segunda-feira, 16 de novembro de 2009

CDS e PSD. Mais debates sobre o casamento?

"1.a) Confesso que me faz impressão ouvir católicos e ainda para mais hierarcas advogarem a necessidade de debate sobre absolutos morais ou princípios e valores inegociáveis quando os sectários do “ … comum inimigo do género humano, que sempre se opõe às boas obras para que pereçam … ” (Papa Paulo III), pretendem subverter a Lei Moral Natural e o Direito que dela deriva. É que Jesus Cristo não disse ide e debatei com todas as gentes mas sim Ide e ensinai todas as gentes a observar tudo o que vos prescrevi (cf. Mt. 28, 19-20). Não quero com isto negar a conveniência e a bondade do diálogo com todos, em determinadas circunstâncias, como um dos métodos de proporcionar a compreensão recíproca e suscitar uma abertura sempre maior à Verdade que sempre nos excede.

"b) Desde há muito, seguindo uma estratégia cuidadosamente programada e diligentemente posta em prática, que os ideólogos sodomitas nos têm submetido a uma propaganda avassaladora, umas vezes descarada outras subtil e mesmo subliminar, através de livros, revistas, jornais, telenovelas, séries televisivas, Internet, programas e mesas redondas televisivos e radiofónicos, etc., que têm vindo a predispor os ânimos, em particular as emoções e os sentimentos – que, se viciados, como é o caso, obnubilam o exercício livre da recta razão dificultando gravemente a sua capacidade de apreensão da verdade -, dizia que têm vindo a dispor os ânimos para a aceitação acrítica e benévola dos comportamentos e das “uniões” ou “casamentos” entre sodomitas. Debater e discutir num ambiente assim corrompido e nos lugares em que se promove essa conspurcação, com adversários que não estão de boa-fé e recorrem a argumentos e informações que sabem ser falsas para esconder os verdadeiros objectivos do que pretendem alcançar é dar armas ao inimigo e colocar a cabeça no cepo para que nos acutilem e decapitem (acresce que num debate entre por exemplo um charlatão eloquente e um médico competente mas gago, este perde tendo embora toda a razão). Sou, por isso, de opinião que não se participe, da nossa parte, naqueles circos mediáticos onde não é possível desenvolver um raciocínio, nem passar, com credibilidade, a informação necessária nem dar a formação adequada. Acho também contra producente os debates pelo país fora. Sou de parecer, isso sim, que se organizem, por esse Portugal fora, sessões de formação e de esclarecimento; que os sacerdotes, como aconselhou o Arcebispo de Braga, ensinem nas homilias e em outras circunstâncias convenientes; que se dêem entrevistas com o tempo suficiente para se poder expor qualquer coisa de jeito.

"Quanto à comunicação social da Igreja é evidentemente impensável que se comporta de modo a por em pé de igualdade a injustiça e a Justiça, o mal e o Bem, a mentira e a Verdade porque fazê-lo, como o fez aquando do referendo do aborto, é tomar partido pela injustiça e pela mentira, no sentido em que o pressuposto que subjaz a tais debates ou tempos de antena, ou espaços de opinião, é o relativismo ético e gnoseológico.

"2. A comunicação social tem noticiado que dois partidos políticos o CDS e o PSD estão pensando numa suposta “alternativa” ao “casamento” entre pessoas do mesmo sexo que passaria pela celebração de um “contracto civil” entre pessoas do mesmo sexo. Como se não fosse na prática a mesma coisa só que com um nome diferente.(...) Convém citar algumas partes de um texto oficial do Magistério da Igreja que é muito claro sobre esse assunto: “Se todos os fiéis são obrigados a opor-se ao reconhecimento legal das uniões homossexuais, os políticos católicos são-no de modo especial, na linha da responsabilidade que lhes é própria. … A Igreja ensina que o respeito para com as pessoas homossexuais não pode levar, de modo nenhum, à aprovação do comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das uniões homossexuais. O bem comum exige que as leis reconheçam, favoreçam e protejam a união matrimonial como base da família, célula primária da sociedade. Reconhecer legalmente as uniões homossexuais ou equipará-las ao matrimónio, significaria, não só aprovar um comportamento errado, com a consequência de convertê-lo num modelo para a sociedade actual, mas também ofuscar valores fundamentais que fazem parte do património comum da humanidade. A Igreja não pode abdicar de defender tais valores, para o bem dos homens e de toda a sociedade. … (o) Estado não pode legalizar tais uniões sem faltar ao seu dever de promover e tutelar uma instituição essencial ao bem comum, como é o matrimónio.”"


