potências continentais, a Alemanha nazi e a Rússia soviética, aliar-se-iam para esmagar as democracias ocidentais. E estas foram defendidas pela aliança entre as duas grandes potências marítimas: a Inglaterra e os Estados Unidos da América.
"Karl Popper não era, no entanto, um historiador, mas sim um filósofo. Deixou-nos páginas veementes em defesa das potências marítimas, sobretudo Atenas, Inglaterra e os Estados Unidos da América, mas nunca desenvolveu esse argumento com base em dados históricos detalhados.
"O historiador que talvez mais tenha contribuído para evidenciar a relação entre a opção pelo mar e a democracia é Peter Padfield, autor de uma monumental trilogia sobre as potências marítimas.
"A OPÇÃO PELO MAR Em "Maritime Supremacy and the Opening of the Western Mind" (1999), cujo título faz uma clara referência à ideia de Popper sobre a abertura intelectual, Padfield descreve a emergência da Holanda como potência marítima e comercial no século xvii, bem como a sua gradual substituição pela Inglaterra no século xviii. O livro seguinte, intitulado "Maritime Power and the Struggle for Freedom" (2003), descreve o conflito entre a Inglaterra e as potências terrestres espanhola e francesa, com a ascendência britânica à supremacia naval no século xix.
"O terceiro volume, "Maritime Dominion and the Triumph of the Free World" (2008), prolonga a narrativa até ao século xx, com os Estados Unidos a sucederem a Inglaterra como potência marítima dominante, e a Alemanha e a Rússia a substituírem a Espanha e a França como potências continentais.
"Ao longo desta imponente trilogia, o argumento de Padfield mantém-se. "A supremacia marítima é a chave que permite responder à maior parte das grandes questões da história moderna, certamente permite decifrar o enigma de como e porquê nós - as democracias ocidentais - somos como somos." Isto deve-se, explica o autor, a que nos tempos modernos as potências marítimas sempre prevaleceram sobre os seus inimigos continentais, fazendo assim com que os sistemas de valores marítimos tenham prevalecido sobre os continentais.
"VALORES MARÍTIMOS Mas quais são os sistemas de valores marítimos? Retomando o argumento de Karl Popper, Peter Padfield sustenta que são valores de liberdade, comércio livre, livre empreendimento, estado de direito e governo representativo ou democrático, que responde a um parlamento eleito livremente e que, por isso, não usa e abusa dos impostos nem interfere de forma vanguardista nos modos de vida pacíficos das pessoas.
"A limitação do poder executivo parece ser a característica definidora do poder dos mercadores no governo. [...] O receio de que o governante pudesse ser arrastado para aventuras desnecessárias cujos custos arruinariam o comércio e a probidade financeira levou os interesses dos comerciantes a limitarem o poder dos governantes. [...] Do que os mercadores das potências marítimas ocidentais usufruíam era da liberdade de investir onde quer que vissem uma oportunidade [...] protegidos pela lei contra constrangimentos ou violência arbitrária, viessem estes de reis, ministros, barões ou populares." [vol. ii, vol. i, p. 1 e p. 21].
(...)
ENSAIO
A origem marítima da civilização ocidental
por João Carlos Espada, publicado no "i" a 28 de Novembro de 2009
Nova política para a cidade
"E deve-se considerar que não existe coisa mais difícil de tratar, nem mais duvidosa de conseguir, nem mais perigosa de lidar que encabeçar a introdução de novas ordens. Porque o introdutor tem por inimigos todos aqueles que beneficiavam das ordens antigas e por tíbios defensores todos aqueles que beneficiariam das novas, tibieza esta que nasce em parte por medo dos adversários, que têm as leis do seu lado, em parte da incredulidade dos homens, os quais não acreditam verdadeiramente nas coisas novas, se não virem daí nascer uma firme experiência."
Nicolau Maquiavel, O Príncipe.
Nicolau Maquiavel, O Príncipe.
A capacidade de nos maravilharmos
Legado de Galileu Galilei
Uma conferência debate a duradoura influência dos cientistas
Por Edward Pentin
ROMA, segunda-feira, 13 de dezembro de 2009 (ZENIT.org).- Quatrocentos anos depois de ter inventado o primeiro telescópio, o legado de Galileu Galilei continua vivo, enquanto ainda influencia a forma como o mundo vê a ciência e como a ciência vê o mundo e, certamente, o universo.
Seu grau de impacto no mundo científico e na Igreja foi analisado detalhadamente em uma fascinante conferência em Roma, organizada pela Pontifícia Universidade Lateranense.
Intitulado “1609-2009: Do telescópio de Galileu à Cosmologia Evolutiva – Ciência, Filosofia e Teologia em diálogo”, o encontro de 3 dias reuniu uma série de conferencistas de primeira categoria, incluindo dois Nobéis de Física, cosmólogos, teólogos e filósofos. O evento acontece no final do Ano Internacional da Astronomia, para celebrar a invenção de Galileu em 1609.
A conferência começou, logicamente, esclarecendo os mitos que ainda existem no referente a Galileu e sua relação com a Igreja. O Dr. Own J. Gingerich, antigo professor e pesquisador de astronomia e de história da ciência na Universidade de Harvard, apresentou a história da controversa.
Eliminou rapidamente a acusação mais famosa e ao parecer mais irrefutável: que a Igreja torturou Galileu. Enviou-se uma carta ao astrônomo italiano, afirmava Gingerich, que indicava que deveria ser “interrogado por uma veemente manifestação de heresia” e que concluía “sendo mostrados legalmente os instrumentos de tortura”.
Não obstante, Gingerich afirmou que Galileu “certamente não foi torturado e suspeito que tampouco tenham lhe mostrado os instrumentos de tortura, mas estava em seu terceiro interrogatório quando percebeu que não haveria debate, que não seria capaz de sustentar que o sistema copernicano deveria ser levado a sério”. A partir de então, estava disposto a “confessar de qualquer forma que lhe fosse pedida, a aceitar a prisão domiciliar e a ser devolvido a Florença”.
O professor Gingerich dizia que era especialmente importante ver o caso de Galileu dentro do seu contexto. “É preciso compreender que a maioria das pessoas pensava que o sistema copernicano era totalmente ridículo; além disso, ninguém queria adotar o sistema copernicano.”
O astrônomo americano fez também uma observação especialmente pertinente: que a controversa de Galileu “mudou essencialmente a forma de fazer ciência, porque hoje a ciência trabalha sobretudo pela persuasão e não pelas provas, e Galileu influenciou muito para que isso ocorresse”.
Era de descobrimentos
No entanto, os avanços na astronomia foram, desde então, impressionantes, e muitos deles ocorreram durante os últimos 15 a 20 anos. “Estamos em uma era de grandes descobertas e fazendo grandes progressos”, afirmava o professor George F. Smoot, ganhador do prêmio Nobel de Física em 2006 por seu trabalho para ajudar a entender a teoria do Big Bang.
