É sempre inconfortável escrever contra uma greve.
Vivemos demasiados anos sob uma ditadura, que proibiu qualquer forma de protesto, para nos sentirmos bem a falar contra uma paralisação de trabalhadores, ou a tomar qualquer posição que possa ser interpretada como «fascista», epíteto que por mais absurdo que seja, tem um peso imenso para uma geração que viveu o 25 de Abril.
E, no entanto, crescer emdemocracia implica isso mesmo: o direito, eodever, de denunciar uma greve, quando em consciência se considera que constituiam erro, e até uma manipulação de quem tem outros interesses, ou mesmo um“posto” a defender. Uma greve tem, como principal objectivo, prejudicar um patrão, obrigando-o a ceder. É eficaz, quando aquilo que ele perde, é superior aquilo que ganha se mantiver a postura inicial.
Mas hoje prevê-se que, tal como indicam os números das adesões às últimas greves, a maioria dos grevistas trabalhe para o Estado ou para empresas publicas, e paralise serviços prestados à população. Só que, desta vez, os prejudicados não são os patrões/governantes, a quem pouca diferença faz o caos por um dia, mas aqueles que trabalham no sector privado e assim não conseguem chegar ao emprego, não têm onde deixar os filhos, correm o risco de não receber o dia, e tudo isso contra a sua vontade. Os mesmos que, acrescido a isto, serão depois penalisados nos seus impostos que em lugar de contribuirem para o bem comum, serão utilizados para cobrir os custos desta greve.
Mas, é claro, que uma greve também pode ser uma forma de alerta.
Contudo, como é que se podem exigir simultaneamente coisas tão contraditórias, como protecção acrescida para os mais pobres e fragéis e ao mesmo tempo menos cortes, nomeadamente nos subsídios e na despesa?
Se alguém tem a solução pede-se que a apresente rapidamente, porque não há nenhum português que não vote nela. Senão, talvez a única opção seja mesmo trabalhar e pagar, por muito duro que seja. E claro que é.
24 | Nov | 2011
Isabel Stilwell, editorial@destak.pt
3 comentários:
O bold na ultima frase deixa-me confuso. Será que significa concordância do autor do post com ela?
É que se sim, se temos que trabalhar mais para pagar o que devemos, como se pode defender um governo que diz que temos que empobrecer, nada faz contra o desemprego, vai por o país em recessão?
Abraço
O texto apresentado parece-me pertinente.
Quanto ao Governo... Temos que ter presente que entrou em funções com um pedido de ajuda ao FMI, negociado pelo PS e devido ao endividamento excessivo.
Também convém recordar que o anterior Governo, entre outras habilidades, gastou em 3 ou 4 meses 70% o orçamento de 2011 e deixou os mercados com alergia às nossas contas.
Desemprego, pobreza... são consequência das políticas do PS.
Este esforço do actual Governo, reconhecido internacionalmente, é para conseguir emprego e voltar a ter riqueza. Como diz o texto, de Isabel Stilwell, é duro!
O espantoso boicote a quem quis trabalhar
Aura MiguelRR on-line 25-11-2011
Uma das consequências da liberdade alcançada com o 25 de Abril foi o direito à greve. Assim, desde o 25 de Abril, cada um é livre de aderir à greve ou não aderir. A liberdade é para isso mesmo: para que cada um opte, livremente, pelo quer ou não quer fazer.
Foi o que aconteceu ontem: uns resolveram fazer greve e outros resolveram não fazer greve. Uns e outros estavam no seu direito.
É por isso espantoso que tenha havido grevistas a tentar, por todos os meios, boicotar os que ontem quiseram ir trabalhar.
Ora, 37 anos depois do 25 de Abril, ainda há gente que não percebeu que a liberdade é mesmo para todos, ou seja, que a liberdade pode ser usada também para ir trabalhar em vez de fazer greve.
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