Nuno Serras Pereira

18 comentários:

Salvador disse...

1- Confesso não entender uma coisa fundamental no meio destas considerações todas: se Deus é Amor e se o comportamento homosexual é "errado", então o Amor entre duas pessoas do mesmo sexo não existe?

Em verdade, em verdade vos digo: existe porque Ele existe.

Mas concordo: pena é que alguma hierarquica não assuma em plenitude o mandamento "ide e ensinai".

2- O Estado é laico e bem. A pessoa humana é igual em dignidade e logo no exercício dos seus direitos civis.

3- O argumento biológico da finalidade da família como cédula da sociedade ( sem ir à questão conceptual do que é familia), completado pela argumentação a favor do celibato sarcedotal erege uma união homosexual com um potencial, ao quadrado, de serviço sarcedotal.

Nuno disse...

Há vários tipos de amores: o Amor de Deus para com as pessoas, o amor entre um homem e uma mulher, o amor duma mãe para um filho, o amor pela humanidade, etc. e tal.

Mas, atenção, para situações diferentes o Estado deve ter respostas diferentes (como é evidente).

A Igreja Católica não aceita homossexuais como seminaristas.

Salvador disse...

Caro Nuno

Gostei do etc e tal.... sim... falamos aqui desse amor etc e tal e que teve o bom senso de nao negar que existe tão puro e verdadeiro como qualquer outro amor.

Tratar o igual de igual forma e o desigual de forma desigual. Não discuto a questão do sacramento mas só do contrato civil. Dar um nome diferente a um casamento gay será só um interessante exercício de hipocrisia... arte que aprecio.. diga-se...e não penso diminuir em nada o estatuto juridico a aprovar.

Quanto as regras temporais de um seminario temporal... acredito que todos somos igreja!

Nuno disse...

Caro Salvador,

em rigor, a Igreja não considera amorosa a relação homossexual:

"2357 A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atracção sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo.

"Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua génese psíquica continua em grande parte por explicar.

"Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (ver Genesis e cartas de S. Paulo) a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados».

"São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados." CIC

(O "etc. e tal" foi indicado para não ser exaustivo...)

Marta Ferreira disse...

Ó Nuno, lidas mal com a homossexualidade... ou com a igualdade? :)

E olha, não achas que a igreja deve opinar sobre o religioso e deixar o Estado opinar sobre o civil?
O Estado não sugere à igreja que aceite casamentos entre pessoas do mesmo sexo, certo? Tal como nunca sugeriu que aceitasse o divócio hetero...

Vá, o seu a seu dono...

Nuno disse...

Ó Marta, não lido mal nem com uma nem com outra. Respeito ambas.

Ao falarmos sobre pessoas, como no casamento e na homossexualidade, a Igreja tem a sua doutrina e o Estado as suas leis. Não têm que ser incompatíveis e é bom que se respeitem.

O Estado não tem que sugerir doutrina à Igreja (era lindo!...).

Marta Ferreira disse...

E não era menos lindo se a igreja deixasse de sugerir doutrina ao Estado... ;)

Nuno disse...

A Igreja respeita o Estado. Mas, actualmente, o Estado (em inúmeras iniciativas) pouco respeita a pessoa (e o casamento e a vida). Por isso é que a Igreja reaje.

Não quero estar a repetir-me, mas há uma frase com 2000 anos, dita pelo criador da Igreja: "Dai a César o que é de César..."

Nuno disse...

Trancrevo parte dum texto do socialista António Barreto, publicada há tempos no Público:

"A questão da legalização das uniões de facto deixa-me absolutamente perplexo. Quando a fúria reformadora ataca, tudo pode acontecer, ainda um dia se permitirá que, por politicamente correcto, um quadrúpede tenha duas patas e os respectivos direitos.

"Tanto quanto sei, as uniões de facto, por opção são aquelas que justamente não aspiram ser legalizadas. «J´ai l´honneur» dizia Brassens, «de ne pas te demander ta main». Isso era dantes. Agora as uniões serão legalizadas, o que, no essencial, as não destingue do casamento.