Graças ao telescópio especial Hubble e ao mais recente observatório espacial Planck, lançado pela Agência Espacial Europeia, os astrônomos podem agora ver o universo com um detalhe muito maior. Smoot, cuja tarefa é cartografar a superfície do começo do universo, comparava dois mapas do globo para ilustrar quanto se progrediu.
Um mostrava todos os continentes cartografados mais ou menos como em um atlas medieval; o segundo mostrava a terra com grande detalhe topográfico. O primeiro representava o que sabíamos do universo em 1992; o segundo, o que conhecemos hoje.
Os telescópios atuais levaram ao descobrimento de pelo menos 100 bilhões de galáxias no universo, observou Smoot, levando-o a apresentar uma questão cosmológica provocante: “Se o propósito do universo é que o ser humano pudesse viver nele, por que fazer tantas galáxias?
Claramente seria mais que suficiente criar o sistema solar; no entanto, há muitas, muitas galáxias distribuídas de formas estranhas e evoluindo ao longo do tempo. Por isso, a questão que se tem em cosmologia é explicar toda esta série de fatores”. Acrescentou que os astrônomos esperam que Planck os ajude a compreender melhor a natureza fundamental da criação do espaço e do tempo, que “é muito crítica”.
Muito além da observação
Em sua mensagem aos participantes da conferência, Bento XVI afirmou que a lição de Galileu é também um convite a ir além do que se pode observar. As questões sobre a imensidade do universo, sua origem e seu fim “não admitem uma única resposta de caráter científico”, afirmou. “Quem observa o cosmos, seguindo a lição de Galileu, não poderá deter-se somente naquilo que observa com o telescópio; deverá ir muito além, interrogando-se sobre o sentido e o fim ao qual se orienta toda a criação”.
Neste contexto, observou o Papa, a filosofia e a teologia têm um importante papel “para aplanar o caminho rumo a ulteriores conhecimentos”.
Alguns oradores destacaram que Galileu valorizava a Escritura, observando que ele gostava de citar o cardeal Cesare Baronio, que afirmava: “A Bíblia foi escrita para nos mostrar como ir ao céu, e não como está o céu”. Mas Galileu insistia em que a Bíblia não deveria ser interpretada ao pé da letra ou como um instrumento de prova da ciência. Ao fazê-lo, esperava que esta visão fomentasse a reconciliação entre a fé e a ciência (seus detratores, no entanto, assumiram a postura oposta e viram nisso uma tentativa de interferir na teologia).
No entanto, segundo o arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, a postura de Galileu sobre o literalismo ensina algo muito relevante ao mundo de hoje: que tais interpretações da Bíblia conduzem ao fundamentalismo.
O prelado italiano, que é também um renomado erudito da Bíblia, afirmou que os textos bíblicos são “uma realidade viva” e, portanto, implicam no risco do fundamentalismo. Mas também destacou que, através da Bíblia, pode-se chegar a apreciar a “estética da criação”. “O homem não pode jamais estar presente na criação somente estudando-a do ponto de vista científico – explicou. Ao estudar o universo do ponto de vista científico, o cientista se deixa envolver pela linguagem simbólica e recorre às emoções estéticas, poéticas.”
“Da contemplação estética da criação dimanam grandes questões existenciais – afirmou Dom Ravasi – e este é um dos nossos grandes empobrecimentos.” Não é que a humanidade não tenha progredido na ciência, mas “é o homem que não progrediu na contemplação da beleza da criação”.
Citando G. K. Chesterton, afirmou que “estamos perecendo não por falta de maravilhas, mas por falta de capacidade de maravilhar-nos”. O arcebispo depois pediu a crentes e a não-crentes que descobrissem “o valor secreto, o valor poético” da criação.
Ordem ou desordem?
Como uma observação interessante, o professor Smoot afirmou em sua conferência que o universo é “extremamente ordenado” e parece que chegará a estar inclusive mais ordenado.
Isso levou um participante do auditório a perguntar sobre a observação do professor, questionando se, como se pensa comumente, o universo está se expandindo e esfriando a uma temperatura uniforme e, portanto, se tornará mais desordenado, um processo conhecido em termodinâmica como entropia crescente.
A conclusão lógica é que, se isso é assim, então o universo se dirige a uma possível morte, ou o que os astrofísicos chamam de “morte quente”, na qual toda a energia do cosmos terminará como uma distribuição homogênea de energia termal, de maneira que não se possa extrair força de nenhuma fonte.
O professor Smoot respondeu dizendo, em primeiro lugar, que a parte mais precoce do universo tem uma baixa entropia. Depois continuou: “A entropia é maior onde não há buracos negros e nosso conhecimento atual é que a maioria da entropia do universo está nos grandes buracos negros”.
“A entropia específica é ainda bastante baixa e, ainda que o universo tenha começado extremamente ordenado, tornou-se menos ordenado. Ainda que pareça ordenado, quando se observa como se distribuem as galáxias e a matéria escura, atualmente está mais desordenado que quando começou, com quase uma uniforme distribuição.”
“Esta desordem está aumentando e um dos principais debates de hoje é se esta entropia continuará crescendo sempre ou se em algum momento esta informação se perderá e se apagará e se chegará a um novo Big Bang.”
“Esta é uma das questões interessantes da cosmologia atual: inclusive ainda que pareça que nos ordenamos mais, não é assim.”
* * *
Edward Pentin é um escritor independente que reside em Roma. Pode ser contactado através de epentin@zenit.org
Uma conferência debate a duradoura influência dos cientistas
Por Edward Pentin
ROMA, segunda-feira, 13 de dezembro de 2009 (ZENIT.org).- Quatrocentos anos depois de ter inventado o primeiro telescópio, o legado de Galileu Galilei continua vivo, enquanto ainda influencia a forma como o mundo vê a ciência e como a ciência vê o mundo e, certamente, o universo.
Seu grau de impacto no mundo científico e na Igreja foi analisado detalhadamente em uma fascinante conferência em Roma, organizada pela Pontifícia Universidade Lateranense.
Intitulado “1609-2009: Do telescópio de Galileu à Cosmologia Evolutiva – Ciência, Filosofia e Teologia em diálogo”, o encontro de 3 dias reuniu uma série de conferencistas de primeira categoria, incluindo dois Nobéis de Física, cosmólogos, teólogos e filósofos. O evento acontece no final do Ano Internacional da Astronomia, para celebrar a invenção de Galileu em 1609.
A conferência começou, logicamente, esclarecendo os mitos que ainda existem no referente a Galileu e sua relação com a Igreja. O Dr. Own J. Gingerich, antigo professor e pesquisador de astronomia e de história da ciência na Universidade de Harvard, apresentou a história da controversa.
