Regressei ontem de Luanda, onde contactei com muitos portugueses e angolanos. No táxi para casa, em Lisboa, o condutor – um informático especializado em programação - confessou-me a sua vontade de ir para lá. “Não hesitaria”. Depois falámos e lamentou, “aqui só tenho trabalhos de outsourcing, por períodos de 6 meses, sem garantias”.
Ironicamente, muitas das pessoas que vi trabalharem em Luanda interiorizaram uma incerteza constante e profunda. Incerteza de segurança, incerteza política, jurídica (os vistos!), afectiva, etc. Muitos dos portugueses não imaginam a que esforço são sujeitos os que trabalham lá fora. Invejamos o dinheiro e o emprego, mas nem sempre aqui estamos disponíveis aos mesmos sacrifícios.
Aqui invocamos direitos e indignação, mas passada a fronteira estamos dispostos a tudo, ou quase tudo, para ganhar a vida e oferecer melhores condições à nossa família. Testemunhei como a vida em Luanda é dura e exigente. Mesmo para aqueles que muito ganham.
Os próximos anos vão ser de grande sacrifício. É preciso que não se eliminem as compensações e os incentivos aos que mais se esforçam e lutam, incluindo na função pública. Na altura de tomar decisões, é neles que devemos ter o olhar. É deles que podemos esperar um País com outro futuro.
por Filipe Anacoreta Correia,
http://cachimbodemagritte.com/
Sem comentários:
Enviar um comentário