"A ideia de legalizar, em vez de simplesmente tolerar, tudo o que vive, corresponde a uma espécie de despotismo esclarecido, na convicção de que as pessoas são livres e modernas de acordo com as leis.

"Suspeito que a primeira reacção de muita gente será a de, inevitavelmente, inventarem outro nome para designerem o que são.

"Passaremos a ter uniões de facto nominais e uniões de facto reais. Além disso, na frenética luta pela modernidade, os reformadores terão novas tarefas nas suas agendas:

"O casamento a três. As uniões a quatro. O casamento sob dois tectos. As uniões virtuais, na moda. O cyber-amor, em desenvolvimento. As uniões por correspondência.

"As uniões «on and off». As relações «on-off». E até, por que não, legalizar a mais tradicional de todas as formas de conjugalidade portuguesa, a do casamento burguês com amante e casa montada?

"De facto, a «rapaziada» lançou-os numa rampa que nos poderá conduzir não sei bem onde."

Paulo Novais disse...

Resume de muitas formas o que nos vai na cabeça e o que eu também já aqui disse.
É o faça-se apenas por se fazer, é a moda dos temas chamados fracturantes, é a porra da mania de que aquilo que o país precisa é de resolver a bem ou a mal o problema urgente e inadiável que neste momento apenas afecta uma pequena minoria de cidadãos.
Também são portugueses, são pessoas e têm os seus direitos. Totalmente de acordo. Acho que devem ser debatidas as suas aspirações, aquilo que acham ser os seus direitos e deve-se tentar tomar medidas para ir de encontro aos que pretendem. Mas a seu tempo. Pensado. Devidamente debatido.
Não se façam destes casos batalhas nacionais. Não se esqueçam problemas de centenas de milhar (desemprego), de milhões (a fome, justiça, saúde, educação), enfim, coisas poucas ao pé da permissão do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
CHEGA. Fale-se de coisas que são criticas para os cidadãos. De casos de vida ou morte. De casos de fome e falências.
E legisle-se primeiro melhor para proteger mais e melhor as famílias já legalmente reconhecidas, antes de pensar em permitir reconhecer novas famílias.
E há tanto para fazer. Porque é que ninguém fala dos milhares de crianças à espera para adopção em Portugal, onde ainda demora 5 anos em média para tentar adoptar uma criança? A gravidade disto nas próprias crianças.
E da violência doméstica nas famílias que já existem?
E de dar saúde e trabalho a muitas outras?
Trate-se primeiro das que temos, antes de pensar em criar mais um imbróglio com o casamento de pessoas do mesmo sexo e, logo depois, de rajada, com o quererem também que lhes seja permitida a adopção de crianças.
Casamento de pessoas do mesmo sexo. Não me parece!

Marta Ferreira disse...

Paulo,

Não acho que se trate de temas mais ou menos prioritários. Acho que todos são legítimos e devem ser discutidos e resolvidos rapidamente.Parece-me, contudo, que voltas a querer fazer passar a ideia de que são temas da moda, fracturantes e pouco importantes.

A ti e ao Nuno, dizer-vos o seguinte: parece-me que vocês sonham com um país que não existe e com outro que nunca vai existir. O mundo real é muito diferente dos filmes da Disney e das metáforas bíblicas. Há gays, há abortos, há um conjunto daquilo que vocês consideram "anormalidades". E o futuro será "anormal". Aviso-vos já. :D
Não nos fechemos e isolemos no nosso conservadorismo. Não vivamos apenas a nossa verdade. Sejamos realistas, audazes e visionários. Sejamos abertos e igualitários.

Nuno disse...

Marta, Marta...

...assumir assim a derrota, sem sequer ir à luta?!

Ainda ontem, vi um documentário sobre o Kennedy. É um dos Presidentes mais populares de sempre dos EUA e porquê, se só exerceu durante uns escassos 1000 dias, contra tudo e contra todos?

Porque sonhou e ousou querer ir mais longe. Quis que os americanos arriscassem ir à Lua e foram; declarou-se berlinense contra os comunistas, em plena Guerra Fria em Berlim e o muro veio a cair... Um católico!

Além disso, as liçõezinhas sobre o mundo real metem dó... Mas, bera, bera é conformar-se com um mundo anormal! Não lembra ao chinês!

Para já não falar na contradição flagrante que é aceitar (num mesmo texto) um mundo anormal e querer ser audaz. Onde é que ficamos?