Eliminou rapidamente a acusação mais famosa e ao parecer mais irrefutável: que a Igreja torturou Galileu. Enviou-se uma carta ao astrônomo italiano, afirmava Gingerich, que indicava que deveria ser “interrogado por uma veemente manifestação de heresia” e que concluía “sendo mostrados legalmente os instrumentos de tortura”.
Não obstante, Gingerich afirmou que Galileu “certamente não foi torturado e suspeito que tampouco tenham lhe mostrado os instrumentos de tortura, mas estava em seu terceiro interrogatório quando percebeu que não haveria debate, que não seria capaz de sustentar que o sistema copernicano deveria ser levado a sério”. A partir de então, estava disposto a “confessar de qualquer forma que lhe fosse pedida, a aceitar a prisão domiciliar e a ser devolvido a Florença”.
O professor Gingerich dizia que era especialmente importante ver o caso de Galileu dentro do seu contexto. “É preciso compreender que a maioria das pessoas pensava que o sistema copernicano era totalmente ridículo; além disso, ninguém queria adotar o sistema copernicano.”
O astrônomo americano fez também uma observação especialmente pertinente: que a controversa de Galileu “mudou essencialmente a forma de fazer ciência, porque hoje a ciência trabalha sobretudo pela persuasão e não pelas provas, e Galileu influenciou muito para que isso ocorresse”.
Era de descobrimentos
No entanto, os avanços na astronomia foram, desde então, impressionantes, e muitos deles ocorreram durante os últimos 15 a 20 anos. “Estamos em uma era de grandes descobertas e fazendo grandes progressos”, afirmava o professor George F. Smoot, ganhador do prêmio Nobel de Física em 2006 por seu trabalho para ajudar a entender a teoria do Big Bang.
Graças ao telescópio especial Hubble e ao mais recente observatório espacial Planck, lançado pela Agência Espacial Europeia, os astrônomos podem agora ver o universo com um detalhe muito maior. Smoot, cuja tarefa é cartografar a superfície do começo do universo, comparava dois mapas do globo para ilustrar quanto se progrediu.
Um mostrava todos os continentes cartografados mais ou menos como em um atlas medieval; o segundo mostrava a terra com grande detalhe topográfico. O primeiro representava o que sabíamos do universo em 1992; o segundo, o que conhecemos hoje.
Os telescópios atuais levaram ao descobrimento de pelo menos 100 bilhões de galáxias no universo, observou Smoot, levando-o a apresentar uma questão cosmológica provocante: “Se o propósito do universo é que o ser humano pudesse viver nele, por que fazer tantas galáxias?
Claramente seria mais que suficiente criar o sistema solar; no entanto, há muitas, muitas galáxias distribuídas de formas estranhas e evoluindo ao longo do tempo. Por isso, a questão que se tem em cosmologia é explicar toda esta série de fatores”. Acrescentou que os astrônomos esperam que Planck os ajude a compreender melhor a natureza fundamental da criação do espaço e do tempo, que “é muito crítica”.
Muito além da observação
Em sua mensagem aos participantes da conferência, Bento XVI afirmou que a lição de Galileu é também um convite a ir além do que se pode observar. As questões sobre a imensidade do universo, sua origem e seu fim “não admitem uma única resposta de caráter científico”, afirmou. “Quem observa o cosmos, seguindo a lição de Galileu, não poderá deter-se somente naquilo que observa com o telescópio; deverá ir muito além, interrogando-se sobre o sentido e o fim ao qual se orienta toda a criação”.
Neste contexto, observou o Papa, a filosofia e a teologia têm um importante papel “para aplanar o caminho rumo a ulteriores conhecimentos”.
Alguns oradores destacaram que Galileu valorizava a Escritura, observando que ele gostava de citar o cardeal Cesare Baronio, que afirmava: “A Bíblia foi escrita para nos mostrar como ir ao céu, e não como está o céu”. Mas Galileu insistia em que a Bíblia não deveria ser interpretada ao pé da letra ou como um instrumento de prova da ciência. Ao fazê-lo, esperava que esta visão fomentasse a reconciliação entre a fé e a ciência (seus detratores, no entanto, assumiram a postura oposta e viram nisso uma tentativa de interferir na teologia).
No entanto, segundo o arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, a postura de Galileu sobre o literalismo ensina algo muito relevante ao mundo de hoje: que tais interpretações da Bíblia conduzem ao fundamentalismo.
O prelado italiano, que é também um renomado erudito da Bíblia, afirmou que os textos bíblicos são “uma realidade viva” e, portanto, implicam no risco do fundamentalismo. Mas também destacou que, através da Bíblia, pode-se chegar a apreciar a “estética da criação”. “O homem não pode jamais estar presente na criação somente estudando-a do ponto de vista científico – explicou. Ao estudar o universo do ponto de vista científico, o cientista se deixa envolver pela linguagem simbólica e recorre às emoções estéticas, poéticas.”
“Da contemplação estética da criação dimanam grandes questões existenciais – afirmou Dom Ravasi – e este é um dos nossos grandes empobrecimentos.” Não é que a humanidade não tenha progredido na ciência, mas “é o homem que não progrediu na contemplação da beleza da criação”.
Citando G. K. Chesterton, afirmou que “estamos perecendo não por falta de maravilhas, mas por falta de capacidade de maravilhar-nos”. O arcebispo depois pediu a crentes e a não-crentes que descobrissem “o valor secreto, o valor poético” da criação.
Ordem ou desordem?
Como uma observação interessante, o professor Smoot afirmou em sua conferência que o universo é “extremamente ordenado” e parece que chegará a estar inclusive mais ordenado.
Isso levou um participante do auditório a perguntar sobre a observação do professor, questionando se, como se pensa comumente, o universo está se expandindo e esfriando a uma temperatura uniforme e, portanto, se tornará mais desordenado, um processo conhecido em termodinâmica como entropia crescente.
A conclusão lógica é que, se isso é assim, então o universo se dirige a uma possível morte, ou o que os astrofísicos chamam de “morte quente”, na qual toda a energia do cosmos terminará como uma distribuição homogênea de energia termal, de maneira que não se possa extrair força de nenhuma fonte.
O professor Smoot respondeu dizendo, em primeiro lugar, que a parte mais precoce do universo tem uma baixa entropia. Depois continuou: “A entropia é maior onde não há buracos negros e nosso conhecimento atual é que a maioria da entropia do universo está nos grandes buracos negros”.
“A entropia específica é ainda bastante baixa e, ainda que o universo tenha começado extremamente ordenado, tornou-se menos ordenado. Ainda que pareça ordenado, quando se observa como se distribuem as galáxias e a matéria escura, atualmente está mais desordenado que quando começou, com quase uma uniforme distribuição.”
“Esta desordem está aumentando e um dos principais debates de hoje é se esta entropia continuará crescendo sempre ou se em algum momento esta informação se perderá e se apagará e se chegará a um novo Big Bang.”
“Esta é uma das questões interessantes da cosmologia atual: inclusive ainda que pareça que nos ordenamos mais, não é assim.”
