sexta-feira, 9 de outubro de 2009

E o respeito pelos mais frágeis?

Decisão de uma universidade católica convidar Obama é grave

Arcebispo de Denver acredita que cardeal Cottier “subestimou” o facto

DENVER, quinta-feira, 8 de outubro de 2009 (ZENIT.org).- O arcebispo de Denver, Dom Charles Chaput, acredita que a decisão da Universidade de Notre Dame (Indiana, EUA) de convidar o presidente Barack Obama há alguns meses para uma conferência inaugural foi “grave” e que esta gravidade “foi subestimada”.
O prelado responde a um artigo publicado no mês de julho passado na revista católica 30 Giorni pelo cardeal Georges Cottier, ex-teólogo da Casa Pontifícia.

A resposta de Dom Chaput foi publicada na terça-feira passada no jornal italiano Il Foglio, e o texto foi distribuído na íntegra pela agência americana Catholic News Service.

O artigo do cardeal Cottier, segundo Dom Chaput, minimizou o desacordo expressado publicamente por mais de 80 bispos e 300 mil leigos nas semanas prévias ao discurso do presidente, e elogiou Obama pelo que ele chamou seu “realismo humilde”.

“Lamentavelmente e não intencionalmente, o artigo do cardeal Cottier subestima a gravidade do ocorrido em Notre Dame”, afirma Dom Chaput. “Também supervaloriza a consonância do pensamento do presidente Obama com a doutrina católica”.

O arcebispo, assinalando que fala por si mesmo, e não em nome de todos os bispos norte-americanos, reconheceu que o ensaio do cardeal Cottier “fez uma valiosa contribuição ao debate católico sobre o novo presidente norte-americano”.

“Nossa fé nos une através das fronteiras”, agregou. “O que acontece em um país pode ter um impacto sobre muitos outros. A opinião mundial sobre os líderes dos Estados Unidos não só é conveniente, deve ser bem vinda”.

Ponto de partida

O arcebispo de Denver explicou que o protesto contra a aparição de Obama em Notre Dame tem a ver menos com um ataque pessoal, mas com um desacordo muito real e fundamental com que “os pontos de vista do presidente sobre questões de bioética, inclusive mas não limitando ao aborto, se diferenciam claramente da doutrina católica”.

“Falou-se muito, em alguns círculos religiosos, sobre a simpatia do presidente para com o ensinamento social católico”, explicou o prelado. “Mas a defesa da criança por nascer é uma exigência de justiça social. Não há justiça social se os mais jovens e mais frágeis dentre nós podem ser legalmente assassinados. Os bons programas para os pobres são vitais, mas nunca se pode justificar esta violação fundamental dos direitos humanos”.

Dom Chaput explicou também que o momento e a natureza do convite causou o conflito: “em um momento em que os bispos americanos de forma institucional já haviam expressado uma grande preocupação com as políticas abortistas da nova administração, não só Notre Dame fez do presidente o centro de seus atos de graduação, mas também lhe outorgou um Doutorado de Honra em leis – isso apesar de seus preocupantes pontos de vista sobre o direito ao aborto e as questões sociais relacionadas com ele”.

Mas a “verdadeira fonte de frustração dos católicos”, disse Dom Chaput, era que Notre Dame “ignorou e violou a orientação dos bispos dos Estados Unidos” em um documento de 2004, que “motivava as instituições católicas a que se abstivessem de honrar os funcionários públicos que não estavam de acordo com os ensinamentos da Igreja em assuntos sérios”.

“Portanto, o intenso debate nos círculos católicos norte-americanos sobre a honra conferida pela Notre Dame a Obama no fundo não se referia à política partidarista”, explicou. “Tratava-se de problemas graves para a fé católica, sua identidade e testemunho – desencadeados pelas opiniões do senhor Obama – que o cardeal Cottier, escrevendo fora do contexto norte-americano, pôde ter entendido mal”.

Conexão comum

Dom Chaput se referiu também à conexão que o cardeal Cottier fazia em seu artigo entre “a busca política de um terreno comum declarada com frequência pelo presidente Obama e a ênfase católica na consecução do bem comum”.

“Estes objetivos –a busca de um terreno comum e a atenção ao bem comum– com frequência podem coincidir”, assinalou o arcebispo. “Mas não são a mesma coisa. Podem diferir consideravelmente na prática”.

“As chamadas políticas abortistas de terreno comum podem atentar de fato contra o bem comum porque implicam uma falsa unidade; criam uma linha de acordo compartilhado estreito demais e frágil demais para sustentar o peso de um consenso moral real. Nunca se serve ao bem comum com a tolerância para matar os frágeis – começando com os não-nascidos”.

Por último, o prelado elogiou o cardeal Cottier por recordar “a seus leitores o respeito mútuo e espírito de cooperação requerido pela cidadania em uma democracia pluralista”.

“Mas o pluralismo não é o fim em si mesmo”, assinalou Dom Chaput. “Nunca é uma desculpa para a inação”.

“Como o próprio presidente Obama reconheceu em Notre Dame, a saúde da democracia depende de pessoas com convicção que lutam duro na praça pública pelo que creem – pacificamente, legalmente, mas com vigor e sem desculpas”.

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