Sempre que há eleições autárquicas, a seguir à vitória de Mesquita Machado aparece, invariavelmente, uma teoria imbecil segundo a qual os bracarenses são acéfalos. Em bom português, burros.
Ora, o que eu proponho para o dia de hoje é uma reflexão completamente diferente e bastante menos estúpida.
É, aliás, a reflexão mais dolorosa para quem está na oposição. Mas também pode ser a mais fértil: o que é que Mesquita fez de bom ao longo dos anos para merecer, pela décima vez, a confiança dos bracarenses? Quais as virtudes e os méritos do mesquitismo?
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11 comentários:
O Presidente da Câmara, reeleito inúmeras vezes, beneficia das virtudes da democracia (virtude significa força):
Teve a humildade de ir várias vezes a votos e ganhou sempre. Com isto, que não é pouco, confude-se com a instituição autárquica e representando-a é, aos olhos do público, uma pessoa com o prestígio que a democracia lhe dá.
As pessoas tendem e devem respeitar o poder e isso beneficia os seus titulares.
O Presidente da Câmara também teve o mérito de vencer a oposição. Esta foi algumas vezes pouco credível e recorria frequentemente a protagonistas que tinham sempre de começar tudo de novo. Além disso, a oposição foi muitas vezes à luta dividida (beneficiando assim o PS). Assim, as fraquezas da oposição reforçaram o poder eleito e, em particular, o seu líder.
Mas, como diz o povo: não há mal que sempre dure!
Embora possamos não gostar, mas a politica da toupeira arrasta muitos votos:
1º porque, e não estou a discutir a sua utilidade, mostra obra. O povo gosta sempre de quantidade;
2º porque essa mesma obra tem que ser realizada por alguém, e usando mais uma vez a linguagem do povo, “amor com amor de paga” ( não sei se me fiz entender?) ;)
3º porque, independentemente do estilo, Mesquita é um presidente sempre presente em todas as franjas da sociedade bracarense, sabendo “instituir” o lobby em todas elas;
4º por causa da doutrina movediça da oposição;
5º por causa da inaptidão da oposição em saber analisar e contrariar todos os pontos anteriores.
Dei cinco motivos genéricos que a serem devidamente ramificados em toda sua extensão dariam para escrever uma enciclopédia sobre como conversar o poder numa autarquia. Mas não pelos melhores motivos...
Não foi isso o que fez o Maquievel, quando escreveu "O Princípe"?
Tens toda a razão! E é por essa e por outras que nunca tive empatia pelo Sr.
Ao contrário de Maquiavel jamais escreveria um livro onde expressasse que os fins justificam os meios. Sempre fui apologista que o maior gozo está em chegar ao fim percorrendo o caminho em todo o seu comprimento. Sem atalhos. Mas isto sou eu, que sou um lírico… :)
O Maquiavel não escreveu isso, isso é o que dizem que escreveu. Toda a gente fala do livro de Maquiavel mas poucos se dão ao trabalho de o ler.
O Maquiavel escreveu um tratado político para um governante e falou dos diversos tipos de governo, dos diversos modelos de governantes e das opções que fazem.
Caro anónimo:
Não é o meu caso. Por acaso até li Maquiavel, não obstante as obrigações académicas. Contudo, bem sei que o seu pensamento foi mal interpretado, o que inclusivamente – entre outras histórias e considerações - o seu nome próprio deu origem a um adjectivo.
E eu não citei nada do que ele escreveu. Por isso é precipitado dizer o que disse. Mas, e para que efectivamente tenha um motivo, lembrei-me de repente desta citação de Maquiavel:
“Estou convencido de que é melhor ser impetuoso do que circunspecto, porque a sorte é como a mulher; e, para dominá-la, é necessário bater nela e contrariá-la”
Agora quem quiser que interprete como queira.
A minha memória é que está a acusar a fome devido à hora, mas, e se me der ao trabalho de pegar nas obras, e pode até limitar-se ao " O Príncipe", encontro algo mais "maquiavélico".
Segundo o Prof. Freitas do Amaral:
" Escrito em 1513-14 «O Príncipe» foi oferecido a Lorenzo Medicis, de quem o autor queria obter o favor de um emprego" (!).
"O grande objectivo do livro é aconselhar o Príncipe: e sobretudo aconselhá-lo sobre o modo de adquirir o poder e sobre o modo de o conservar, quando recentemente adquirido.
"Este é o único fim político que Maquiavel toma em conta e considera - conquistar e manter o poder. Tudo o resto é secundário.
"Ele quebra com a tradição greco-latina clássica, na medida em que não situa o Estado perante o Mundo, nem perante o Cosmos, não se preocupando minimamente com a existência de leis eternas e universais ou com qualquer referência ao direit natural, e também na medida em que opta pelo realismo político contra o idealismo ético.
"E quebra com a tradição medieval cristã, na medida em que, além de omitir referências à lei natural, nunca fala em Deus, ignora as limitações morais dos governantes, aconselha muitas vezes a prática de actos imorais."
in "História das ideias políticas", Almedina
Dos pacóvios que se ofenda quem quiser com esta:
Em 2013 Mesquita Machado vai embora!
Não, não foram os bracarenses que decidiram foi Lisboa que DECRETOU!!!
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