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Edward Pentin é um escritor independente que reside em Roma. Pode ser contactado através de epentin@zenit.org
domingo, 13 de dezembro de 2009
Braga no 'The Times'
From The Times
November 30, 2009
Braga are tilting the balance of power in Portugal
Gabriele Marcotti
How many chief executives of clubs in the Barclays Premier League can you name? Half a dozen? We spend most of our time talking about players and managers, and yet there is plenty of evidence that a well-run club with a strong medium-term plan can succeed regardless of who goes out on the pitch and who sits on the bench.
Consider the case of Braga. They are one point behind Benfica in the Portuguese league with a game in hand — they host mid-table União Leiria tonight. They are also one of the surprise packages in European football.
Braga have conceded only five league goals all season, far and away the best defensive performance in any leading European league. What’s more, they have beaten up on the traditional powers of Portuguese football, defeating Porto, Sporting and Benfica.
All this from a club with only one domestic honour in their trophy cabinet, the Portuguese Cup they won more than 40 years ago, and who have never finished higher than fourth.
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Are outbursts by international coaches acceptable?
Beckham is no Beckenbauer in diplomacy stakes
To be fair, Braga have been in the top five in all but one of the past six seasons. And they won the Intertoto Cup last year (no laughing at the back, please). The success is usually credited to Jesualdo Ferreira, who arrived to coach the club in the summer of 2003 and departed for Porto three years later.
Ferreira is no doubt an expert coach, but surely his presence nearly four years ago cannot explain why they continue to impress. Especially because, after Ferreira’s departure, Braga have had no fewer than six coaches in 3½ seasons. The latest is Domingos, a former Porto striker who took over in the summer.
So if the success is not down to managerial genius or stability, what is it? Big-money signings? Hardly. Braga are very much a selling club. Year on year their better players leave; last season was the turn of Nuno Frechaut, the defender, who joined Metz, and César Peixoto, the attacking midfield player, who moved to Benfica. And they are generally replaced by players who cost nothing, whether free transfers or loans.
Even then, of this year’s newcomers, only Hugo Viana, the former Newcastle United midfield player who arrived on loan from Valencia, has made an impact.
Nor is it a case of Braga having a stellar academy. The only home-grown player who is a regular is the goalkeeper, Eduardo, who recently became first-choice for Portugal as well.
The bulk of the starting XI is made up of Brazilians who have bounced around a number of Portuguese clubs, such as Alan, Evaldo and Paulo César. Six of the regulars are aged 29 or over, so there is no shortage of experience.
But, beyond that, it’s hard to find a pattern to explain this success. Unless you turn to the one constant at the club: António Salvador, their wheeler-dealer president.
Salvador negotiates most deals personally, whether it’s securing a stadium sponsorship deal or acquiring a player from another club for a pittance. In a league that mirrors the Clydesdale Bank Premier League in terms of predictability — the “big three” of Porto, Benfica and Sporting have won all but two titles since it was set up in 1934 — Braga have become an alternative to the established elite.
And perhaps their success should not be that surprising. By not handing absolute power to a coach, Salvador is ensuring some level of continuity and long-term planning.
He does not run the risk of his coach looking for a “quick fix” — swapping longer-term building for short-term results — in order to save his job. And if his coach is poached by a bigger club, as happened with Ferreira and Jorge Jesus, who left to join Benfica last summer, the framework is in place to weather the storm.
Of course, this is not a one-size-fits-all policy of success. If you have an Arsène Wenger or a Sir Alex Ferguson at your disposal, it makes sense to give them control. And, even if you don’t, it is generally wise to defer footballing decisions to your coach.
Yet the Braga case suggests that money and coaches — two supposedly indispensable building blocks — may not be as crucial to success as we may think. Equally, the importance of strong leadership at club level and a clear long-term blueprint, independent of who is actually coaching the club, too often gets underappreciated.
November 30, 2009
Braga are tilting the balance of power in Portugal
Gabriele Marcotti
How many chief executives of clubs in the Barclays Premier League can you name? Half a dozen? We spend most of our time talking about players and managers, and yet there is plenty of evidence that a well-run club with a strong medium-term plan can succeed regardless of who goes out on the pitch and who sits on the bench.
Consider the case of Braga. They are one point behind Benfica in the Portuguese league with a game in hand — they host mid-table União Leiria tonight. They are also one of the surprise packages in European football.
Braga have conceded only five league goals all season, far and away the best defensive performance in any leading European league. What’s more, they have beaten up on the traditional powers of Portuguese football, defeating Porto, Sporting and Benfica.
All this from a club with only one domestic honour in their trophy cabinet, the Portuguese Cup they won more than 40 years ago, and who have never finished higher than fourth.
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Are outbursts by international coaches acceptable?
Beckham is no Beckenbauer in diplomacy stakes
To be fair, Braga have been in the top five in all but one of the past six seasons. And they won the Intertoto Cup last year (no laughing at the back, please). The success is usually credited to Jesualdo Ferreira, who arrived to coach the club in the summer of 2003 and departed for Porto three years later.
Ferreira is no doubt an expert coach, but surely his presence nearly four years ago cannot explain why they continue to impress. Especially because, after Ferreira’s departure, Braga have had no fewer than six coaches in 3½ seasons. The latest is Domingos, a former Porto striker who took over in the summer.
So if the success is not down to managerial genius or stability, what is it? Big-money signings? Hardly. Braga are very much a selling club. Year on year their better players leave; last season was the turn of Nuno Frechaut, the defender, who joined Metz, and César Peixoto, the attacking midfield player, who moved to Benfica. And they are generally replaced by players who cost nothing, whether free transfers or loans.
Even then, of this year’s newcomers, only Hugo Viana, the former Newcastle United midfield player who arrived on loan from Valencia, has made an impact.
Nor is it a case of Braga having a stellar academy. The only home-grown player who is a regular is the goalkeeper, Eduardo, who recently became first-choice for Portugal as well.
The bulk of the starting XI is made up of Brazilians who have bounced around a number of Portuguese clubs, such as Alan, Evaldo and Paulo César. Six of the regulars are aged 29 or over, so there is no shortage of experience.
But, beyond that, it’s hard to find a pattern to explain this success. Unless you turn to the one constant at the club: António Salvador, their wheeler-dealer president.
Salvador negotiates most deals personally, whether it’s securing a stadium sponsorship deal or acquiring a player from another club for a pittance. In a league that mirrors the Clydesdale Bank Premier League in terms of predictability — the “big three” of Porto, Benfica and Sporting have won all but two titles since it was set up in 1934 — Braga have become an alternative to the established elite.
And perhaps their success should not be that surprising. By not handing absolute power to a coach, Salvador is ensuring some level of continuity and long-term planning.
