"A Europa sempre foi movida por ideologias: esperança de uma renovação radical em que os homens se tornassem todos irmãos. O sonho foi iniciado com o cristianismo, renasceu com os iluministas e foi renovado pelo marxismo. Os comunistas estavam certos de ter dado início ao processo que libertaria o homem de toda a necessidade e de toda a avidez. Hoje essa fé fanática desapareceu, mas com ela também a esperança de uma melhor vida social e espiritual. Do comunismo só resta uma organização de apoio económico mútuo. No mundo católico, alguns perderam o rumo e a alma, e a moralidade laica parece ter desaparecido completamente.
"Que acontece quando se esfumam todos os sonhos de perfeição pessoal e social? Quando o ser humano não aspira a superar o seu egoísmo, a melhorar em termos morais, a criar uma comunidade que premeie o mérito e a virtude? Quando não há ideais, para onde se dirige o impulso humano? Apenas para o poder e para o dinheiro. O poder transforma-se num fim em si próprio. Quem não avança em direcção ao bem avança para o poder. Em todos os campos: política, finanças, magistratura, meio universitário, televisão. Deixa de ter importância o que se faz e como, por haver a ideia de que o poder e o dinheiro permitem corromper as almas.
"Todos os meios passam a ser lícitos para trepar: acordos transversais, chantagens, sociedades secretas, licenças públicas, subornos internacionais.
"A grande e espalhafatosa batalha da política italiana esconde gente que acumula enormes poderes e enormes riquezas.
"Vivemos numa época de cinismo, de avidez, de associações secretas, de bloqueios sectários, de comportamentos não revelados nos jornais e na televisão. São estas as forças que estragam e degradam a luta política porque, quando faltam ideais, só restam um poder contra outro e a mentira. É preciso muita força para resistir, para continuar a agir com rectidão e rigor quando os outros não o fazem. Mas há sempre pessoas corajosas, com ideais e fé, e que desejam dar o exemplo aos jovens. A história demonstra-nos que, a determinada altura, os corruptos acabam por se autodestruir. A ineficácia torna-os mais fracos e, apesar de um certo grau de inércia, os homens revoltam-se, procuram novas orientações e voltam a ter esperança e a construir."
Francesco Alberoni,
publicado no "i" a 3 de Novembro de 2009
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