Marta Ferreira disse...

Qual derrota? Não percebi. :P

Ora, falei do "anormal" porque vocês parecem os verdadeiros barómetros da "anormalidade".
É que esses "actos desordenados" ou "depravações graves", como o Nuno caracterizou, são o mundo real. O amor entre pessoas do mesmo sexo existe... e as discriminações persistem.

Não se trata de aceitar o "anormal", como dizes. Quando apelo à vossa audácia, falo da abertura à diversidade (ao diferente), falo da coragem para combater as desigualdades e discriminações.
E a bíblia não é detentora das verdades absolutas...

Quanto ao Kennedy, aí está um modelo de audácia. Ousou ir mais longe. Parece que, embora católico, contrariou a narrativa biblica da Torre de Babel... aquela que ambicionava chegar ao céu e cuja construção foi suspensa por Deus, que temia que os homens não vissem limites para concretizar os seus projectos...

Paulo Novais disse...

Todos os temas são legítimos. Até considerar que amanhã alguém ache natural querer casar com o seu cãozinho. Daí a merecer a importância do resto da sociedade, ao ponto de se sobrepor a problemas GRAVÍSSIMOS que a nação e o mundo atravessam, façam-me lá o favor!
Anormalidades. Ora bem. Aqui estás uma uma caracterização que eu não esperava ouvir-te usar. Até porque me faz lembrar a história do copo do uísque - para o donos da cas está meio cheio, para a visita meio vazio.
Com toda a certeza que se perguntares a alguém que caracterizas-te como sendo "anormal" ou pertencente a esse "futuro anormal" que prevês, te dirá que anormal para ele és tu.
Mas são contas de outro rosário.
Para mim não existe isso de "anormalidades" nem "anormais". Nem sei onde foste buscar essa ideia daquilo que aqui escrevo. Não sei mesmo. Ou será porque penso diferente de ti que achas logo que o que eu penso sobre determinados assuntos são que estes são anormalidades?
Se assim é, aconselho-te a reler bem o que escrevi.
Quanto ao país que não existe nem ao que algum dia vai existir. Minha querida, prefiro mil vezes acreditar e lutar por qualquer um destes do que me render ao país que EU não quero que exista.
Essa é que é essa.

Paulo Novais disse...

Ups! Só mais duas coisitas rápidas de que me esqueci.
Barómetro de quê? Isso dá dinheiro?
E mais importante. Devo considerar isso do barómetro como um elogio ou como um insulto?
Quanto ás metáforas bíblicas não sei. Mas que gosto de filmes da Disney, ai isso gosto.
Mas agora já percebi a tua autoridade na matéria da critica cinematográfica. Percebes do que falas. Se calhar basta olhar para estes últimos 34 anos de governação Mesquita-Socialista e para a Socrates-Socialista para ver que numa estamos talvez a falar de um daqueles filmes antigos da máfia italiana (tipo Al Capone) e noutra de um filme de terror, mas daqueles foleiros de orçamento de ir ao supermercado.

Nuno disse...

«Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas» Lc 10, 41

Quem aceita e avisa que o futuro será “anormal”, desiste de o tornar especial, acolhedor e humano. É uma derrota antecipada de quem não ousa um mundo melhor.

O mundo real não é os actos desordenados e as depravações. É muito mais do que isso (como é claro).

Mas, a questão não é essa.

O que se passa é que nós podemos e devemos intervir e orientar o mundo, temos capacidade para isso. Só que é diferente indicar o que é desordenado e depravado como modelo e dar-lhe força de Lei: isso não faz sentido, é errado!

***

O amor (que amor?) entre as pessoas do mesmo sexo existe…, mas, é fecundo?

***

Eu acho que a Bíblia tem lá a Verdade. Mas não a quero impor.

***

Os Kennedy foram grandes políticos, tanto o John como o Bob. Agora, John Kennedy não contrariou a Bíblia quando “escolheu” ir à Lua – é diferente de atingir o Céu, o Paraíso. Desculpem lá, mas não consigo imaginar o antigo Presidente americano a pensar trocar as voltas a Deus com este projecto espacial…

O messias disse...

http://avenidacentral.blogspot.com/2009/11/evidencias-2.html

Nuno disse...

Por acaso, acho o blog avenidacentral um bocado tendencioso...