He does not run the risk of his coach looking for a “quick fix” — swapping longer-term building for short-term results — in order to save his job. And if his coach is poached by a bigger club, as happened with Ferreira and Jorge Jesus, who left to join Benfica last summer, the framework is in place to weather the storm.
Of course, this is not a one-size-fits-all policy of success. If you have an Arsène Wenger or a Sir Alex Ferguson at your disposal, it makes sense to give them control. And, even if you don’t, it is generally wise to defer footballing decisions to your coach.
Yet the Braga case suggests that money and coaches — two supposedly indispensable building blocks — may not be as crucial to success as we may think. Equally, the importance of strong leadership at club level and a clear long-term blueprint, independent of who is actually coaching the club, too often gets underappreciated.
Publicada por
Hugo Sá Pinto
às
23:31
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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Assistência sanitária, políticos e consciência católica
Aparece um novo acontecimento preocupante na política americana
Por Carl Anderson
NEW HAVEN, Connecticut, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009 (ZENIT.org).- Durante décadas, os americanos foram submetidos aos argumentos de alguns políticos católicos que argumentavam que, ainda que se “opusessem pessoalmente” a políticas injustas como o aborto, não estavam dispostos a “impor” este ponto de vista ao resto do país.
O argumento era falso; partia da base de que, de fato, de alguma maneira, uma consciência “católica” deveria ser deixada de lado no espaço público.
Agora, as próprias pessoas que argumentaram que não podiam levar sua consciência privada ao espaço público leigo, estão preparadas para usar a lei para impor um particular ponto de vista aos seus companheiros católicos.
Mediante o trabalho e o voto para incluir a cobertura de abortos na legislação da assistência sanitária, vários políticos católicos se encontram no precipício de ser os votos decisivos para impor um ponto de vista específico aos seus companheiros católicos, obrigando-os a financiar abortos através dos seus impostos.
Enquanto professam que não podem impor sua consciência a ninguém, esses políticos parecem ter poucas dúvidas na hora de impor um ponto de vista político – ao qual eles alegavam opor-se inicialmente – às consciências dos seus companheiros católicos.
Longe de Kennedy
Os políticos católicos dispostos a renunciar às suas próprias consciências e a impor aos demais um ponto de vista diretamente anticatólico, vêm de um longo caminho, desde o legado do estadista católico de mais alto perfil da história americana, o presidente John F. Kennedy, quem, ao analisar sua função como católico e candidato à presidência, disse: “Se chegar o momento – e não vejo problema em que chegue o mais remotamente possível – em que meu cargo me exigir violar minha consciência ou violar o interesse nacional, então eu renunciaria ao meu cargo, e espero que qualquer servidor público faça o mesmo”.
E ainda que alguns pudessem considerar que os políticos católicos discreparam das recomendações sobre políticas públicas dos seus bispos em várias áreas, a chave é esta: muitas questões são prudenciais e estão abertas a uma discrepância razoável; mas o direito inalienável à vida no contexto do aborto não é, é fundamental e não pode se ver comprometido.
Como o cardeal Joseph Ratzinger – agora Bento XVI – destacou sobre os políticos católicos em 2004, “nem todas as questões morais têm o mesmo peso moral que o aborto”.
E acrescentou: “Ainda que a Igreja exorte as autoridades civis a buscarem a paz, não a guerra, e a ter discrição e misericórdia ao impor penas aos criminosos, poderia ser admissível usar as armas para repelir um agressor ou recorrer à pena capital. Pode haver uma legítima diversidade de opiniões entre os católicos com relação à guerra e a aplicação da pena de morte, mas não, ao contrário, com relação ao aborto”.
Lei injusta
Os políticos católicos devem agora considerar o efeito da legislação nacional que ordena a colaboração católica no aborto. Em sua famosa encíclica pró-vida Evangelium vitae, o Papa João Paulo II disse: “A introdução de legislações injustas põe frequentemente os homens moralmente retos frente a difíceis problemas de consciência em matéria de colaboração, por causa da imperiosa afirmação do próprio direito de não ser obrigado a participar em ações moralmente más”.
Além disso, disse: “Os cristãos, como todos os homens de boa vontade, são chamados, sob grave dever de consciência, a não prestar a sua colaboração formal em ações que, apesar de admitidas pela legislação civil, estão em contraste com a lei de Deus. Na verdade, do ponto de vista moral, nunca é lícito cooperar formalmente no mal”.
“Tal cooperação nunca pode ser justificada invocando o respeito da liberdade alheia, nem apoiando-se no fato de que a lei civil a prevê e requer: com efeito, nos atos cumpridos pessoalmente por cada um, existe uma responsabilidade moral, à qual ninguém poderá jamais subtrair-se e sobre a qual cada um será julgado pelo próprio Deus.”
É uma dupla ironia que uma lei que obrigaria milhões de pessoas a violarem suas consciências mediante o pagamento dos seus impostos, e complicaria muitos médicos, enfermeiras, hospitais e organizações beneficentes católicas, esteja sendo considerada precisamente em um momento no qual a maioria dos americanos – em número sempre crescente – está se tornando cada vez mais pró-vida.
Os funcionários de Washington podem evitar que esta tragédia moral ocorra. Não deveriam hesitar em fazê-lo.
* * *
Carl Anderson é o cavaleiro supremo dos Cavaleiros de Colombo e autor de New York Times.
Por Carl Anderson
NEW HAVEN, Connecticut, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009 (ZENIT.org).- Durante décadas, os americanos foram submetidos aos argumentos de alguns políticos católicos que argumentavam que, ainda que se “opusessem pessoalmente” a políticas injustas como o aborto, não estavam dispostos a “impor” este ponto de vista ao resto do país.
O argumento era falso; partia da base de que, de fato, de alguma maneira, uma consciência “católica” deveria ser deixada de lado no espaço público.
Agora, as próprias pessoas que argumentaram que não podiam levar sua consciência privada ao espaço público leigo, estão preparadas para usar a lei para impor um particular ponto de vista aos seus companheiros católicos.
Mediante o trabalho e o voto para incluir a cobertura de abortos na legislação da assistência sanitária, vários políticos católicos se encontram no precipício de ser os votos decisivos para impor um ponto de vista específico aos seus companheiros católicos, obrigando-os a financiar abortos através dos seus impostos.
Enquanto professam que não podem impor sua consciência a ninguém, esses políticos parecem ter poucas dúvidas na hora de impor um ponto de vista político – ao qual eles alegavam opor-se inicialmente – às consciências dos seus companheiros católicos.
Longe de Kennedy
Os políticos católicos dispostos a renunciar às suas próprias consciências e a impor aos demais um ponto de vista diretamente anticatólico, vêm de um longo caminho, desde o legado do estadista católico de mais alto perfil da história americana, o presidente John F. Kennedy, quem, ao analisar sua função como católico e candidato à presidência, disse: “Se chegar o momento – e não vejo problema em que chegue o mais remotamente possível – em que meu cargo me exigir violar minha consciência ou violar o interesse nacional, então eu renunciaria ao meu cargo, e espero que qualquer servidor público faça o mesmo”.
E ainda que alguns pudessem considerar que os políticos católicos discreparam das recomendações sobre políticas públicas dos seus bispos em várias áreas, a chave é esta: muitas questões são prudenciais e estão abertas a uma discrepância razoável; mas o direito inalienável à vida no contexto do aborto não é, é fundamental e não pode se ver comprometido.
Como o cardeal Joseph Ratzinger – agora Bento XVI – destacou sobre os políticos católicos em 2004, “nem todas as questões morais têm o mesmo peso moral que o aborto”.
E acrescentou: “Ainda que a Igreja exorte as autoridades civis a buscarem a paz, não a guerra, e a ter discrição e misericórdia ao impor penas aos criminosos, poderia ser admissível usar as armas para repelir um agressor ou recorrer à pena capital. Pode haver uma legítima diversidade de opiniões entre os católicos com relação à guerra e a aplicação da pena de morte, mas não, ao contrário, com relação ao aborto”.
Lei injusta
Os políticos católicos devem agora considerar o efeito da legislação nacional que ordena a colaboração católica no aborto. Em sua famosa encíclica pró-vida Evangelium vitae, o Papa João Paulo II disse: “A introdução de legislações injustas põe frequentemente os homens moralmente retos frente a difíceis problemas de consciência em matéria de colaboração, por causa da imperiosa afirmação do próprio direito de não ser obrigado a participar em ações moralmente más”.
Além disso, disse: “Os cristãos, como todos os homens de boa vontade, são chamados, sob grave dever de consciência, a não prestar a sua colaboração formal em ações que, apesar de admitidas pela legislação civil, estão em contraste com a lei de Deus. Na verdade, do ponto de vista moral, nunca é lícito cooperar formalmente no mal”.
“Tal cooperação nunca pode ser justificada invocando o respeito da liberdade alheia, nem apoiando-se no fato de que a lei civil a prevê e requer: com efeito, nos atos cumpridos pessoalmente por cada um, existe uma responsabilidade moral, à qual ninguém poderá jamais subtrair-se e sobre a qual cada um será julgado pelo próprio Deus.”
É uma dupla ironia que uma lei que obrigaria milhões de pessoas a violarem suas consciências mediante o pagamento dos seus impostos, e complicaria muitos médicos, enfermeiras, hospitais e organizações beneficentes católicas, esteja sendo considerada precisamente em um momento no qual a maioria dos americanos – em número sempre crescente – está se tornando cada vez mais pró-vida.
Os funcionários de Washington podem evitar que esta tragédia moral ocorra. Não deveriam hesitar em fazê-lo.
* * *
Carl Anderson é o cavaleiro supremo dos Cavaleiros de Colombo e autor de New York Times.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Obama sabe que não é comparavel a Mandela ou a Madre Teresa
"O presidente compreende e sabe que não está ao mesmo nível que Nelson Mandela e Madre Teresa", afirmou Robert Gibbs quando questionado sobre a contradição entre o Nobel da Paz, que Obama vai receber formalmente na quinta-feira em Oslo, e o anúncio do envio de um reforço de 30.000 soldados dos Estados Unidos para combaterem no Afeganistão.
De acordo com o porta-voz, na comunicação que proferirá na capital norueguesa como laureado com o Nobel da Paz, Obama "irá evidentemente falar do facto de que na semana passada autorizou um reforço de 30.000 efectivos no Afeganistão e que esta semana vai aceitar um prémio dedicado à paz".
"Mas penso que o presidente está orgulhoso das medidas que a sua administração adoptou para estender a mão ao mundo", disse Robert Gibbs, considerando que essa atitude significa "promover a paz e a estabilidade no planeta".
Para Robert Gibbs , o presidente norte-americano "está orgulhoso de que o comité (Nobel) tenha reconhecido que o país (Estados Unidos) se levantou de novo para estender a mão ao mundo".
por Lusa
De acordo com o porta-voz, na comunicação que proferirá na capital norueguesa como laureado com o Nobel da Paz, Obama "irá evidentemente falar do facto de que na semana passada autorizou um reforço de 30.000 efectivos no Afeganistão e que esta semana vai aceitar um prémio dedicado à paz".
"Mas penso que o presidente está orgulhoso das medidas que a sua administração adoptou para estender a mão ao mundo", disse Robert Gibbs, considerando que essa atitude significa "promover a paz e a estabilidade no planeta".
Para Robert Gibbs , o presidente norte-americano "está orgulhoso de que o comité (Nobel) tenha reconhecido que o país (Estados Unidos) se levantou de novo para estender a mão ao mundo".
por Lusa
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Palhaços ricos e palhaços pobres
Enquanto os palhaços ricos se divertem, nós, os palhaços pobres, desesperamos.
Publicada por
Rui Moreira
às
20:33
7
comentários
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"Liberdade e disciplina"
Adam Smith observou que a liberdade de empreendimento e a concorrência geram uma disciplina severa - quando comparada com a indisciplina gerada pela tutela estatal. Quando os preços são livres, não são arbitrários e, em regra, tendem a descer. Quando não são livres, tendem a ser arbitrários e, em regra, subir
"Eu não posso aumentar os preços, porque a Sonae não me deixa. E a Sonae não pode aumentar os preços porque a Jerónimo Martins não deixa." Este foi o comentário [cito de memória] proferido na semana passada pelo presidente da Jerónimo Martins, Alexandre Soares dos Santos, a propósito das previsões sobre o inevitável aumento dos impostos em 2011.
Estas breves palavras exprimem uma verdade dominantemente ignorada entre nós, apesar de ter sido observada por Adam Smith em 1776: que a liberdade de empreendimento e a concorrência geram uma disciplina severa - sobretudo quando comparada com a severa indisciplina gerada pela tutela estatal.
DOIS CONCEITOS A chave daquela disciplina gerada pela concorrência foi revelada por Alexandre Soares dos Santos em menos de um minuto: a Sonae não o deixa aumentar os preços e a Jerónimo Martins não deixa a Sonae aumentar os preços. Mas é muito importante compreender o significado da expressão "não deixa", porque é muito diferente do sentido que frequentemente tem entre nós. Por exemplo, é muito diferente da expressão "o Governo não deixa baixar os impostos".
Na expressão "o Governo não deixa", referimo-nos a uma decisão particular tomada por alguém: um ministro, um secretário de Estado, eventualmente uma decisão tomada em conselho de ministros ou até pelo Parlamento. Trata-se de uma decisão tomada por desígnio, para usar a terminologia de Friedrich A. Hayek. Alguém estabeleceu um "preço" para os impostos e tomou a decisão de impor esse preço.
LIVRE E NÃO ARBITRÁRIO Mas no caso da Sonae e da Jerónimo Martins ninguém tem realmente o poder de decidir ou impor o preço. É isso que queremos dizer com a expressão "os preços são livres": cada empresa é livre de estabelecer o seu preço.
O ponto realmente interessante vem a seguir. Sendo cada um livre de estabelecer o seu preço, ninguém "é livre" de o impor a terceiros, isto é, aos consumidores. Estes é que são livres de escolher o local onde vão comprar os produtos. E, se os preços forem mais altos num local, o consumidor escolherá outro vendedor, onde o preço é mais baixo (para qualidade igual).
MILAGRE DO MERCADO Desta interacção nasce o milagre da economia de mercado: a interacção entre actores livres gera uma disciplina severa entre produtores ou vendedores. Essa disciplina não resulta da decisão singular de ninguém. Precisamente por essa razão, porque não resulta da decisão singular de ninguém, mas da interacção entre decisões livres de todos, a resultante é uma severa disciplina que coloca produtores e vendedores ao serviço dos consumidores.
Por essa razão, dizemos que os preços da Sonae e da Jerónimo Martins são livres. Mas, precisamente por essa razão, porque são livres e não são centralmente fixados por ninguém, estão submetidos a uma disciplina impessoal mil vezes mais severa do que a disciplina a que estão submetidos os impostos. Por outras palavras, quando os preços são livres, não são arbitrários e, em regra, tendem a descer. Quando não são livres, tendem a ser arbitrários e, em regra, a subir.
REGRA DE OURO Esta regra de ouro da economia de mercado pode ser observada em experiências muito simples. Todos sabemos que os preços de produtos fornecidos pelo sector privado em regime de concorrência tendem a baixar de geração em geração. Computadores, frigoríficos, máquinas de lavar ou televisores eram apenas acessíveis a uns poucos, há uma ou duas gerações. Ao longo deste período, tornaram-se cada vez mais acessíveis a um número sempre crescente de pessoas. O preço desses produtos, quando medido em número de horas de trabalho necessário para os adquirir, baixou dramática e ininterruptamente. O mais incrível é que essa descida dos preços foi em regra acompanhada da subida da qualidade. É, repito, o milagre da economia de mercado.
Em contrapartida, olhemos para o que se passa naqueles sectores em que os bens e serviços são fornecidos em regime condicionado ou dominado pelo Estado. A educação é um caso flagrante. A despesa pública neste sector não pára de aumentar, incluindo a despesa por aluno (a qual, sintomaticamente, é mais elevada na escola do Estado do que na escola privada). No entanto, a qualidade desce ou, pelo menos, não sobe.
DEMOCRATIZAÇÃO É frequente explicar este aumento dos custos e descida relativa da qualidade pela chamada "democratização" do acesso à educação. Mas tem de ser observado que essa explicação não corresponde aos factos. Igual, ou maior, democratização tem ocorrido no acesso aos bens e serviços produzidos pelo mercado. No entanto, essa democratização é, no sector de mercado, em regra acompanhada da descida dos preços e da subida da qualidade.
Por que razão tendem os preços a descer e a qualidade a aumentar no sector de mercado e, no sector do Estado, os preços tendem a subir e a qualidade a descer?
PREÇO JUSTO Adam Smith deu uma explicação interessante. Porque, disse ele, em última análise, ninguém sabe qual é o preço justo ou adequado a um bem ou serviço. Ninguém sabe, nem pode saber. O preço resulta de uma variedade de factores e a combinação desses factores vai variando de acordo com a oferta e a procura desse bem ou serviço. Num regime de concorrência aberta, se um preço estiver a ser oferecido a um nível demasiado alto, um novo fornecedor oferecerá um preço mais baixo.
Críticos da economia de mercado observaram que esta é uma representação utópica do mercado, porque supõe que ele funciona em concorrência perfeita. O assunto foi esclarecido por Joseph Schumpeter com o conceito de "destruição criativa". Não é necessária concorrência perfeita, nem sequer a efectiva existência, em cada momento, de um concorrente. Se o mercado for aberto, isto é, se não houver obstáculos artificiais à entrada (usualmente criados por decisões políticas), a ameaça da concorrência é tão ou mais eficiente do que a concorrência realmente existente.
DESTRUIÇÃO CRIATIVA Os produtores e fornecedores sabem que, a qualquer momento, um produto melhor ou mais barato, ou ambos, pode entrar no mercado. Estão por isso submetidos à disciplina da concorrência, ou da ameaça dela. E é ela que permite o milagre da economia de mercado: novos produtos a custos mais baixos estão permanentemente a entrar no mercado e a desalojar velhos produtos e métodos de produzir, substituindo-os por novos, em regra melhores e mais baratos. Eis o que Schumpeter chamou "destruição criativa".
ESCOLHA PÚBLICA James Buchanan, por sua vez, explicou o que acontece aos custos nos sectores que estão protegidos da concorrência, designadamente aos custos do sector público. Estes tendem a subir. A razão pode ser explicada através de uma combinação das observações de Adam Smith e Schumpeter. Se ninguém sabe qual é o preço justo, e se este resulta da concorrência e da "destruição criativa", um sector que não tenha concorrência nem "destruição criativa" vai "descobrir" os preços de outra maneira: pela decisão dos agentes políticos. Mas esta decisão, não estando submetida à disciplina da concorrência, é verdadeiramente indisciplinada. Depende da "vocalidade" de grupos de pressão e da sua capacidade para influenciar a decisão sobre o preço.
James Buchanan e a escola da "Escolha Pública" argumentaram persuasivamente que a lógica dos agentes públicos é a de constantemente aumentar o orçamento dos seus departamentos. Não se trata de perfídia. Trata-se de um comportamento racional, quando não existe uma disciplina impessoal de mercado. É isso que explica, por exemplo, o constante aumento dos custos das escolas estatais. E é esse tipo de aumento que explica o quase constante aumento dos impostos.
por João Carlos Espada, Publicado no "i" a 5 de Dezembro de 2009
Doutorado em Ciência Política em Oxford, João Carlos Espada é director do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa e da revista “Nova Cidadania”. É também Presidente da Churchill Society de Portugal.
"Eu não posso aumentar os preços, porque a Sonae não me deixa. E a Sonae não pode aumentar os preços porque a Jerónimo Martins não deixa." Este foi o comentário [cito de memória] proferido na semana passada pelo presidente da Jerónimo Martins, Alexandre Soares dos Santos, a propósito das previsões sobre o inevitável aumento dos impostos em 2011.
Estas breves palavras exprimem uma verdade dominantemente ignorada entre nós, apesar de ter sido observada por Adam Smith em 1776: que a liberdade de empreendimento e a concorrência geram uma disciplina severa - sobretudo quando comparada com a severa indisciplina gerada pela tutela estatal.
DOIS CONCEITOS A chave daquela disciplina gerada pela concorrência foi revelada por Alexandre Soares dos Santos em menos de um minuto: a Sonae não o deixa aumentar os preços e a Jerónimo Martins não deixa a Sonae aumentar os preços. Mas é muito importante compreender o significado da expressão "não deixa", porque é muito diferente do sentido que frequentemente tem entre nós. Por exemplo, é muito diferente da expressão "o Governo não deixa baixar os impostos".
Na expressão "o Governo não deixa", referimo-nos a uma decisão particular tomada por alguém: um ministro, um secretário de Estado, eventualmente uma decisão tomada em conselho de ministros ou até pelo Parlamento. Trata-se de uma decisão tomada por desígnio, para usar a terminologia de Friedrich A. Hayek. Alguém estabeleceu um "preço" para os impostos e tomou a decisão de impor esse preço.
LIVRE E NÃO ARBITRÁRIO Mas no caso da Sonae e da Jerónimo Martins ninguém tem realmente o poder de decidir ou impor o preço. É isso que queremos dizer com a expressão "os preços são livres": cada empresa é livre de estabelecer o seu preço.
O ponto realmente interessante vem a seguir. Sendo cada um livre de estabelecer o seu preço, ninguém "é livre" de o impor a terceiros, isto é, aos consumidores. Estes é que são livres de escolher o local onde vão comprar os produtos. E, se os preços forem mais altos num local, o consumidor escolherá outro vendedor, onde o preço é mais baixo (para qualidade igual).
MILAGRE DO MERCADO Desta interacção nasce o milagre da economia de mercado: a interacção entre actores livres gera uma disciplina severa entre produtores ou vendedores. Essa disciplina não resulta da decisão singular de ninguém. Precisamente por essa razão, porque não resulta da decisão singular de ninguém, mas da interacção entre decisões livres de todos, a resultante é uma severa disciplina que coloca produtores e vendedores ao serviço dos consumidores.
Por essa razão, dizemos que os preços da Sonae e da Jerónimo Martins são livres. Mas, precisamente por essa razão, porque são livres e não são centralmente fixados por ninguém, estão submetidos a uma disciplina impessoal mil vezes mais severa do que a disciplina a que estão submetidos os impostos. Por outras palavras, quando os preços são livres, não são arbitrários e, em regra, tendem a descer. Quando não são livres, tendem a ser arbitrários e, em regra, a subir.
REGRA DE OURO Esta regra de ouro da economia de mercado pode ser observada em experiências muito simples. Todos sabemos que os preços de produtos fornecidos pelo sector privado em regime de concorrência tendem a baixar de geração em geração. Computadores, frigoríficos, máquinas de lavar ou televisores eram apenas acessíveis a uns poucos, há uma ou duas gerações. Ao longo deste período, tornaram-se cada vez mais acessíveis a um número sempre crescente de pessoas. O preço desses produtos, quando medido em número de horas de trabalho necessário para os adquirir, baixou dramática e ininterruptamente. O mais incrível é que essa descida dos preços foi em regra acompanhada da subida da qualidade. É, repito, o milagre da economia de mercado.
Em contrapartida, olhemos para o que se passa naqueles sectores em que os bens e serviços são fornecidos em regime condicionado ou dominado pelo Estado. A educação é um caso flagrante. A despesa pública neste sector não pára de aumentar, incluindo a despesa por aluno (a qual, sintomaticamente, é mais elevada na escola do Estado do que na escola privada). No entanto, a qualidade desce ou, pelo menos, não sobe.
DEMOCRATIZAÇÃO É frequente explicar este aumento dos custos e descida relativa da qualidade pela chamada "democratização" do acesso à educação. Mas tem de ser observado que essa explicação não corresponde aos factos. Igual, ou maior, democratização tem ocorrido no acesso aos bens e serviços produzidos pelo mercado. No entanto, essa democratização é, no sector de mercado, em regra acompanhada da descida dos preços e da subida da qualidade.
Por que razão tendem os preços a descer e a qualidade a aumentar no sector de mercado e, no sector do Estado, os preços tendem a subir e a qualidade a descer?
PREÇO JUSTO Adam Smith deu uma explicação interessante. Porque, disse ele, em última análise, ninguém sabe qual é o preço justo ou adequado a um bem ou serviço. Ninguém sabe, nem pode saber. O preço resulta de uma variedade de factores e a combinação desses factores vai variando de acordo com a oferta e a procura desse bem ou serviço. Num regime de concorrência aberta, se um preço estiver a ser oferecido a um nível demasiado alto, um novo fornecedor oferecerá um preço mais baixo.
Críticos da economia de mercado observaram que esta é uma representação utópica do mercado, porque supõe que ele funciona em concorrência perfeita. O assunto foi esclarecido por Joseph Schumpeter com o conceito de "destruição criativa". Não é necessária concorrência perfeita, nem sequer a efectiva existência, em cada momento, de um concorrente. Se o mercado for aberto, isto é, se não houver obstáculos artificiais à entrada (usualmente criados por decisões políticas), a ameaça da concorrência é tão ou mais eficiente do que a concorrência realmente existente.
DESTRUIÇÃO CRIATIVA Os produtores e fornecedores sabem que, a qualquer momento, um produto melhor ou mais barato, ou ambos, pode entrar no mercado. Estão por isso submetidos à disciplina da concorrência, ou da ameaça dela. E é ela que permite o milagre da economia de mercado: novos produtos a custos mais baixos estão permanentemente a entrar no mercado e a desalojar velhos produtos e métodos de produzir, substituindo-os por novos, em regra melhores e mais baratos. Eis o que Schumpeter chamou "destruição criativa".
ESCOLHA PÚBLICA James Buchanan, por sua vez, explicou o que acontece aos custos nos sectores que estão protegidos da concorrência, designadamente aos custos do sector público. Estes tendem a subir. A razão pode ser explicada através de uma combinação das observações de Adam Smith e Schumpeter. Se ninguém sabe qual é o preço justo, e se este resulta da concorrência e da "destruição criativa", um sector que não tenha concorrência nem "destruição criativa" vai "descobrir" os preços de outra maneira: pela decisão dos agentes políticos. Mas esta decisão, não estando submetida à disciplina da concorrência, é verdadeiramente indisciplinada. Depende da "vocalidade" de grupos de pressão e da sua capacidade para influenciar a decisão sobre o preço.
James Buchanan e a escola da "Escolha Pública" argumentaram persuasivamente que a lógica dos agentes públicos é a de constantemente aumentar o orçamento dos seus departamentos. Não se trata de perfídia. Trata-se de um comportamento racional, quando não existe uma disciplina impessoal de mercado. É isso que explica, por exemplo, o constante aumento dos custos das escolas estatais. E é esse tipo de aumento que explica o quase constante aumento dos impostos.
por João Carlos Espada, Publicado no "i" a 5 de Dezembro de 2009
Doutorado em Ciência Política em Oxford, João Carlos Espada é director do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa e da revista “Nova Cidadania”. É também Presidente da Churchill Society de Portugal.
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